O Brasil reinventou o Robin Hood, mas ao contrário. Aqui, o herói não rouba dos ricos para ajudar os pobres. Ele rouba do pobre para dar ao golpista. E fez disso uma arte sofisticada, digitalizada e institucionalizada, aceita por quem deveria nos proteger.
Essa semana deu uma aula prática desse modelo perverso. Um banco entra em liquidação extrajudicial com um rombo bilionário enquanto executivos sorriem em eventos de luxo. Dezenas de bilhões desaparecem e chamam isso de crise. Não é crise, é golpe com crachá.
Enquanto isso, aposentados veem R$ 30, R$ 50, R$ 70 desaparecerem de seus benefícios por associações que nunca pediram, nunca assinaram, nunca ouviram falar. O Estado transforma quem deveria proteger em vítima e quem já tem pouco paga a conta do vigarista.
Ali Babá e seus quarenta ladrões seriam meros aprendizes perto da sofisticação das nossas fraudes. Ouro não se esconde em cavernas, some em holdings no exterior, em títulos criativos ou se camufla como taxa associativa. O Brasil exige pós-doutorado em malandragem. A ficção ficaria em choque diante da realidade.
O mais grave é a naturalidade. Rombo bilionário vira estatística. Desconto indevido vira nota de rodapé. Golpe institucionalizado vira rotina. Até a indignação está sendo roubada. Enquanto não recuperarmos a capacidade de nos indignar, continuaremos vivendo sob o comando desse Robin Hood Reverso, mestre em tirar de quem precisa para dar a quem não tem vergonha.
Quem ficar em silêncio não é apenas espectador, é cúmplice. O país não precisa de heróis fictícios, precisa de gente que recuse o golpe, que diga basta e que faça a diferença. Indignar-se não é opção, é obrigação.

