“Servir ou se servir? 

Editorial
Guaíra, 5 de novembro de 2025 - 08h52

Imagine um país onde o salário dos políticos não fosse um direito automático, mas um bônus por entrega real. Onde cada discurso fosse uma proposta avaliada e cada promessa um contrato com cláusulas de resultado. Nada de pagamento mensal, carro oficial ou verba de gabinete enquanto a cidade está cheia de buracos e escolas com goteira. Nesse lugar, o contracheque seria um espelho: vazio quando as palavras também o fossem.

Nesse país imaginário, talvez as campanhas fossem bem diferentes. Em vez de longos discursos e promessas vagas, haveria mais cuidado com o que se diz e mais compromisso com o que se faz. As palavras deixariam de ser enfeite e ganhariam o peso da responsabilidade. Quem escolhesse seguir na política saberia que o reconhecimento viria não do aplauso, mas do resultado. E cada gesto teria valor apenas se produzisse algum bem real à coletividade.

Os discursos perderiam parte da poesia. Não haveria tanto espaço para “iremos lutar por”, “pretendemos buscar” ou “vamos estudar formas de”. Porque lutar, buscar e estudar não enchem prato nem asfaltam rua. E sem isso, o holerite ficaria em branco.

Muitos talvez desistissem da política, o que não seria de todo ruim. Ficariam os que realmente gostam de ver as coisas acontecerem, os que se alimentam da transformação e não da diária. Os que entendem que servir é verbo, não substantivo.

Por outro lado, talvez a política perdesse um pouco de sua alma. Se tudo fosse medido apenas por resultados concretos, ela correria o risco de virar uma empresa de metas e relatórios. E a política, antes de tudo, é feita de gente, de conversa, de escuta. Nem tudo que importa pode ser contado em números. Como colocar preço no voto consciente, na mediação que evita um conflito ou na decisão que impede uma injustiça antes que ela aconteça?

Ainda assim, é tentador imaginar políticos pagos por entrega, como pedreiros da democracia. Cada tijolo assentado, cada muro derrubado, cada janela aberta para o futuro rendendo não apenas alguns trocados, mas um pouco de respeito.

No fim, talvez o problema nunca tenha sido o quanto ganham, e sim o quanto devolvem.


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