Enquanto a história proclama o fim do período colonial no Brasil com a chegada da República, é difícil não questionar se, de fato, saímos da sombra do passado monárquico ou se estamos apenas testemunhando uma mudança de figurino nos bastidores do espetáculo nacional. A nobreza e seus privilégios podem ter perdido seus títulos pomposos, mas a tradição de distribuir benesses a duques e amigos da corte persiste, agora sob novos epítetos.
Os “Quintos dos Infernos”, outrora os 20% de impostos arrancados pela coroa, agora parecem suscitar uma nostalgia amarga em meio aos brasileiros. Hoje, vivemos sob a sombra da “Metade dos Infernos”, uma carga tributária que recai pesadamente sobre os ombros do trabalhador, sustentando uma estrutura que se assemelha a um espetáculo de marionetes regido por interesses questionáveis.
A ironia é palpável quando percebemos que os protagonistas desta nova narrativa não são realeza, mas sim titulares de cargos públicos e seus comparsas. Mudaram-se os títulos, mas a essência perdura. Se antes tínhamos duques e amigos da corte, agora temos políticos e empresários que parecem ter herdado o manual de como usufruir das regalias do poder.
A sociedade que outrora se rebelou contra os excessos do sistema colonial agora se encontra presa em uma teia de complacência. Os meieiros modernos, sobrecarregados por uma tributação sufocante, assistem impotentes enquanto o dinheiro público é esbanjado em festas suntuosas e privilégios desnecessários.
É lamentável perceber que, mesmo em pleno século XXI, pouco se fez para conter a farra com o dinheiro público. A tão alardeada democracia parece ser apenas uma roupagem nova para as práticas arcaicas de favorecimento e desperdício. Enquanto as estruturas coloniais foram derrubadas, seus resquícios persistem, corroendo os alicerces da prometida república.
O Brasil, cuja independência foi conquistada a duras penas, merece mais do que um espetáculo de fachada. É hora de questionar, de exigir transparência e responsabilidade. A Metade dos Infernos, em sua insaciável voracidade, não pode ser o destino inexorável do trabalhador brasileiro. Que esta reflexão sirva como um chamado à mudança, pois a verdadeira independência só será conquistada quando nos livrarmos das correntes que prendem nosso presente aos fantasmas do passado. Enquanto a mudança não chega, tudo continuara a ir para “o meio dos infernos”.