Vivemos tempos em que reclamar parece ter se tornado uma arte cotidiana. Redes sociais, conversas de elevador, grupos de mensagens: em todos os cantos, as queixas surgem rápidas, muitas vezes inflamadas, mas raramente fundamentadas. O problema não é reclamar. O problema é reclamar superficialmente.
Uma reclamação superficial se limita à emoção do momento, ao incômodo imediato, sem explorar causas ou soluções. É a crítica que aponta o dedo, mas não oferece caminhos; que se contenta em expor o desconforto, mas não se dá ao trabalho de entender a raiz do problema. Reclamar assim é como gritar para a tempestade, esperando que ela mude de rumo simplesmente com o som da voz.
Talvez por isso, tantas queixas soem tão vazias: há quem se coloque como lâmpada, reclamando por não brilhar sozinho, e há quem se comporte como poste, apontando falhas externas sem perceber que precisa sustentar a própria luz. A diferença é simples, mas fundamental: o poste dá base, a lâmpada ilumina, mas ambos dependem um do outro para que a cidade se mantenha acesa.
O efeito dessa superficialidade é sutil, mas devastador. Quem reclama assim repete o ciclo de frustração, e quem ouve, cansado, aprende a ignorar. A consequência é uma sociedade que se queixa mais do que age, que critica mais do que constrói, que se frustra com problemas que poderiam ser resolvidos com atenção, análise e responsabilidade.
O antídoto é simples e desafiador: profundidade e responsabilidade. Antes de reclamar, é preciso compreender. Antes de apontar problemas, é preciso refletir sobre soluções. E, sobretudo, é preciso assumir a própria parcela de responsabilidade no que nos incomoda. Uma reclamação fundamentada, ponderada e construtiva não apenas expressa insatisfação, mas abre caminho para mudanças reais.
Em um mundo em que tudo corre rápido demais, é tentador soltar o desabafo imediato. Mas é hora de lembrar que reclamar de forma superficial é como tentar atravessar um rio olhando apenas para a superfície: a correnteza continua, indiferente à nossa insatisfação. Que nossas críticas deixem de ser apenas ruído e se tornem instrumentos de transformação.