Entrevista da Semana

Geral
Guaíra, 27 de agosto de 2017 - 09h29

Paulo Sérgio da Silva

Paulo Sérgio da Silva – o Paulo da Guarda – fala hoje aos nossos assinantes da sua paixão pela família, pela nossa cidade, pela Guarda Municipal e pelos animais. O nosso Comandante da GCM tem 53 anos, é casado com Rosangela, com quem tem dois filhos: Gabriel, com 17 anos e Paulo, com 13 anos.

 

Qual a sua escolaridade?

Quando eu era adolescente, fiz Colégio Agrícola, em Jaboticabal. Em 1985 comecei a trabalhar na Fazenda Sabará, do Zé Mendonça, com cana-de-açúcar. Quando estava lá, ouvi que haveria um concurso para a formação da Guarda Municipal. Fiz a prova, entrei e nunca mais saí.  Em 1993, fiz um curso de Técnico de Segurança do trabalho e em 2010, entrei na UNIFRAN e cursei Direito.

 

E esse amor pela farda azul-marinho?

Entrei na Guarda e já são 30 anos que venho caminhando… Entrei na GCM e ela entrou na minha vida. Tenho muita gratidão pela Corporação. Tudo o que tenho foi conquistado graças ao trabalho desenvolvido com muito esforço e dedicação. O começo de tudo foi difícil, porque eu era uma pessoa que só trabalhava na parte agrícola, com boias-frias e de repente mudei completamente de profissão… Fui tratar com policiamento! Não é fácil mexer com o ser humano, mas com o tempo vamos adquirindo experiência, conhecendo as pessoas, percebendo que cada um tem a sua dificuldade e o nosso serviço é exatamente tentar entender todas essas adversidades.

 

A população admira a Guarda Municipal?

Muito! A população respeita a Guarda porque eles entendem que estamos aí trabalhando, ajudando, auxiliando, então, sinto que há uma consideração enorme. Às vezes, até anormal, porque em muitas ocasiões, chegamos em algum local e o tratamento para conosco é sempre cordial, amistoso. São 30 anos de serviços prestados à comunidade.

 

Então você está prestes a se aposentar?

Na verdade, quem exerce serviço perigoso, insalubre, se aposenta com 25 anos de serviço. Porém, acontece que a Constituição de 1988 deixou uma brecha para o Governo regulamentar, mas este nunca o fez e quem quiser se aposentar tem que entrar na Justiça.

 

Nos conte um fato marcante?!

Uma vez chegou uma adolescente na Guarda, portadora de deficiência, se queixando que alguém tinha abusado sexualmente dela. Na hora, pelo comportamento apresentado por ela, não acreditei muito no seu relato, mesmo porque ao mesmo tempo em que ela conversava conosco, ela corria por ali, beijava um, abraçava o outro… Logo depois, ela conversou com um soldado chamado Portugal e este a levou na delegacia, registrou a ocorrência e aquele episódio ficou na minha consciência. Fiquei pensando que deveria ter dado mais credibilidade para a garota. E agora era ponto de honra para mim. Eu deveria encontrar o tal rapaz que havia fugido. Fiquei o dia inteiro procurando por ele. Consegui localizá-lo na porta do consultório de um Advogado. Nós acabamos por detê-lo, eu e o Fernandes, e isso ficou marcado porque era o dia da criança (12 de outubro). Levamos o homem para a delegacia, todos os procedimentos foram efetuados e o juiz já havia decretado a prisão preventiva dele… Era o padrasto dela e se não me engano, ficou 8 anos preso.

 

Essa fato nos faz relembrar de um tema muito polêmico: a agressão contra as mulheres.

Até alguns anos atrás, a mulher ficava muito resguardada. Hoje ela tem a Delegacia da Mulher, tem o 0800 e já não se sujeita muito mais às agressões, ela denuncia. Geralmente o agressor e o abusador são pessoas bem próximas a ela. Antes a família segurava mais a violência doméstica, hoje não!

 

Nos relate um fato pitoresco?!

Teve um dia em que estávamos em patrulhamento e recebemos uma ligação que estava em andamento um furto na Fazenda Invernadinha. Fomos em duas viaturas, uma da Polícia Militar e a nossa. Quando chegamos no trevo das Antas avistamos uma perua, cheia de gente. A viatura não parou por causa da urgência da ocorrência e acabamos colidindo. As pessoas que estavam na perua desceram rápidas, viram as viaturas e acharam que a polícia tinha chegado depressa demais no local do ocorrido. Ninguém se feriu, foi apenas danos materiais e quando chegamos na Fazenda não havia nenhum furto, apenas o casal tinha se desentendido e a esposa chamou a polícia.

 

A guarda continua atendendo as ocorrências com animais, incêndios e desavenças?

Continua! Isto nunca para! Como não temos Corpo de Bombeiros, se temos um incêndio, a pessoa liga no 190, a ligação cai em Ribeirão Preto, que liga, por sua vez, no Corpo de Bombeiros de Barretos, que liga para nós. Com relação aos animais é a mesma coisa. A pessoa liga no Corpo de Bombeiros ou na Polícia Ambiental que acaba ligando para nós. É sempre assim. Inclusive, para se receber um animal no nosso Zoológico, só se faz perante um documento nosso. Ainda tem animaizinhos em cativeiro, com história de maus tratos que a pessoa liga na Guarda e damos toda cobertura. Outro dia mesmo, a família se mudou e deixou 12 jabutis na casa. Quando foram resgatadas elas estavam com tanta fome que vinham comer a ponta da bota. Foram encaminhadas para o Zoológico. Mais recentemente, foi caso de um tucano, bravo, estressado, com as asas cortadas que nos foi entregue e também foi direcionado para o zoológico. As pessoas compram essas tartaruguinhas, ou recolhem esses animais exóticos das matas e depois eles crescem fazem sujeiras e o dono não os querem mais. Aí somos chamados e direcionamos para o lugar certo. Há muitos cachorros abandonados… Por exemplo, quando se caminha no lago, há sempre alguns que acompanham a gente, se percebe que querem ser adotados.

 

Foi difícil fazer faculdade depois de adulto?

Não. Sempre gostei de estudar. Fiz vestibular e passei, era o mais velho da minha sala. Começamos em 80 alunos na sala de aula e terminamos com 35 alunos. O que senti foi que o meu estudo na escola pública me valeu demais, não sentia dificuldade nenhuma, o que eu aprendi na Escola Zezinho Portugal e na escola Agrícola foram de grande valia. Foram 5 anos de luta e quando leio as dificuldades que os universitários passam com a quebra de ônibus, com atrasos para entrega de trabalhos, de provas, me lembro que passei por tudo isso (risos).

 

Como é ser comandante da Guarda Municipal?

Quando entrei, os guardas eram classificados de acordo com as notas. Éramos classificados em primeira, segunda e terceira classe, de acordo com a nota. Peguei a primeira classe, passei em primeiro lugar e durante 18 anos fiquei como subcomandante. Os comandantes que passaram por aqui, Dr. José Alberto Rodrigues, Capitão Cecílio, Coronel Mendonça, Dr. Edson Guilhem, sempre os auxiliei, aí tive uma oportunidade e fiquei como Comandante. Tenho 25 homens sob o meu comando mais 55 vigias, que auxilio e  interinamente, faço as escalas.

 

A violência chegou em Guaíra?

Ah chegou sim… Antes pensava-se que era uma ocorrência somente em cidades grandes, hoje se vê que não é bem assim. Ela está em qualquer local. O grande problema hoje são as drogas. Aqui em Guaíra ela cresce demais. É uma das cidades da região que mais se faz apreensão de drogas. A gente percebe que se acaba com um ponto de drogas, logo começa outro e assim por diante. Este pessoal acha que é uma maneira fácil de ganhar dinheiro. Mas, pode-se perceber que nunca se ouviu dizer que um traficante se aposentou. Nem o Pablo Escobar, que tinha até as torneiras da casa dele revestidas de ouro, não se aposentou, morreu nas mãos da polícia. Para estas pessoas existem duas opções: ou o cemitério ou a cadeia. Outra coisa é a participação da comunidade. Hoje ela tem apoiado, as mães, os vizinhos, ligam, pedem a nossa ajuda, não querem bagunça na sua porta, no seu bairro. A participação da população é vital para todos nós.

 

Um ídolo?!

Na verdade sou meio fã do Nelson Mandela. Uma pessoa que passou metade de sua vida preso, sem ter cometido nenhum crime, lutou, conseguiu sair e ainda foi presidente do seu país. Ele só queria a liberdade dele e do seu povo e foi preso por isso. Um grande homem!

 

Família

A família da gente é sempre nosso Porto Seguro. Eu tenho um senso de responsabilidade, de compromisso muito grande, se uma pessoa me liga, tento resolver, se não é comigo procuro ajudar, tenho compromisso com a população, tenho familiares na Polícia Civil, na Militar, tenho orgulho da minha Farda. Sei que não é fácil para a família, pois tenho escalas que entram pelos Natais, Ano novo, Aniversários e se estamos de serviço temos respeitar o nosso serviço em primeiro lugar, temos que ter o objetivo de sempre melhorar nossa cidade. É aqui que vivemos, amo nossa cidade e quero sempre o melhor para todos.

 

Se você tivesse o poder de trazer uma pessoa para um abraço, que já está no plano espiritual, quem traria?

(Muito emocionado) Minha mãe!!! Minha mãe foi embora muito cedo, com 51 anos. Uma mãe consegue unir a família. Aí, acabaram-se os Natais, as Festas de final de ano, os almoços em família. Sinto muito por ela não ter chegado a ver minha evolução, ela lavava roupas, meu pai boia-fria, eu estudava em Jaboticabal, na escola Agrícola e ela sempre tinha um dinheirinho para me dar, conquistado com sua luta, no batedor, para eu poder viajar. Sinto não ter dado a ela o sonho de ter a sua casinha própria. Minha mãe foi uma guerreira.

 

POR KÁTIA LACATIVA

 

 

 

 

 

 

 


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