José Faria: de vendedor de picolés a empresário de sucesso
José Antônio de Faria, empresário, 63 anos (embora não pareça, fato atribuído à genética), casado com Anésia, pai de Edvaldo, Elaine e Ana Paula, avô de duas netinhas, nasceu em Ururaí, distrito de Santa Adélia, perto de Catanduva.
Como o Senhor veio parar em Guaíra?
A família do meu pai é todinha daqui. Pertenço à família dos “Novato”, tradicional de Guaíra, a mãe do meu pai e a mãe dos “Novato”, do João, do Geraldo Novato, eram irmãs. Nós somos primos primeiros. Tinha dois anos de idade quando meus pais vieram para cá, tocar lavoura na fazenda Macaúba do Sr. Chico Bento. Ficamos por lá durante 13 anos. Minha irmã e eu vínhamos da fazenda para estudar em Guaíra.
O menino do picolé
Depois disso fomos embora para Ribeirão Preto. Fiquei um ano por lá, com a família, eram tempos difíceis, não me adaptei, vendi picolé na rua, de carrinho; engraxei sapato com a caixa nas costas, e preferi vir embora. Aqui, já estava namorando, fui trabalhar de tratorista com o Sr. João Dias de Assis. Lá fiquei um tempo. Me casei com 19 anos e dei muita sorte, porque casei com uma grande mulher. Graças a Deus, tudo deu certo e me empreguei na Nestlé. Fiquei 23 anos nessa empresa. Saí de lá aposentado porque naquela época eram 30 anos de serviço, juntando a insalubridade, deu para aposentar. Nos dois últimos anos na Nestlé, já tinha aberto um “comercinho”, na Cecap, minha esposa e meus filhos “tocavam” este comércio, aí saiu minha aposentadoria (a firma queria que eu continuasse – acho que eu devia ser um bom funcionário). Mas, eu queria meu próprio negócio. Ampliei o comércio, trabalhei e trabalho duro até hoje, mas, com isso, consegui formar os meus filhos. Tenho uma que tem 3 formaturas, o Edvaldo, que trabalha na Prefeitura e a Ana Paula, que tem uma empresa “Anadré”. Filhos que nunca deram trabalho e que hoje voam com suas próprias asas.
Quem é o patrão Zé Faria?
Se eu fosse olhar para trás, eu diria que fiz a opção certa. Tenho cerca de 30 funcionários diretos e mais de 100 indiretos. Mas é difícil confiar hoje, quando se pensa que se pode confiar numa pessoa, ele “apronta” com você, porém, isto é devido às dificuldades da vida, a falta de segurança, a instabilidade do governo… Os maus exemplos começam lá de cima! Existe muita droga por aí. No entanto, não desfaço de ninguém, a vida que o cidadão leva foi uma opção dele. Se ele sofre com a droga, é um problema dele e da Lei. No meu caso, me levanto muito cedo por causa da padaria. Não tenho nenhum dos meus filhos comigo na empresa, mas isso é bom porque se fica muito preso. Tem dias que não tenho tempo de almoçar.
Qual a distração preferida do empresário José Faria?
Sou muito família. Não é um divertimento, mas hoje eu não saberia ficar sem isso na minha vida: a Maçonaria. Sou Maçom com muito orgulho. Lá me encontro com meus amigos, às vezes viajamos para outras cidades, encontrei ali uma amizade verdadeira, não uma maquiada e acredito que ser maçom foi uma providência que entrou, há 13 anos, na minha vida e que veio porque eu precisava. Antes, era uma pessoa pouco compreensiva, mais agressiva. Hoje, aprendi a ter tolerância, pratico a fraternidade, sou mais compreensivo em casa com a esposa e filhos. Quando, nos fins de semana, ia para a chácara, lá ocorria um churrasquinho, às modas do Tião Carrero, porém nunca fui muito chegado a bebidas. Como se vai chamar a atenção de um filho com um copo na mão? Tem que saber beber e saber parar na hora certa.
Gosta da política?
Até gosto. Se um dia eu parar com o meu comércio, posso até pensar novamente neste assunto. Mas, se você gostar de mentiras, de falar que vai fazer e não fazer nada, isso para mim não é política. Se eu fizer isso, meu rosto pega fogo! Uma pessoa que me fez gostar de política, e eu admirava demais, pessoa íntegra, foi o finado Menininho. Ele sempre me falava: “Zé, se o pessoal conhecesse a sua vida, o que você é hoje, ajudando nossa cidade gerando tantos empregos, eles votariam em você”. Fui candidato a vereador no ano de 2.000 e não entrei na câmara por falta de 13 votos. O pessoal chegava e falava: “Meu pai toma remédio e o candidato tal dá a receita todos os meses para nós, somos em 8 votos e minha mãe quer votar no senhor porque acha que é melhor candidato, mas não podemos votar em um pegando o remédio do outro”. Aí eu falava: “você está certo, tem que votar nele”. Este é o meu perfil.
Conte-nos histórias da vida do Seu Zé Faria.
Na multinacional Nestlé, na qual fiquei por tanto tempo, passei por nove concursos: entrei esfregando chão e cortando grama. Fui para a análise de leite, para a sala de máquinas, depois para o escritório. Fiquei seis anos no escritório e, quando o gerente saia, eu tomava conta. Quando tinha um curso lá fora eu ia, fui para Barra Mansa, Araraquara, Araras, Três Corações… Quando terminei na Nestlé, era especialista em caldeiras. Sempre exigi muito de mim. Por ser uma multinacional, a empresa não gosta de “puxa-saco”, eles observam a pessoa certa. A pessoa fica na firma por competência, nunca faltei um dia de serviço.
Outra historinha
Apanhei muito. Por qualquer motivo eu apanhava. Acho que sou meio torto (risos) de tanto que minha mão me puxava pela orelha. A melhor coisa que tenho hoje é minha mãe, só que ela batia tão por pouca coisa que eu jurei que seria diferente com meus filhos. Tanto que nunca encostei a mão neles. Uma vez, morávamos na roça e foram duas companhias de Santos Reis almoçar lá. Nós não podíamos ficar por perto. Não sei o que me deu, mas passei no meio deles. Logo procurei para ver se minha mãe estava olhando. Não é que ela viu! (risos). Depois que eles foram embora, ela me pegou, jogou no chão, bateu, depois parou, achei que tinha acabado, mas não, ela estava descansando para me pegar de novo. Tenho que admitir, isso não tira o amor que um filho tem pela mãe. Ela achava que estava me educando para a vida. Ela estava sempre certa!!
Mais uma historinha…
Outro dia foi aniversário da minha mãe. Ela mora em Ribeirão Preto com minha irmã caçula. Era também aniversário do meu filho Edvaldo. Eu estava cheio de serviço, porém, sai daqui de manhã, dei um abraço de aniversário na minha mãe, voltei, fiz o serviço em três bancos, fui no velório de um vizinho, ajudei levá-lo ao Oriente Eterno, ainda fui na festinha surpresa do meu filho. Não sou uma pessoa de desmanchar rodinhas e posso dizer que sou agregador, porque todos gostam de ficar perto de mim. Sou alegre, não sei cantar, mas eu canto, não sei contar piadas, mas eu conto (risos)… Sou assim, com histórias de todos os jeitos!
Tem também casos assustadores
Fui assaltado, no meu estabelecimento, por duas vezes e já tive prejuízo com um funcionário. Dois assaltantes saíram debaixo da caminhonete, armados, colocaram a arma na minha cabeça, levaram dinheiro e, até hoje, eu encontro, na minha testa um lugarzinho onde ele ficou encurralando a arma na minha cabeça. Ele tremia mais do que eu. Tudo isso faz parte da história da minha vida. Na verdade, tenho mais histórias boas do que tristes para contar!!!
O ser humano, na visão do empresário.
Primeiro, acredito que um ser humano sem amizades não é nada! A boa amizade não se compra. Nunca se ouviu dizer que o cidadão foi ali no comércio comprar uma amizade. Por outro lado, misturando os seres humanos estranhos e parentes, se você está bem de situação, é “Zé Faria daqui”, é “Zé Faria dali”. Se passa um momentinho difícil, some todo mundo. Então, esta parte do ser humano é meio ingrata, porque, se tudo está bem com você, não se precisa de ajuda. Na hora que as coisas estão ruins é que se precisa de uma mão amiga. Por isso que me dei bem na loja Maçônica, lá existe o lema da igualdade, fraternidade, do Homem perfeito, se não conseguimos fazer sozinhos, fazemos em grupo. Começa em casa, na família, este ensinamento de sermos justos e perfeitos. Gosto da Loja porque se fizermos alguma coisa boa a alguém, não devemos sair alardeando, o que a mão direita faz, a esquerda não precisa saber. Não se vê propaganda do que foi feito de bom para o seu semelhante. Lá, temos pessoas de diversas religiões. Todos respeitam a opção de cada um. Outro dia, um cidadão falou assim: “Zé Faria, passei lá perto da sua Igreja e me deu um arrepio”… Eu respondi: “primeiro que lá não é Igreja, é um local de reuniões e se te deu um arrepio, você deve estar com maleita” (risos)… Agradeço sempre a Deus, à Bíblia Sagrada é meu caminho e Luz de Deus que não nos deixa na escuridão.
Diga-nos uma pessoa admirável?
Admiro muito minha esposa. Uma grande mulher!!! Se não fosse o apoio dela, não sei o que seria. No dia que fizemos 40 anos de casados, estávamos na mesa de jantar, a família reunida, minha filha pediu que eu respondesse sem pestanejar se eu me casaria com a mãe dela novamente se eu pudesse voltar 40 anos atrás. Eu disse que casaria se ela tivesse 16 anos de novo (risos). Admiro minha esposa… Vou dar um exemplo: dia que vou à maçonaria, saio do mercado mais cedo, ela fica para fechar a empresa, eu chego para tomar banho, minha roupa esta arrumada: camisa, calça, sapato, a bolsa que eu levo para loja e o relógio, tudo arrumadinho. Ela cuida de tudo, troca a escova de dentes quando acha que já está na hora, troca o sabonete e, hoje mesmo, levou ao mercado dois comprimidinhos por conta desta tosse, com o mesmo zelo que ela cuida dos filhos.
Quem o Sr. Zé Faria traria do plano superior se tivesse este poder?
Meu pai (emocionado)! Faz muita falta! Meu pai teve vários defeitos, foi muito bem de situação, porém, motivado pela bebida acabou perdendo tudo. No final de sua vida não tinha nem lugar para morar, mas eu estendi a mão, tinha enfermeiro 24 horas, nunca deixei faltar nada, zelei por ele e só morreu porque chegou a hora. Eu não penso assim, que precisava ter feito mais por ele. Não! Tudo o que podia ser feito, eu fiz! Um dia, ele passou mal, a ambulância veio buscá-lo, colocou os aparelhos nele e eu falei bem alto porque não sabia se ele estava me ouvindo ou não, “Agora mesmo eu chego no hospital”. Ele me olhou e conseguiu falar; “Meu filho, me dá um beijo”. Dei o beijo nele e dois dias depois ele faleceu. Eu brincava com ele, caçoava, fazia piadas, mas não achava que por ser homem, que o que faltava para ele era o abraço e o beijo do filho.