Carlos Eli de Souza, 50 anos, mais conhecido como Carlinhos da Maracá é pai de Hiago, 20 anos e de Higor, 15 anos. Trabalhou durante muitos anos à frente do Clube, mas atualmente seu ofício é de montar palcos pelo Brasil afora. Bem-humorado, toda a entrevista foi entrecortada por risadas, mesmo nos assuntos mais sérios. Talvez esta alegria de viver seja responsável pela sua aparência jovem e saudável.
Como é esta “vida” de montar palcos por todo o Brasil?
Pois é, trabalho com locação e montagem de palco. Isso já me trouxe muitas alegrias, mas também já tive momentos difíceis. Já trabalhei em eventos e não recebi, inclusive, fiz uma turnê com cantores famosos, aqui da região, e o escritório me deu um prejuízo de R$ 32 mil.
Então você conhece muitas pessoas e muitos lugares?
Nessa área conheci vários lugares do Brasil, tenho diversos amigos na estrada, tem o Jorge, os meninos do Rio Negro, são coisas que ocorrem normalmente, no cotidiano e se for colocar na balança tudo isso me trouxe mais alegria do que tristeza.
Cite alguns cantores que já locaram palcos com você!
Tive a oportunidade de conhecer e conviver de perto com o pessoal do Bruno e Marrone, Jean e Giovanni, na época do João Paulo e Daniel, Christian e Ralf, grandes nomes da música. Fiz muitos eventos na época da Maracá, porque tomei conta de lá durante 12 anos.
Você imaginou, um dia, que aquela estrutura fosse acabar no chão?
Nunca imaginei que o fim do clube seria esse, porque quando entrei eram os funcionários do Banco do Brasil que administravam, isso foi em julho de 1988. Então tivemos muitos eventos importantes que se iniciaram com a sextaneja, uma festa pequena, logo depois vieram os bailes do Havaí, nunca passou pelas nossas cabeças que algum dia o clube iria ter um fim, porque chegamos a um patamar de colocar artistas de primeiro escalão do Brasil, chegamos a fazer 13 shows em um ano.
Então já passaram nomes importantes por aquele clube….
Já passaram por lá Bruno e Marrone, Rick e Renner, Jean e Giovanni, Christian e Ralf, Tonico e Tinoco, Mário Zan, teve a Fafá de Belém que veio, mas choveu demais e não conseguimos realizar o evento, mas faz parte da história do clube, teve o Beto Barbosa, RPM, Grupo Iron, Ultraje a Rigor, foram vários shows, foram muitos bailes, porém para chegar nesse patamar e um dia chegar a ficar um terreno limpo acredito que nunca ninguém esperava por isso. Uma tragédia, ou não, porque hoje mudou o foco das pessoas, quando alguém vai construir sua casa, a primeira coisa que pensa é fazer uma piscina. Atualmente ninguém quer dividir a parte de lazer, todos os clubes da região estão fechando.
Quanto tempo ficou na administração do clube?
Trabalhei ali de 1988 até 2000, depois de um bom tempo voltei e fiquei até o clube ser entregue, porque ninguém queria administrar e fiquei lá mais três anos. Vieram as leis trabalhistas e tivemos que entregar, encerrou o ciclo, peguei a fase boa e a ruim.
Nesta época tinha também o Clube de Campo, não é?
Tinha sim, e eu gostaria de falar que convivi muito com o Clube de Campo, do mesmo jeito que aconteceu com a Maracá, porque quando o Patinhas foi presidente, O Carlos Zuquim tínhamos uma convivência legal, não éramos concorrentes, pois os eventos eram acasalados, eventos maiores um ligava para o outro. Os funcionários do Clube de Campo frequentavam a Maracá sem custos e vice versa, tivemos uma parte boa.
Quando passa perto da Maracá dá dor no coração?
Quando passo perto de onde era a Maracá não sinto dor no coração, pois tudo que fiz lá foi por amor, não sou eu que tenho que olhar e lamentar pelo que aconteceu, acredito que esteve na mão de quem poderia ter segurado na época, mas não fizeram isso. Então meu coração não sente não.
Aí então começou a trabalhar com palcos!
Comecei a trabalhar com palcos em 1994, conciliava com meu emprego e viajava fazendo bate volta. Ajudava o clube, porém nessa época não tinha vínculo. Hoje meu serviço é só o palco junto com meu pai. Lá em casa é família: se um passa fome, passamos todos juntos. Empresa de família é você matar um leão por dia. Ela se chama “Kanella Locação de Palcos.” (risos).
Bem humorado como você é, deve ter muitos amigos!
Tenho muitos amigos, tenho um bom relacionamento com os filhos, minha ex-mulher, tomo até cerveja com todos eles. Afinal de contas ninguém é propriedade de ninguém, não deu certo, não é por isso que tenho que parar minha vida. Até mesmo meus concorrentes são amigos, não somos inimigos, tem o Borgheti, tem o Toninho de Barretos e às vezes um está ocupado indica o outro, às vezes eu não posso fazer um serviço, mas fulano vai e é assim, um cobrindo o outro.
Você tem muitos funcionários?
Hoje trabalho com três pessoas fixas viajando comigo, mas na cidade em que eu estiver contrato mais três pessoas para nos ajudar na carga e descarga, porque só em três não monta. Pego apenas três para não ter trabalho, com este número reduzido já dão trabalho, tem que ser pai duas vezes, pois eles acham que não tem hora para chegar, somem no show e por aí vai!
Já teve problemas com a montagem de palcos?
Já me aconteceu o seguinte: estava na cidade de Brasilândia, no show do Michel Teló, montaram uma estrutura e o escritório não aceitou, me ligaram fui lá montei o meu no mesmo dia, ficamos nessa empreitada: eles montando cenário e nós a estrutura, o camarim, todo mundo junto até ser realizado o show.
Parece que você também foi esportista.
(risos) Esta foi outra coisa muito boa que aconteceu na minha vida foi jogar bola na guairense como goleiro. Conheci o senhor Vicente Lacativa como locutor da rádio, porque 50 anos de história é muito tempo. Na época jogaram comigo o Gato que era goleiro do time principal, o Silva, o Joãozinho do bosque, o Lico, tiveram muitos, apesar de que não cheguei ao profissional, convivi também com o Paulinho Careca que foi da época da Maracá e Guairense.
Você é assim, sempre de bem com vida?
Eu levo a vida desse jeito, porque levar na mágoa, emburrado não adianta, sabemos que temos que levantar cedo todos os dias, falar que estamos bem todos os dias, no final da tarde senta e toma a tradicional cervejinha que gosto, ligo para um herdeiro, para outro, um amigo, de vez em quando vou até no “Seu” João do Poste e Dona Eni, eles moram no meu coração é meu sogro até hoje, só depois que eu morrer vai deixar de ser. É isso aí!!!