Entrevista: José Eduardo respeita decisão do TRE, mas a chama de “injustiça da justiça”

Em depoimento ao Jornal O Guaíra, o prefeito afastado declara que “mesmo tendo outra eleição, e eu podendo ser candidato, não sei se quero ou se devo ser candidato novamente”

Cidade
Guaíra, 11 de abril de 2021 - 11h16

Depois da decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo em manter a condenação de José Eduardo e Renato Moreira no caso da cassação de suas candidaturas referente à propaganda eleitoral irregular durante as eleições municipais de 2020, o prefeito afastado concedeu entrevista e mostrou sua insatisfação quanto ao resultado.

O julgamento em segunda instância ocorreu na última terça-feira, 06. Com essa decisão, há possibilidade de Guaíra ter um novo pleito eleitoral.

O prefeito e vice, que encontram-se afastados dos cargos por outra decisão, do Tribunal de Justiça de São Paulo devido às investigações do GAECO na operação Golpe Baixo, podem ou não recorrer. 

 

Como você vê o resultado do julgamento do TRE, que manteve a cassação de sua candidatura? 

Primeiramente, vejo com respeito, pois sempre fui uma pessoa legalista e preciso respeitar as instituições. De outro lado, vejo com resignação, onde uma denúncia feita por uma candidata a prefeita, a candidata Bia Junqueira, a posição monocrática de um promotor de justiça e acatada pelo judiciário local, confronta a posição da maioria absoluta do sentimento da população, de forma espontânea e democrática. Enxergo como um verdadeiro golpe institucional e um desrespeito ao sentimento e na esperança dos guairenses, acobertado pelas possibilidades da legislação eleitoral brasileira. Agora, o município pode ter outras eleições, sendo que meus direitos políticos continuam intactos, ou seja, posso até ser candidato novamente, e estamos vivendo na cidade um momento de insegurança e incertezas causadas por essas decisões, que foram corroboradas no TRE. 

 

Mas o TRE manteve a decisão da primeira instância, ou seja, não foi somente um juiz que decidiu isso. Como você vê isso?

Nesse sentido que consolidou minha indignação. O mérito desse processo foi o fato de o jornal HN ter feito alusões à minha vida particular, à minha história de vida e da minha família, ao momento de aflição que passei com a Covid-19, à história de trabalho da minha mãe na Santa Casa, além de discutir questões da política local. Aliado a isso, dentro das prerrogativas legais, ter no seu editorial uma posição favorável à minha candidatura, sendo que isso, segundo os colegiados e a denunciante, favoreceu a minha eleição em 2020. Ora, se um órgão de imprensa não puder falar de forma honesta de pessoas e candidatos, não poderia me candidatar ao executivo novamente. Pois, se falar da minha história, da minha família, do meu trabalho, então, a mesma denunciante poderá novamente fazer a denúncia que falar de minha história é favorecimento e o poder judiciário vai pedir a cassação do registro novamente. Uma história de vida e trabalho para a cidade, que vai ser sempre o contraponto daquelas pessoas que nunca prestaram nenhum serviço relevante ao município, e que tenham sempre seus interesses pessoais e politiqueiros. Mas, o ponto que os desembargadores argumentaram em São Paulo, foi minha relação com o jornalista Marcelo Junior, do qual tenho o maior respeito. Da mesma forma, tenho ótimos relacionamentos com outros órgãos de imprensa no município. Tenho um respeito muito grande pelo Ovidio, do jornal A Cidade, o qual sempre o chamei de o “ícone da Imprensa guairense” e, no entanto, o seu jornal tomou uma linha editorial, dando amplos espaços aos candidatos José Carlos Soares e Bia Junqueira, e críticas contundentes à minha administração, sendo inclusive o Ovídio candidato a vereador da chapa do José Carlos. Meus advogados também solicitaram a posição do judiciário guairense em relação à essa ligação, e que foi negado, mesmo numa situação muito análoga à esse meu processo. E o próprio jornal O Guaíra fez a publicação de oito páginas do candidato Marcelo Armani na sexta-feira anterior à eleição e a própria redatora do jornal trabalhava na campanha do Armani. Mas, a única condenação foi da minha candidatura. E também os desembargadores argumentaram o fato de eu ter sido avalista do Marcelo Junior, de uma operação de financiamento de um carro, há quase 20 anos, quando eu era presidente do sindicato rural e ele trabalhava de freelancer na instituição. De tão tranquilo que eu estava na audiência desse processo, nem me lembrava desse episódio, que foi decisivo na posição dos desembargadores do TRE. Eu poderia ter citado no meu depoimento à justiça, pois fui questionado se tinha como hábito, fazer esse tipo de procedimento, como ser avalista, ou fazer algum tipo de empréstimo. Por exemplo: em 2016, a então candidata a vereadora do meu partido à época, Bia Junqueira, me pediu um cheque emprestado, para que ela ou seu esposo trocasse e arcasse com algum de seus compromissos; na oportunidade o fiz com muita tranquilidade e que, inclusive, não foi quitado e acabei recebendo dois terrenos dela e de seu esposo para a quitação desse débito. Sempre numa visão de amizade e nunca tive nenhum contratempo com essas situações, nem prejuízo financeiro. Mas, nem entrei nesse âmbito, por se tratar de uma decisão estritamente particular minha, como foi a do Marcelo, há vinte anos, ou mesmo da candidata à época. Ou seja, fui condenado por um jornal falar da minha história de vida de sucesso, do trabalho da minha mãe e de um aval ao Marcelo vinte anos atrás. E quem viu o julgamento poderá confirmar isso que estou dizendo. Na minha visão, a justiça fez uma injustiça comigo e com minha cidade construída por uma denunciante e pelo poder judiciário.

 

Você pretende recorrer da decisão do TRE-SP? E  como está sua situação na operação do GAECO?

É claro que vou recorrer até onde as instâncias da justiça permitir. Vamos entrar com um embargo declaratório no TRE e, posteriormente, sendo necessário, um efeito suspensivo no TSE e no STF, se necessário. Quero a absolvição nessas instâncias, mesmo sabendo que fui absolvido pela população da minha cidade. E também tem o processo criminal no Tribunal de Justiça, que não foi apresentado nenhuma denúncia, e se houver, tenho a convicção que precisamos buscar a nulidade desse processo. Quero, e vou, mostrar minha inocência absoluta em todas essas ações, mas, o caminho que tenho discutido com minha família, minha esposa, meus filhos, minha mãe, minhas irmãs, é realmente meu afastamento da vida pública nesse momento. Infelizmente, esse ambiente afasta pessoas de bem, independentes, desprovidos de interesses pessoais, do cenário político. Mas, não posso, nem quero continuar expondo minha família, minha história nesse contexto. É muito ruim ser condenado na justiça eleitoral por alguém falar bem de você, de você ser amigo das pessoas e, pior ainda, eu que tenho uma vida limpa, de trabalho, de retidão, ver minha casa sendo invadida por policiais, promotores, com fuzil em riste, à minha família, como se fosse um verdadeiro bandido. Vou continuar cativando minhas amizades, amando muito minha cidade, fiz muitos amigos durante minha passagem pela prefeitura, fui o primeiro prefeito reeleito da história da cidade. Tive a honra de ter um pai, prefeito e depois ser prefeito também, fiz uma grande administração, honesta, justa, organizada, considerada a melhor gestão do Brasil por um importante órgão oficial de administração. Tínhamos uma administração de mais de 80% de aprovação no final do ano passado e estava com muito entusiasmo e disposição, pois sei que tem muita coisa a fazer ainda pela minha cidade. Mas, diante das injustiças da justiça, mas que entretanto respeito-as, prefiro me retirar desse processo político, sem criar expectativas de “quando o prefeito volta”, “como está esse ou aquele processo”. Vou focar na minha vida familiar, nos meus negócios, viver mais próximos aos meus filhos, esposa e pais.

 

E se houver novas eleições no município? Como fica sua posição?

Falar de eleições, vou sempre agradecer o carinho de grande parte da população da cidade que me elegeu por duas vezes consecutivas como o prefeito da nossa cidade. Vou ser eternamente grato. Sempre busquei estar à altura dessas responsabilidades. Mas, veja as incongruências da legislação. Se meu recurso não for acatado pelas instâncias superiores da Justiça, poderá ocorrer novas eleições no município e eu poderia ser candidato novamente. Me capacitei toda minha vida para assumir os  desafios e missões que forem necessárias.  A minha independência política, financeira, social e pessoal me dá condições de alcançar excelentes resultados nas minhas empreitadas e sei que sempre posso contribuir muito para minha cidade. Mas, mesmo tendo outra eleição, e eu podendo ser candidato, não sei se quero ou se devo ser candidato novamente.


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