Além do luto, a família de Adriele Sena, assassinada no último dia 29 de agosto, tem enfrentado outros dois problemas após a morte da jovem: boatos sobre o ocorrido e comentários maldosos pelas redes sociais.
Diversos veículos de comunicação, diferentemente do Jornal O Guaíra, publicaram que os familiares se reuniram para tentar uma reconciliação entre Adriele e o acusado, Valdelício Santos, o que é uma inverdade, segundo o pai da vítima, Douglas Sena.
Douglas relata que eles não queriam que a moça continuasse com o rapaz já que, no dia do crime, ela conseguiu contar para seu pais, algumas horas antes, que já havia sido agredida anteriormente. “No dia, ela me relatou que ele havia batido nela e que ela não queria mais viver com ele. Eu disse que não era obrigada a ficar com ninguém que não quisesse, ainda mais com alguém que bate em mulher, o que eu não aceito.”
O pai ainda descreve que Adriele preferiu contar pessoalmente para a sogra sobre a separação, já que a mulher apresenta problemas de saúde. “Ela me contou que precisava falar com a sogra porque ela tem problema de coração. Falei pra ela combinar, conversar com eles, mas que eu iria junto também pra falar que eu não queria saber dele ficar perseguindo ela, pra ela seguir a vida dela. A gente foi para esclarecer a separação porque a Adriele estava com medo de a mulher passar mal, porque ela é cardíaca”, afirmou. “Porém, os sites de notícias estão colocando que a gente foi lá para reconciliar. Isso nunca aconteceu. Isso nos ofende muito, porque a gente não queria isso pra ela.”
Mesmo que Douglas tenha pedido para que os meios de comunicação fizessem a retratação, muitos negaram a contar a verdade. “Chegaram a me dizer para questionar o Boletim de ocorrência e disseram que a matéria não era deles e sim do G1 (Globo), que também estava errado.”
Palavras do pai
Douglas, em entrevista ao O Guaíra, em uma narrativa triste e emotiva, expõe que, na manhã de 29 de agosto, Valdelício já havia se alterado, pois queria mexer no celular de Adriele e ela não havia deixado. Ele a trancou em casa e foi trabalhar. Porém, a prima da jovem, pressentindo algo, foi visitá-la, momento em que o rapaz retornou do trabalho, alegando que estava passando mal, para sair mais cedo.
“Ela me contou que de manhã, naquele dia, ele tentou abrir o celular dela e ameaçou, por duas vezes, jogar o celular no chão. Ele estava deixando ela trancada, escondia a chave do portão. Mas a Adriele conseguiu achar a chave para abrir para a prima dela. Mas logo ele chegou e achou ruim que minha sobrinha estava lá. Ele trocou de roupa e disse que ia para a mãe dele e que depois eles conversariam. Ele saiu e a minha filha contou pra minha sobrinha que estava com medo de ficar lá, pois ele estava com o mesmo olhar do dia em que a agrediu, em um sábado, quando bateu tanto nela que ela quase desmaiou. Tem até uma carta dela para ele, demonstrando que ele já tinha batido nela.”
“De lá minha sobrinha levou minha filha para a minha casa. Foi quando a Adriele me contou o que tinha acontecido. Nós acabamos de conversar, falei pra ela trancar a porta pra ele não ir na minha casa e que assim que saísse do serviço iríamos na sogra dela anunciar a separação.”
Sena ressalta que Valdelício tratava a família muito bem, com abraços, carinho e que ninguém desconfiava até o dia em que Adriele contou. “Com medo de eu fazer algo com o Valdelício, ela foi se omitindo e não contava o que acontecia.”
Ainda segundo o pai, os últimos momentos de Adriele aconteceram de forma muito rápida. “Os pais dele não sabiam que ele tinha batido nela, e até falaram para ele: ‘se você bateu nela e ela não te quer mais, você tem que aceitar’, e ele só ficava repetindo: ‘estou mudando, me dá mais uma chance’. Até que, na hora que estávamos na cozinha, ele foi para a sala e ficou andando para lá e para cá. Aí eu falei para ela ir terminar a conversa com ele, para podermos ir embora, e ela foi sentar na sala. Vimos que ele foi para o quarto, voltou e sentou-se perto dela.”
“Ela sentou no sofá colocou as pernas para o alto. Ele ainda pediu pra conversar com ela no quarto, mas a mãe não deixou. Ele voltou, ficou em pé perto dela, meio que encobrindo ela, pediu mais uma chance e de repente vi ele esmurrando ela. Hora nenhuma achei que ali tinha uma faca. Já ‘voei’ nele e peguei ele de soco. Só lembro quando minha mãe gritou: ‘minha neta está morrendo’. Saí correndo para socorrer minha filha, que tinha corrido para a calçada.”
Depois disso, os pais socorreram a judoca, que chegou com vida ao Pronto Socorro, mas não resistiu aos ferimentos. “Eu só quero justiça e peço para que as pessoas falem a verdade, o que realmente aconteceu.”
Comentários maldosos
Comentários das redes sociais deixaram o pai mais abalado do que estava. Após ver alguns internautas acusando até mesmo a família de Adriele sobre o ocorrido, Douglas Sena pediu apenas para que haja respeito, principalmente porque a jovem deixou uma filha pequena. “Ainda tem comentários de pessoas dizendo que a gente queria jogar ela pra cima dele, em alguém que bate em mulher. Imagina. Isso nunca. Ofende a gente demais.”
O pedido é para que os cidadãos saibam os limites de seus julgamentos e não acusem os familiares pelo ato praticado pelo acusado.
Prisão
Após a justiça decretar a prisão preventiva de Valdelício Santos, de 21 anos, por matar a ex-namorada, Adriele Sena, com dez facadas, o rapaz saiu da Santa Casa de Misericórdia de Barretos direto para a cadeia pública de Colina, neste último domingo, 02. De lá, o acusado seria encaminhado para a penitenciária de Taiúva.
De acordo com o delegado Rodrigo Souza Ferreira, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), o jovem, que golpeou a si mesmo em uma tentativa de suicídio, deverá responder por homicídio doloso, quando há intenção de matar, com três qualificadores: motivo fútil, meio que dificultou a defesa da vítima e feminicídio.