Jovem lamenta a falta de oportunidade para as pessoas com deficiência em Guaíra

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Guaíra, 10 de agosto de 2016 - 08h00

Everton perdeu o emprego após entregar um documento no Ministério do Trabalho sobre a falta de vagas de emprego para pessoas especiais no município 

Everton segura em suas mãos a carta de demissão entregue pela empresa, em menos de um mês de trabalho

Everton segura em suas mãos a carta de demissão entregue pela empresa, em menos de um mês de trabalho

Na última semana, o jovem Everton Gonçalves dos Santos, de 28 anos, resolveu fazer um desabafo após perder o emprego: as empresas do município não estão dando oportunidade para as pessoas com deficiência.

De acordo com o rapaz, a cidade não busca facilitar a vida dos especiais, que enfrentam problemas com transporte, acessibilidade e até mesmo a inclusão.

Everton até tentou melhorar essa situação, mas sofreu as consequências. Após trabalhar 10 anos em uma grande empresa, o jovem foi demitido em 2015 por consequência da “crise financeira”. Depois de procurar serviço em diversos locais, entregando currículos diariamente, ele e seu pai perceberam que não haviam vagas nas empresas de acordo com o que é exigido pela lei de cotas.

“Vimos que em Guaíra muitas firmas não cumprem a lei que determina que ‘empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas portadoras de deficiência, na seguinte proporção: 2% até 200 funcionários; 3% de 201 a 500; 4% de 501 a 1000; e 5% de 1001 trabalhadores em diante’”, explicou Santos.

Assim, com a ajuda de seu pai ele elaborou um documento e protocolou no Ministério do Trabalho. “Queríamos que as pessoas com deficiência fossem respeitadas na cidade e pudessem ter oportunidades assim como qualquer um. Mas isso me prejudicou”, relatou.

Everton explicou que a denúncia que fez foi benéfica para os especiais da cidade, mas não para ele. Após um ano procurando emprego, ele conseguiu uma vaga em uma indústria. Porém, acredita que a mesma descobriu que ele era o autor da denúncia no MT. “Fui contratado para a área de devolução e, em menos de um mês, fui demitido sem justificativa alguma. Percebi que um dia antes da demissão, sete pessoas com deficiência foram contratadas nessa empresa. Fiquei muito feliz, inclusive com o depoimento da família de um dos garotos, que nunca havia conseguido um emprego até então. Infelizmente, no outro dia, fui barrado na catraca de entrada. Pedi para ver o que estava acontecendo com o meu cartão e recebi uma carta de demissão, sem explicação alguma”, lamentou o rapaz, com os olhos marejados.

“Acredito que foi por causa da denúncia, porque esta grande firma não teria chamado tantas pessoas com deficiência em um dia se não tivesse recebido algum comunicado do ministério do trabalho”, afirmou.

Everton possui um bom currículo, pois trabalha desde os 17 anos. É muito conhecido na cidade pelo seu desempenho. Já atuou como guardinha, no setor de Departamento Pessoal de uma usina e até mesmo como padeiro. “Um supermercado até me chamou há alguns meses. Contudo, queriam que eu trabalhasse na padaria, para assar pães, mas não consegui por causa das grandes assadeiras”, contou.

O rapaz está feliz por ter contribuído com a inclusão dos especiais em vários empregos. Ele agora espera conseguir para si também. “Sei que fiz a denúncia, mas foi pelo bem das pessoas com deficiência e não com a maldade. Só quero que as empresas vejam que tive a boa intenção e que isso não irá interferir no meu desempenho”, expôs. Everton continua distribuindo currículos diariamente pela cidade.

Como funciona a Lei de Cotas para deficientes em empresas?

A Lei nº 8.213, de julho de 1991, também conhecida como Lei de Cotas, obriga o preenchimento de 2% a 5% das vagas do quadro de funcionários de uma empresa – em qualquer setor, inclusive aqueles que possuem mais riscos, como o siderúrgico – com reabilitados ou com deficiência. Apesar de existir desde 1991, foi regulamentada nove anos depois, quando trouxe a questão da fiscalização sobre o cumprimento. Ainda neste momento, a regra não especificava quais as deficiências estariam inseridas, o que foi finalmente estabelecido em 2004, quando, assim, a Lei de Cotas ficou mais redonda, preenchendo “buracos” que eram usados por empresas para recorrer a não contratação. Dessa forma, o Brasil começou a aplicar as regras com mais eficácia, evoluindo o tema ao longo dos últimos doze anos.

A contratação de uma pessoa com deficiência não deve ser apenas algo quantitativo, mas também qualitativo. Ou seja, é preciso o preparo de todos para a convivência, assim como a garantia de igualdade de condições, cobrança, reconhecimento e tratamento. Tudo isso é citado pela Normativa 98, que faz a fiscalização pela qualidade da contratação (e não só pelos números).

A lei de cotas abrange o direito a todos os tipos de deficiência (física, visual, auditiva e intelectual), mas ainda há uma preferência das empresas na contratação por pessoas com deficiência ‘menos impactantes’. Assim, existe uma maior busca, por exemplo, de deficientes físicos, enquanto aqueles com deficiência intelectual são os menos procurados.

Apesar de muitas pessoas ainda tratarem o assunto como realidade distante, 6,2% dos brasileiros têm algum tipo de deficiência, segundo dados do IBGE de 2015. Desta população, mais de 352 mil já estão inseridos no mercado de trabalho em todos os estados do país, de acordo com os dados da Rais 2013 e Caged 2014, até setembro. Contudo, outras milhares ainda aguardam a inclusão no mercado de trabalho.



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