Marketing Digital e o Bem-Estar Mental

Entrevista com Rafael Terra, autor do livro “Bem-estar Digital”

Cidade
Guaíra, 20 de setembro de 2024 - 09h23

Prepare-se para conhecer a mente que está virando o mundo digital de cabeça para baixo. Rafael Terra, pioneiro em unir marketing digital e bem-estar mental no Brasil, não é apenas mais um nome na indústria – ele é a força por trás de uma revolução que transforma a vida online em uma experiência saudável e cheia de oportunidades.

Com 20 anos de mercado e mais de 600 grandes marcas no portfólio, Rafael vai além do óbvio e ensina como prosperar no universo digital sem perder o equilíbrio. Autor do livro “Bem-estar Digital”, ele revela nesta entrevista como está moldando o futuro da nossa conexão com o mundo virtual. Está pronto para mudar sua perspectiva sobre o digital?

OG:Como você enxerga a relação atual entre influenciadores e seus seguidores nas redes sociais? O que leva as pessoas a idolatrarem influenciadores, mesmo quando eles adotam comportamentos questionáveis ou ilegais?

RAFAEL:– A relação atual entre influenciadores e seus seguidores é marcada por uma mistura de admiração, identificação e, muitas vezes, uma necessidade de pertencimento. Vejo que, nas redes sociais, os influenciadores são percebidos como pessoas comuns que alcançaram um status de destaque, tornando-se uma espécie de “pessoa comum idealizada”. É aí que entra a dinâmica que eu sempre falo: as redes sociais criam um espelho, onde os seguidores se veem e projetam suas próprias aspirações. 

Quando um influenciador compartilha seu dia a dia, suas conquistas e até suas vulnerabilidades, ele constrói uma narrativa autêntica, que gera conexão. No entanto, isso cria um paradoxo: mesmo quando esses influenciadores adotam comportamentos questionáveis ou ilegais, muitos continuam a idolatrá-los. Isso acontece porque as pessoas se conectam com a ideia de que “ninguém é perfeito”, uma narrativa que, no fundo, nos dá permissão para errar. E as redes reforçam essa lógica ao transformar tudo em conteúdo, até mesmo os erros e polêmicas. 

Idolatrar alguém que expõe suas imperfeições é quase como encontrar uma justificativa para nossos próprios deslizes. Na minha visão, é um reflexo da cultura do imediatismo e da gratificação instantânea que as redes sociais promovem. Os seguidores, ao idolatrarem influenciadores, muitas vezes buscam uma validação de suas próprias escolhas e estilos de vida, mesmo quando isso significa ignorar certas atitudes ou comportamentos errados.

OG:Você acredita que as plataformas de redes sociais têm um papel significativo em incentivar a idolatria de influenciadores? Como isso acontece?

RAFAEL:- Sim, acredito que as plataformas de redes sociais desempenham um papel central em incentivar a idolatria dos influenciadores. Elas foram projetadas para valorizar a exposição, o alcance e o engajamento, criando um ambiente onde os influenciadores são recompensados quanto mais compartilham, se expõem e, muitas vezes, criam uma narrativa perfeita ou impactante. 

As redes sociais, através dos algoritmos, promovem conteúdos que geram mais interação, seja curtida, comentário ou compartilhamento. E o que mais atrai esse engajamento? Histórias pessoais, emoções extremas e estilos de vida aspiracionais. Quando uma pessoa pública sobre seu sucesso, luxo, momentos felizes ou até suas vulnerabilidades, o algoritmo potencializa esse conteúdo, jogando-o para mais pessoas. É como se as plataformas gritassem: “Olhem aqui, esse é o modelo a ser seguido!” 

Além disso, as redes sociais oferecem ferramentas como a verificação de conta, métricas públicas de seguidores, curtidas e comentários, que criam uma sensação de validação e autoridade. Isso coloca os influenciadores em um patamar de celebridade digital, mesmo quando suas ações são questionáveis. E como eu sempre comento, o cenário atual alimenta a ideia de que números são sinônimo de relevância e verdade. 

A partir daí, cria-se um ciclo: a plataforma dá visibilidade, os seguidores endossam, e os influenciadores se sentem incentivados a buscar cada vez mais engajamento, independentemente das consequências. Essa dinâmica acaba fortalecendo a cultura de idolatria, pois faz parecer que ter muitos seguidores, curtidas ou compartilhamentos é o que define sucesso e valor nas redes sociais.

OG:- Como o algoritmo das redes sociais pode influenciar na visibilidade de influenciadores polêmicos?

RAFAEL:- O algoritmo das redes sociais é movido por engajamento. Ele está sempre em busca de conteúdo que prenda a atenção, gere cliques, curtidas, comentários e compartilhamentos. E é exatamente aí que influenciadores polêmicos encontram terreno fértil para ganhar visibilidade. A polêmica gera reações intensas – seja apoio, crítica ou debate – e essas interações são o que os algoritmos interpretam como conteúdo relevante. 

Os algoritmos não distinguem se o engajamento é positivo ou negativo; eles simplesmente identificam que determinado conteúdo está gerando uma resposta. Então, quando um influenciador compartilha algo polêmico ou controvérsio, a reação do público – mesmo que de indignação – faz o algoritmo promover ainda mais aquele conteúdo. Isso cria um ciclo vicioso: quanto mais polêmica, mais visibilidade; quanto mais visibilidade, mais polêmica é criada. 

Além disso, as redes sociais utilizam técnicas de recomendação, sugerindo conteúdos que tenham alto potencial de engajamento. A partir disso, posts de influenciadores polêmicos aparecem na aba de “explorar” ou nas sugestões de conteúdo. E como sabemos, quanto mais tempo as pessoas passam interagindo com esses conteúdos, mais a plataforma reforça que esse é o tipo de post que “merece” ser impulsionado. 

No final, é como se o algoritmo estivesse constantemente alimentando o frenesi em torno desses influenciadores, amplificando sua voz e, de certa forma, premiando comportamentos polêmicos. É um mecanismo que, infelizmente, faz com que a exposição e a controvérsia se tornem estratégias de alcance para muitos influenciadores, mesmo que isso envolva comportamentos negativos.

OG:- Quais estratégias de marketing são usadas para criar essa relação de dependência emocional entre influenciadores e seguidores?

RAFAEL:- As estratégias de marketing utilizadas para criar essa relação de dependência emocional entre influenciadores e seguidores são altamente sofisticadas e exploram aspectos psicológicos como a necessidade de pertencimento, validação e identificação. Uma das táticas mais comuns é o uso da narrativa pessoal. Influenciadores compartilham suas histórias, desafios, conquistas e vulnerabilidades, criando uma narrativa de vida que é apresentada quase como uma novela em episódios. Ao revelar detalhes de sua rotina, sentimentos e até problemas pessoais, eles geram um senso de intimidade que faz com que os seguidores se sintam parte da vida deles.

Outro ponto é o uso do storytelling autêntico. Quando os influenciadores contam suas experiências em primeira pessoa, como se estivessem conversando diretamente com o seguidor, isso cria uma conexão emocional. Eles compartilham conselhos, conquistas e até mesmo seus “fracassos”, mostrando um lado mais humano. Essa abordagem faz os seguidores acreditarem que eles podem confiar naquele influenciador, como se fosse um amigo ou mentor. E aí entra a dependência emocional: se o influenciador viveu aquela experiência e teve sucesso, o seguidor passa a acreditar que seguir seus passos ou consumir os mesmos produtos podem trazer os mesmos resultados.

As estratégias de marketing também envolvem a construção da autoridade. Influenciadores frequentemente utilizam prêmios, colaborações com marcas, números de seguidores e engajamento para se posicionarem como experts em suas áreas. Isso cria uma sensação de “confiança” nos seguidores, que começam a depender dos conselhos e recomendações deles para tomar decisões – sejam elas sobre um produto, um estilo de vida ou até mesmo sobre questões mais profundas, como carreira e saúde mental.

Além disso, há o uso do “FOMO” (Fear of Missing Out). Influenciadores criam uma sensação de urgência, como em lançamentos de produtos, desafios ou eventos, estimulando os seguidores a agir imediatamente para não “ficar de fora”. Essa tática ativa gatilhos emocionais, levando as pessoas a se sentirem compelidas a acompanhar cada passo, atualização ou conteúdo, reforçando essa relação de dependência.

OG:- Como os seguidores podem adotar uma postura mais crítica e consciente ao escolher quem seguir nas redes sociais?

RAFAEL:- Os seguidores podem começar refletindo sobre o conteúdo que consomem e o impacto que ele tem em suas vidas. Perguntar-se: “Isso me agrega valor? Está alinhado com os meus valores?” é o primeiro passo para uma escolha mais consciente. É importante avaliar se o influenciador promove autenticidade, conhecimento real ou apenas reproduz tendências vazias.

Além disso, é fundamental adotar uma postura de questionamento. Não aceitar tudo o que é dito como verdade absoluta e buscar fontes adicionais para confirmar informações ajuda a evitar a idolatria cega. A prática de “limpeza” periódica da lista de quem segue também é eficaz para manter a qualidade do conteúdo consumido.

OG:- O que os influenciadores podem fazer para manter uma relação mais saudável e ética com seus seguidores?

RAFAEL:- Os influenciadores precisam, antes de tudo, reconhecer o impacto que exercem sobre seus seguidores e assumir uma postura de responsabilidade. Manter uma relação saudável significa equilibrar a linha entre compartilhar experiências e vender um estilo de vida idealizado. Eles podem começar expondo os bastidores, revelando que nem tudo o que acontece nas redes é perfeito ou espontâneo, e que muitos momentos “naturais” são planejados. Isso traz uma dimensão mais realista, quebrando a ilusão de vidas sempre felizes e bem-sucedidas.

Outra atitude importante é limitar a exploração emocional do público. Em vez de usar vulnerabilidades como ferramenta para engajamento, influenciadores devem abordar temas sensíveis com empatia e oferecer apoio genuíno, como direcionar para profissionais quando necessário. Também podem convidar os seguidores a refletirem sobre os impactos das redes em suas vidas, criando conteúdo que incentive o bem-estar digital e um consumo consciente. Desta forma, a relação se torna mais ética, gerando um vínculo baseado em autenticidade e não em manipulação.

OG:- Como você vê o futuro da relação entre influenciadores e seguidores? Existe uma tendência de mudança?

RAFAEL:- Vejo que o futuro dessa relação está caminhando para mais autenticidade e propósito. Com os seguidores cada vez mais conscientes e críticos, a tendência é que influenciadores que se mantêm genuínos e transparentes ganhem mais destaque. As pessoas estão cansadas de vidas perfeitas e busca de uma conexão real, o que pode pressionar influenciadores a revisarem suas estratégias.

Além disso, o mercado está valorizando cada vez mais o “slow content,” conteúdo mais profundo e menos frequente. Influenciadores que promovem bem-estar digital e se preocupam com o impacto de sua influência podem se tornar referências. A mudança parece ser inevitável: uma transição do superficial para o significativo.

OG:- De que maneira o seu livro tangencia essas questões?

RAFAEL:- Meu livro “Bem-Estar Digital” aborda diretamente essas questões ao propor uma relação mais consciente e equilibrada com as redes sociais. Nele, discuto a importância da autoconsciência digital, mostrando como podemos consumir conteúdo de forma crítica, sem nos deixar levar por influenciadores que promovem padrões inalcançáveis.

Também exploro como a busca por autenticidade e equilíbrio é fundamental para melhorar nossa experiência online. A ideia é trazer reflexões e estratégias práticas para viver melhor nesse mundo hiperconectado, incentivando tanto influenciadores quanto seguidores a adotarem uma postura mais saudável e ética nas redes.


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