A noite na Câmara Municipal de Guaíra não é como as outras. O plenário, acostumado a discursos e votações, ganha outro tom, outra luz. Há cheiro de lembrança no ar e um silêncio respeitoso que só se rompe com os aplausos demorados. No centro da cena, ao lado da esposa Luzia Galbiati Penasforte, com quem constitui família, tendo três filhos, Dario, Daniel e Vanessa, netos e bisnetos.
Antônio Penasforte, o Pichico, completa 80 anos de vida e recebe oficialmente o título que a cidade há muito já lhe deu no coração, o de Cidadão Guairense.
Não é apenas uma sessão solene, é uma viagem no tempo. Cada palavra, cada homenagem traz de volta os cenários, as músicas e os presépios que marcam gerações. Quem olha para aquele senhor de olhar sereno talvez não imagine a imensidão de caminhos que ele já percorreu. Mas basta ouvir seu nome para que se abra o baú de memórias de uma cidade inteira.
De menino que ajuda os pais na roça, em terras de Igarapava e Pedregulho, ao artista que embala noites de rádio, grava discos e dá vida a peças de teatro, Pichico nunca é apenas espectador. Ele está sempre no palco da vida, levantando cortinas, montando cenários, organizando festas e enchendo as praças de música e fé. É voz sertaneja, é ator, é diretor, é criador de espaços coletivos. Mais do que isso, é um homem que une arte e comunidade como quem une água e terra.
Nos anos 80, ele inventa um programa sertanejo que se torna encontro obrigatório dos sábados no antigo CSU. Funda o Grupo Teatral Renascer da Alegria, levando cultura a quem talvez nunca tivesse pisado num teatro. Quando sonha com a Paixão de Cristo no Estádio Municipal, prova que a fé também pode ser espetáculo, emoção compartilhada por milhares. Funda a ACOR, abre portas, oferece cursos, faz da cultura um espaço de todos.
Naquela noite, não faltam testemunhos. O vereador André Luís Gregório lembra que não se trata de entregar apenas um diploma, mas de reconhecer oficialmente algo que todos já sabem, Pichico é parte de Guaíra. O amigo Vinícius Ananias ressalta o dom raro que ele tem de transportar pessoas para outras realidades, trazendo leveza e esperança. O filho, Dario, fala do legado de valores, honestidade, dignidade, amor à comunidade, que o pai constrói com a mesma firmeza com que ergue palcos.
E há ainda a música, companheira inseparável. A Lira está presente, e quando os músicos declaram “Nós te amamos, Pichico”, ele responde do jeito simples que sempre é sua marca, “E eu amo muito vocês”.
Ao final, é ele quem, com poucas palavras e voz embargada, resume a essência de sua vida, “Tudo o que faço é com amor por Guaíra e pela sua gente. Se planto alguma semente, é porque a terra aqui sempre é fértil de amizade e de afeto.”
Aos 80 anos, Pichico não recebe apenas uma homenagem. Recebe a confirmação de que sua história se confunde com a da cidade, de que sua arte se transforma em raiz. Agora ele é guairense no papel, mas nós sempre o chamamos de filho de Guaíra. E enquanto há música, teatro, festas de rua e jovens sonhando em dar vida à arte, há sempre um pouco de Pichico presente. Porque há pessoas que não pertencem só à própria família, pertencem a uma cidade inteira.