A carne e a ciência exata

Opinião
Guaíra, 31 de agosto de 2022 - 11h49

Certa vez, uma funcionária que trabalhava com meu pai pediu ajuda para resolver um problema de um trabalho da faculdade dela. A questão, se a memória não me falha, era, a partir dos custos e impostos, preço de venda etc., calcular o lucro da operação. Ela chegou à resposta, mas meu pai, sábio que é, fez uma ressalva: se a empresa receber pelo produto/serviço.

 

É uma questão exata: se vender, se prestar um serviço, você terá custos envolvidos. Mas, se não receber, mesmo o preço tendo sido estabelecido de uma forma que favoreça a lucratividade, pode gerar prejuízos, caso o pagamento não seja realizado. Por isso, trabalhar e receber não constituem, obrigatoriamente, fato real.

 

Então, é preciso tomar cuidado ao compartilhar frases lançadas por “comitês da maldade” espalhados por aí. Uma que tomou conta das redes sociais nas últimas semanas faz a pessoa dizer que come carne porque trabalha. Como visto, de um modo bem básico no exemplo acima, trabalhar e receber são dois processos diferentes. Eu mesmo, prestei serviço a um conselho de classe da área de exatas, há quase 20 anos. Encaminhei a nota fiscal, paguei o imposto, e, até hoje, nada (e nunca mais, claro). 

 

Pois bem, a ideia de que trabalhar garante carne na mesa é, no mínimo, ignóbil. Por falar em exatas, para trabalhar é preciso emprego ou empreender. O segundo depende de dinheiro para investir e o primeiro de vaga aberta. Precisamos parar de pegar casos aleatórios e tratá-los como se a sociedade assim fosse. De uns tempos para cá, há algumas pessoas que vêm tratando desemprego como vagabundagem. Para o mundo que eu quero descer! 

 

Como gestor de pessoas, posso garantir que faltam vagas (se não, não precisaríamos de processo seletivo – como haveria falta de profissionais, ficaríamos com o primeiro que aparecer). Há, também, a questão da idade. Quem passa dos 40 anos encontra por muito mais dificuldade de conseguir uma vaga no mercado de trabalho. A cada década a mais na vida, isso piora substancialmente. 

 

Tem ainda, continuando com a área de exatas, a questão do quanto se recebe. Colaboradores não são milagreiros, não produzem dinheiro. Quanto mais aumenta o custo de vida e ele continua recebendo a mesma coisa, seu poder de compra diminui (é triste ter que descrever uma coisa tão simples dessa…). Portanto, mesmo quem trabalha (e muito), pode não conseguir comer carne, nem oferecê-la aos seus filhos.

 

Para finalizar, um dos grandes ensinamentos do meu pai e da minha mãe foi valorizar e agradecer a Deus (do nosso íntimo) pela graça de cada refeição. Independente de tudo, só por isso, não se deve desdenhar de quem não consegue colocar carne em sua mesa. Todos, sem exceção, estamos expostos a isso, mesmo o maior trabalhador do mundo.

 

Pense nisso, se quiser (e puder), é claro!

 

Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor, escritor e CEO da Nova Hévila Treinamentos. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior 

 


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Coltri Junior

Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

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