A margem não é o rio

Opinião
Guaíra, 5 de novembro de 2021 - 09h09

Muitas figuras de linguagem estão pautadas em conceitos não completos. Uma delas é a margem do rio. Muito se diz que as coisas não estão nem na margem esquerda, nem na direita dele, mas no meio.

O fato é que a margem não faz parte do rio, apenas o delimita, dá sua forma, funcionando como um recipiente. Assim como a lata, ou um barril, ou uma xícara, cheia de uma bebida qualquer.

Por exemplo: a xícara não é o café. O barril não é o vinho. Dão margem, limite, assim como a terra faz com o rio. 

Assim também são as coisas: elas existem, mas, tanto o conceito, por um lado, como a percepção, de outro, não fazem parte delas. Eles são as margens e dão limites à nossa linguagem e a nossa intencionalidade comunicativa.

Por isso, é importante entender que há uma lacuna entre o que dizemos e o que pensamos e/ou sentimos. O sentimento, embora intangível, é real e é, ao menos naquele instante, um todo em si. Djavan nos decifrou essa ideia quando diz que o amor é exato e por assim ser, não é o próprio recipiente (por ser exato, o amor não cabe em si – Pétala). Porém, o que falamos (ou como agimos sob o efeito dele) é um recorte, uma área, uma ideia, portanto, menor do que o que realmente sentimos.

More Than Words (Mais que palavras), da banda Extreme, por sua vez, conta a história de um relacionamento em crise, exatamente por estar construído no vocabulário, mas na frieza da demonstração (Dizer eu te amo / Não são as palavras que eu quero ouvir de você / Não é que eu não queira / Que você diga, mas se ao menos você soubesse / Como poderia ser fácil me mostrar o que você sente / Mais do que palavras é tudo que você tem que fazer para tornar real / Então, você não precisaria dizer que me ama / Pois eu já saberia).

Assim, o que sentimos, e como demonstramos em nossas ações, é muito mais importante do que o que desejamos ou falamos. Precisamos concretizar os nossos relacionamentos de uma maneira consistente, exatamente com que está dentro da lata, da xícara, e não com elas, que apenas são recipientes. A vivência dos sentimentos são insumos para o nosso desenvolvimento e crescimento, já que faz com que possamos, se assim permitirmos, ampliar as margens, os limites, daquilo que está em nossos corações.

Dessa maneira, é importante não confundir a margem com o rio, a xícara com o café. Como diz Gilberto Gil, em Metáfora, “na lata do poeta o tudo e o nada cabem”, mas, a lata não é o conteúdo. Em nossos relacionamentos, é muito mais importante dar atenção ao conteúdo do que ao “vasilhame”. Há muito além do que nos dizem os conceitos e as percepções.

Pense nisso, se quiser, é claro!

 

Prof. Ms. Coltri Junior é estrategista organizacional e de carreira, palestrante, adm. de empresas, especialista em gestão de pessoas e EaD, mestre em educação, professor, escritor e CEO da Nova Hévila Treinamentos. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior 

 


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Coltri Junior

Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

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