A busca pela igualdade de oportunidades nas universidades públicas

Opinião
Guaíra, 12 de agosto de 2017 - 09h41

Uma grande pergunta que tange a filosofia é sobre o desafio da igualdade. Fazer com que todos tenham as mesmas oportunidades, sem distinção, é um desafio da sociedade. Recentemente, a USP (Universidade Estadual de São Paulo) aprovou a instituição de cotas sociais e raciais, que deve começar a ser implementada a partir de 2018, de forma escalonada.

Ou seja, as vagas destinadas a estudantes de escola pública devem subir para a proporção de 50% até 2021 e, dentro dessa porcentagem, será reservada lugares para pretos, pardos e indígenas. Esta é, na verdade, uma tentativa de trazer justiça por meio de uma política pública. Mas será que essa solução atende adequadamente as necessidades da população?

Quando se olha para dentro das universidades estaduais e federais, não é raro encontrar pessoas de classe média alta, com um histórico escolar de escola privada, que tiveram a possibilidade de se preparar para ingressar nas universidades, já que o processo seletivo se dá por exames vestibulares de extremo desafio cognitivo.

Neste cenário, já fica registrado a dificuldade que pessoas de outras classes sociais têm para ingressar no mundo acadêmico. Estudaram em escolas públicas com um ensino de baixa qualidade, os deixando com menos ferramentas para obter sucesso nos processos seletivos.

As diferenças vão além das questões do preparo para ingressar na universidade pública, é só olhar para os estacionamentos das faculdades federais e estaduais que se encontrará muitos alunos disputando vagas para estacionar os seus carros, enquanto poucos dependem do transporte público para chegar até o local de estudo. Todos esses pontos remetem ao grande desafio de como alcançar a igualdade.

E, ao avaliar essa situação, se pode questionar: Será justo uma universidade pública, gratuita, abrir vagas para pessoas que poderiam, muito bem, pagar e estudar em uma universidade particular?

É importante destacar que o atrativo de uma universidade pública não está no fato dela ser gratuita, mas sim, por ser uma instituição de alta qualidade, que reúne professores de boa qualidade intelectual e de um nível professoral que a coloca entre as maiores e melhores universidades do país. Então, é muito raso e superficial querer resolver este problema da igualdade através do sistema de cotas. Essa aparente resolução não analisa o que realmente está em jogo.

A Europa está num debate que traz a reflexão se o que se pretende nas políticas públicas da educação é oferecer uma igualdade de vagas ou de oportunidades. Essa equação precisa ficar clara, os europeus estão pendendo para uma linha de pensamento mais americanizada, onde se fala de igualdade de oportunidades, diferente da política adotada pela USP.

Mas qual a diferença entre esses dois sistemas? A igualdade de vagas é deixar separada uma porcentagem para atender quem fez o percurso educacional em escola pública, e dentro desse número de estudantes existe espaço para as cotas raciais e socioeconômicas. A linha de pensamento que busca a igualdade de oportunidade é construída com foco em um investimento que deve ser feito para corrigir a desigualdade pela melhoria do ensino público.

Se o foco for trazer iguais oportunidades para os estudantes das escolas públicas e privadas, então, será cumprida uma justiça social, oferecendo as mesmas chances, para ambos ingressarem em uma universidade. Esse caminho resolverá a falência do ensino público no Brasil, o problema da qualidade dos professores que estão nas redes públicas e a questão da desigualdade.

O que mostra o quão superficial é adotar o sistema de vagas, que acaba não preparando os futuros cidadãos deste imenso país, desde a educação base, para se desenvolver e enfrentar os desafios do século XXI. No final, ela não resolve a questão, se torna apenas uma solução de aparência, um disfarce de justiça social.

Para resolver o problema da desigualdade, o que deve ser feito é um investimento maciço na escola elementar. Todos devem ter direito ao ensino de qualidade porque quando se tem um ensino fundamental e médio de alto nível se desenvolve estudantes com ferramentas para disputar qualquer processo seletivo, além dos desafios do atual século.


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Rabino Samy Pinto

Formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). O Rav. Samy Pinto ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins (SP), também conhecida como sinagoga da Abolição.

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