A criança pode ensinar

Opinião
Guaíra, 27 de junho de 2017 - 08h02

Quando se assiste a uma notícia de que na cidade de Salto, o lixo acumulado na represa que teve de abrir suas comportas formou massa compacta às margens do Tietê, vê-se que não andamos bem no capítulo civilidade.

O estágio de desenvolvimento de um povo se avalia de múltiplas formas. Uma delas é o trato dispensado ao ambiente, o respeito em relação à natureza, o destino que esse povo confere aos resíduos que produz.

Nos estágios mais adiantados, em países que alcançaram nível ótimo em educação e civismo, não existem “desmanches”, nem “lixões”, nem monturos em todos os espaços. Cada qual é responsável por aquilo que gerou em termos de sobras e descartes.

A própria indústria adquire outro parâmetro de conduta. Adota a logística reversa, que é assumir obrigações em relação a todos os seus produtos, durante a inteira vida útil da produção.

Muito diferente a situação brasileira, em que o desperdício parece constituir regra e os gastos com a coleta de lixo, a manutenção de aterros sanitários e a limpeza dos logradouros públicos representa dispêndio impeditivo de investimentos muito mais consistentes. O que se gasta para corrigir maus hábitos é desviado do que se poderia aplicar na disseminação dos bons hábitos.

Quando se quer mudar o mundo, deve-se começar pela criança. Isso foi o que o nosso saudoso herói Ayrton Senna proclamou. E as crianças representam a esperança de que um dia possamos vir a ser melhores. Mais cuidadosos, mais zelosos pela nossa limpeza, mais higiênicos, mais saudáveis.

Por isso é que vale a pena investir numa educação ambiental intensa e séria desde os anos iniciais da escola. A criança é sensível quando se mostra a ela que desrespeitar o ambiente significa inviabilizar a continuidade da vida neste sofrido Planeta Terra.

A criança convencida de que despejar lixo em lugar inapropriado é algo ilícito e indesejável, será aliada firme da ecologia e poderá mudar os hábitos de sua casa, de sua vizinhança e do entorno. Será um fator de persuasão para uma urgente conversão da Humanidade. Ou mudamos nossos hábitos de consumo ou talvez já tenhamos ultrapassado o limite do tolerável.

Cabe lembrar a advertência de Mikhail Gorbatchev, quando esteve no Rio para a Eco-92: o mundo terá 30 anos para se converter e alterar a sua conduta inclemente em relação à natureza. Depois disso, o mundo continuará a existir, mas prescindirá da espécie humana para isso.

É a humanidade que sofre riscos cada vez mais próximos, mais graves e fatais. Não é o planeta. Se esta espécie que se autodenomina racional não mudar radicalmente sua conduta, se continuar a se servir da natureza como se fora um supermercado gratuito, não haverá salvação.

Aprendemos alguma coisa? Somos mais cuidadosos? Tratamos a Terra com respeito?

O tempo dirá e a esperança é recorrer às crianças, ainda sensíveis, pois os adultos parecem ter perdido a condição de se comover e continuam a proceder como se o desastre não tem nada a ver com eles.

 


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José Renato Nalini

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2019/2020

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