Decidir sobre pessoas é, talvez, a parte mais sensível da liderança. Celebrar contratações acertadas é fácil; difícil é encarar o dilema de reposicionar ou desligar alguém. Ainda assim, essas decisões fazem parte de decidir bem sobre pessoas, mantendo o padrão de excelência e garantindo o futuro da empresa. Mas nem tudo são flores na gestão de talentos, certo?
É provável que você já tenha se lembrado de algumas pessoas do seu time, especialmente aquelas que não estão entregando o que a empresa precisa. E aqui vai a provocação: é mesmo válido manter essas pessoas na sua equipe? Em alguns casos, o problema pode ser resolvido com um reposicionamento interno. Redirecionar talentos para áreas mais alinhadas com seus perfis pode renovar o entusiasmo, aumentar a motivação e melhorar os resultados.
Mas em outros casos, não tem jeito, é hora de encerrar o ciclo. E, para isso, é preciso ter coragem para olhar com honestidade para quem está travando os resultados, os relacionamentos e o crescimento da empresa.
E é aí que entra o turnover provocativo, uma estratégia adotada por empresas que entenderam que manter talentos desalinhados pode custar muito mais do que substituí-los. Quando há necessidade de mudança cultural, quebra de padrões ou elevação de performance, essa medida pode ser transformadora.
Algumas gigantes do mercado, por exemplo, optaram por desligar cerca de 40% da diretoria para alinhar a liderança à nova visão. Afinal, se os líderes não compram a ideia, os colaboradores também não comprarão. Em startups em fase de escalada, também é comum que ajustes no time sejam feitos rapidamente para sustentar o novo ritmo de crescimento.
Mas atenção: essa é uma decisão drástica e precisa ser usada com cautela, principalmente porque a transferência de conhecimento pode ser impactada, e isso deve ser gerido com inteligência. Ainda assim, não se engane: existem benefícios.
Ainda vejo muitos empresários se tornarem reféns de colaboradores considerados “de confiança”, que, mesmo sem entregar o necessário, permanecem intocáveis no time. Costumam me dizer: “Me dá uma dor no coração. Quero tentar ajudar, ela precisa de ajuda”… e passam anos tentando recuperar quem, na prática, já se desligou emocionalmente da entrega.
Entendo que desligar é difícil. Somos seres humanos lidando com seres humanos. Mas a liderança exige coragem para escolhas difíceis. A empresa não é um centro de reabilitação emocional. A empresa precisa de resultados, sem eles, a roda não gira. É preciso usar critérios humanizados no processo demissional, respeitando a história de cada profissional, mas sem deixar de assegurar o melhor para o negócio.
Se decidir bem sobre pessoas é essencial para proteger a cultura e os resultados, tornar-se um gestor de talentos é o passo seguinte para sustentar essa evolução, porque não basta escolher quem fica e quem segue: é preciso desenvolver quem permanece e, sobretudo, fazê-lo crescer junto com o negócio.
Iraci Bohrer é autora do livro O jogo invisível das decisões, mentora, empresária, palestrante internacional e criadora do método exclusivo Leitura do Invisível

 
											
							