Eu, Você, Ele somos NÓS

Opinião
Guaíra, 16 de abril de 2020 - 00h00

Individualidade x coletividade

 

O bem coletivo sempre foi um tema que atravessou os séculos da nossa história, por meio do pensamento filosófico, das teorias do Direito, das religiões e da política, os quais parecem reconhecer a interdependência entre o individual e o coletivo.

Assim sendo, é razoável pensar que a partir da consciência individual se forma a consciência coletiva, a qual rege as práticas religiosas, políticas, econômicas e de direito. De igual modo, a racionalidade, os interesses, os serviços sociais e os direitos fundamentais dos indivíduos são definidos por suas funções.

Entretanto, ao voltarmos nossa percepção para a maneira como atuamos em sociedade, certamente enxergaremos os traços do egoísmo, uma vez que pensar no bem coletivo antes mesmo do que em si, certamente não é uma característica própria do ser humano. Nenhum homem, por mais consciente que seja, gosta de reconhecer o egoísmo como uma de suas características e, ainda que lute para amenizá-lo ou destruí-lo, sabe o quão difícil é tal tarefa.

Nesse sentido, por mais que reflitamos acerca do sentido de coletividade como uma ferramenta poderosa de transformação social, ainda temos dificuldade de colocá-la em prática quando somos chamados a cooperar e sermos corresponsáveis pelo bem comum.

A própria dualidade com que interpretamos o mundo, fragmentando-o em certo e errado, favorece o egoísmo em detrimento do bem coletivo, uma vez que, ao tentar rotular pessoas e acontecimentos, caímos no erro e na ilusão de não compreender que os opostos se confrontam e, também, se complementam: dia e noite são fenômenos contrários, mas um só existe por causa do outro: cada oposto do par carrega uma característica essencial, singular e um movimento específico que os diferencia.

Na espécie humana, é comum ver que cada um quer mostrar o melhor de si e o pior do outro, haja vista as disputas eleitorais injuriantes, a dicotomia do pensamento político partidário manifesto nas redes sociais, a qual busca exaltar seu líder e denegrir a imagem do outro, numa disputa insana que se apresenta na contra mão do bem coletivo, afastando o indivíduo daquilo que é relevante.

Em contrapartida, há milhões de pessoas em todo o planeta que se doam diariamente em prol do coletivo, compartilhando sua individualidade, conscientes de que as transformações não são imediatas e exigem mudança de atitude, de paradigmas e de pontos de vista. Um exemplo relevante e atual é a pandemia de Coronavírus – COVID-19, o qual espalha pânico e desolação entre a população mundial. Diante desse fenômeno, que também apavora a sociedade brasileira, é possível observar que, entre nós, também emergiu o que há de melhor no ser humano: a solidariedade. O sentimento de que é preciso ajudar o outro extrapolou as relações pessoais e, diante de um possível colapso da economia, com o fechamento de atividades não – essenciais, empresários abrem mão do lucro para manter empregos, fazer com que as doações cheguem a quem precisa e adaptam as produções para garantir o abastecimento de produtos essenciais em tempos de contaminação.

Ademais, em meio às divergências quanto a forma correta de agirmos, os profissionais da saúde estão cuidando das vítimas, pessoas estão auxiliando no isolamento de idosos, correntes de oração estão sendo realizadas pelo bem coletivo mundial, pessoas que estão seguindo as normas de higiene, ou seja, o cuidar de si torna-se o cuidar do outro.

Estar consciente da responsabilidade individual significa, portanto, colaborar, de maneira eficiente e duradoura para o bem coletivo, tanto por parte da formação da sociedade, ou seja, dos cidadãos comuns, quanto do ponto de vista do ser político, cuja intenção deveria celebrar o melhor possível do espírito público, patriótico e com consciência de sua responsabilidade.

Uma breve reflexão nos revela que quando somos criança, o sentimento de coletividade começa a ser despertado em nós, seja por meio do aprendizado das regras das brincadeiras, seja pelos sentimentos de disputa e ciúme despertados na vida em grupo. Na vida adulta, o sucesso de uma ação política resulta da aprendizagem construída na infância que resulta em um fluxo interno em direção ao movimento externo, configurado em boas ações.

O que ainda nos enche de ânimo é podermos contar com as ideias brilhantes de pensadores da antiguidade e da modernidade, os quais, de forma geral, nos mostra que vivemos em sociedade porque é nela, e somente nela, que nos tornamos plenamente humanos.

E, ainda que a busca de uma forma harmoniosa e solidária de viver nos pareça utopia, é possível transformar a realidade e fazê-la possível quando pensamos no coletivo – no bem comum -, almejando-o e trabalhando para uma sociedade que deseja ser justa e civilizada.

POR:

Conceição AP. F. B. Nicolino – Pós graduada em Gestão Escolar e Gestão Educacional, Diretora aposentada pela SEE/SP.

Simone Cristina Succi – Professora/Doutora em Inglês, formadora de professores junto a EFAPE/SEE – SP.


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