Juventino, Jô e o Cramulhão

Opinião
Guaíra, 24 de junho de 2022 - 10h45

Em Pantanal, Trindade, vivido por Gabriel Sater, diz que tem um pacto com o coisa ruim (esse pacto é feito pela troca de desejos ou necessidades, em troca da alma).

 

Quando José Leôncio propõe uma disputa entre os três filhos pela cela de prata deixada por seu pai, Juventino se deixa levar e aceita, para ganhar o prêmio, fazer o pacto com o dito cujo. Quando estamos absortos, alienados ao que acontece ao nosso redor, a ideia é inconcebível e chega a ser chocante.

 

Não sei se é objetivo do autor, mas podemos levar essa situação a uma relação arquetípica e nos colocarmos a pensar: será que não fazemos isso no nosso dia a dia, também? Não por um sucesso extremo, mas para podermos colocar o pão em casa (por vezes, amassado)?

 

Certa vez, quando eu trabalhava em uma instituição de ensino, no fim do ano, cada coordenador de curso (era meu cargo) foi obrigado a indicar um professor para ser demitido (decisão, por si só, estapafúrdia). Assim o fiz (se discordo e faço, o que isso significa?). Quando voltamos das férias, o vice-reitor me chamou e me entregou a carta de demissão para eu apresentar àquele(a) professor(a). Quando li, vi que não era a minha indicação, mas sim, aquele que havia me levado àquela empresa.

 

Obviamente devolvi a carta e disse que não era ele quem eu tinha indicado. Com seus olhos esbugalhados, o diretor disse que era uma decisão institucional e pronto. Se é assim, por que a Instituição (como se um ser inanimado tomasse suas próprias decisões), ou ele, não comunicou o professor? Embora não fosse minha vontade, fui “obrigado” a informar ao meu mestre que ele estava desligado do quadro. 

 

Claro que eu poderia não fazê-lo. Aí, quem iria junto para a rua seria eu. Como o supermercado, a loja de roupas, a farmácia, o plano de saúde, não estão nem aí para os nossos ideais, acabei fazendo. Não é, de certa forma, se vender a uma situação de covardia da outra parte? 

 

É bom entender que, por vezes, as empresas vendem a alma para seus clientes. Foi o caso do jogador Jô (ex-jogador do Corinthians). Ele estava de licença médica por estar com pé machucado. Um torcedor (de araque) o filmou tocando pagode (com a mão, não com o pé) e isso fez com que o jogador perdesse o emprego (importante ressaltar que o torcedor, cliente, estava lá; provavelmente trabalha; e talvez tivesse que acordar cedo no outro dia; ele pode, o jogador, não).

 

O fato é que nos acostumamos com a venda da alma (velada), mas nos assustamos quando o fato é escancarado. Enfim, se quisermos uma relação harmônica, saudável, humana e verdadeiramente cristã (sem hipocrisia e sem falácias), precisamos valorizar os ideais (nossos e dos outros, porque, por ser ideais, tendem a ser comuns). Toda as vezes que tivermos que dar uma desculpa por conta de uma de nossas ações, colocando-os em segundo plano, perderemos parte de nossas vidas.

 

Pense nisso, se quiser, é claro!

 

Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor, escritor e CEO da Nova Hévila Treinamentos. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior 

 


TAGS:

Coltri Junior

Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

Ver mais publicações >

OUTRAS PUBLICAÇÕES
Ver mais >

RECEBA A NOSSA VERSÃO DIGITAL!

As notícias e informações de Guaíra em seu e-mail
Ao se cadastrar você receberá a versão digital automaticamente