Andei pensando sobre os jogos olímpicos cuja abertura aconteceu nestes dias e logo me ocorreu que a gente, desde que nasce, enfrenta uma verdadeira maratona. Vejo-a como a olimpíada da vida. Digo assim porque toda vez que observo o globo terrestre, todo azul, belíssimo nessas fotos feitas por astronautas, lembro que devemos ter vindo mesmo das estrelas para esta arena de lutas que é aqui na superfície. Parece que chegamos e vivemos numa casquinha externa deste globo enorme e belo. Um cenário a percorrer, sempre perguntando sobre o significado intrínseco da existência.
Não sei responder, mas ando pensando nas inúmeras voltas nas pistas da dita corrida interminável de milhões de anos já percorridos pelos humanos. Desde que descemos das árvores, bípedes, deixamos de ser nômades, passamos a cultivar os alimentos no campo, descobrimos o fogo e passamos a cozinha-los. Com isso nosso cérebro se desenvolveu e pudemos nos reunir em famílias, protegendo a prole e constituindo comunidades. Deste estágio à industrialização foi um pulinho de milhares de anos na história da humanidade, com vantagens e desvantagens. Lembro algumas.
A tecnologia veio auxiliar o homem. Desde o arco-e-flecha, passando pela máquina a vapor e chegando à internet. Nesse entremeio surgem descobertas como a das vacinas, com Jenner, em 1800, a descoberta dos antibióticos por Fleming, em 1924, só para citar alguns fatos científicos recentes e compreendermos seu poder de salvar de morte por afecções banais. São exemplos de avanços benéficos à humanidade toda e prolongam a corrida. Vale lembrar ainda que o homem ereto passou a entortar a colunacom o trabalho, com o sedentarismo forçado do transporte motorizado e, recentemente, quando descobriu a internet. Hoje, o sedentarismo e a poluição atmosférica são o preço a pagar pela nossa modernidade, sem falar noutras mazelas. E tem mais.
Citando o Brasil e lembrando o consumismo moderno, para cada celular produzido lá na Ásia exportamos oito toneladas de minérios. A meu ver, aí começam os obstáculos na nossa maratona existencial. Sem falar das variações de clima, de temperatura, da poluição química da água e do ar, estamos numa trilha escolhida com complicados obstáculos à frente. Esta corrida não é fácil. Mas não está perdida, penso.
A nosso favor, cito a natural miscigenação de etnias neste país com aconsequente riquezacultural.Neste inicio de milênio, destaco os efeitos da nossa natural acolhida fraterna aos refugiados de diferentes origens. É encantador perceber nos olhos deles a alegria e descontração quando aqui chegam. Brasil é um país continental e nosso povo é acolhedor. Os brasileiros participam da maratona existencial, sim, mas com uma sensação de que seus valores ainda serão evidenciados e reconhecidos pelos nossos irmãos de outros países. São valores mais profundos da alma humana. A Olimpíada pode ser apenas uma amostra de oportunidade. Bela amostra mas a corrida continua…
Eliminadas as nossas mazelas(e não são poucas), o Brasil será o coração do mundo.
É a nossa esperança.
Colaborador: Francisco Habermann. Contato: fhaber@uol.com.br