Em termos de pagar micos no exterior, não foram dias muito bons para o brasileiro, temos que concordar. Começamos querendo a ensinar a embaixada alemã que o nazismo era uma doutrina de “esquerda” e fechamos a semana taxando a “The Economist” como uma revista comunista. Vergonha pouca é bobagem.
Acho que não há imagem mais ilustrativa que essa para explicar o período que vivemos. Em 100 anos, os livros de história trarão os prints dos comentários nas redes sociais para explicar aos estudantes do futuro o que foi a “Polarização política do início do século”.
Me lembro bem quando um grande professor que eu tinha me falou um ensinamento que me marcou para o resto da vida. “Não há nada mais burro que um computador”. Para um garoto que acabara de ganhar seu primeiro TK-85 e começava a se aventurar nos primeiros códigos, aquilo foi um choque.
Como assim um computador é burro?
A explicação veio serena.
“Um computador não pensa. Apenas obedece cegamente uma ordem sem ao menos questionar. Tem um pensamento binário. É apenas ligado ou desligado. Teclas ativadas ou não. Havendo apenas duas opções de resposta, são necessários milhões de códigos para programas simples.”
Teria sido ótimo se ele ainda estivesse vivo e presenciasse o aparecimento dos computadores quânticos, mas isso é outra história.
A conclusão de tudo isso: estamos nos tornando iguais ao computadores. Em um quadro involutivo difícil de explicar em bases biológicas, cada vez vemos pessoas com um pensamento mais simplório. Em um mundo com milhões de tons de cinza, enxergamos apenas o preto e o branco.
Essa binarização do pensamento é muito fácil de se perceber, especialmente nas redes sociais. Todos que pensam diferentes de nós são unificados em um único grupo. Se não vota em Bolsonaro, é esquerdista. Se não considera a prisão de Lula um golpe a democracia, é fascista. Para quem vive nos extremos, basta uma pessoa pensar um pouco diferente para ser taxada do extremo oposto.
E isso só se acentua quando vamos retirando de nossa lista de amizades digitais todos aqueles que pensam diferente. Ao excluirmos os contrapontos de nossa visão do mundo, passamos a dividir bolhas sociais apenas com aqueles que pensam de forma muito igual. O que só piora ainda mais a polarização, afinal de contas, se todo mundo da minha bolha concorda comigo, significa que estou certo.
Vale a pena aqui um exercício de auto-avaliação. Se você passa a juntar todos aqueles que pensam diferente do que você em um mesmo grupo, vale a pena uma reflexão profunda.
Porque daqui a pouco, até os burros computadores terão evoluídos para deixar o binarismo para trás.
Marcelo Lacativa