O JACARÉ É UMA CADEIRA

Opinião
Guaíra, 5 de agosto de 2022 - 08h05

Roberto Carlos começa a canção Traumas com o verso (sem entrar no mérito da canção e sua intencionalidade): “meu pai um dia me falou pra que eu nunca mentisse”.  Creio que a maioria de nós viveu isso, aprendeu, da boca de sua mãe, de seu pai e/ou de quem foi responsável, que mentir não é bom (usando um eufemismo, aqui, porque, na verdade, a mentira é algo pernicioso).

 

Quando eu estava no 2º ano colegial, meu professor Zé Colmeia (também conhecido pelo apelido de Cláudio), nos apresentou a seguinte frase: “uma mentira repetida várias vezes tende a se tornar uma verdade”. E aqui, é preciso entender o contexto: uma mentira, é sempre uma mentira, mas, quando as pessoas acreditam, para elas, apenas e tão somente para elas, aquilo passa a ser verdade.

 

Esse é o princípio básico utilizado por quem fomenta notícias falsas, as chamadas Fake News. Não é porque há pessoas que acreditam na mentira, que ela se torna verdadeira. Ela continua sendo falsa. Por exemplo, alguém pode dizer que uma cadeira de madeira é um jacaré. E do jeito que as coisas vão hoje, muitos vão acreditar. Mas, uma cadeira sempre será uma cadeira. E o inverso é verdadeiro. Há quem possa dizer que um jacaré é uma cadeira. E haverá quem irá lá se sentar nele. Aí já era… era um jacaré.

 

Podemos, sim, divergir, opinar, debater sobre o uso da cadeira. Serve para sentar-se, para trocar lâmpada, como instrumento de ataque ou defesa, enfim, para um tanto de coisas, mas, ainda assim, é uma cadeira.

 

Um dos mais marcantes acontecimentos ruins da minha vida foi perder um tio muito querido, Célio, quando eu tinha 7 anos de idade (ele tinha 25 e seria meu padrinho de Crisma). Lembro-me que passei o velório inteiro olhando para o peito dele para tentar buscar sua respiração, torcendo para que ele se levantasse dali, para que aquilo fosse um sonho, sei lá, que tudo fosse ilusão. Não teve jeito. O fato estava consumado. Era real. Não cabe interpretação. 

 

Aí vem a questão: podemos interpretar, sim, o porquê, como lidar com a situação, dentre outras, mas o fato não muda. E isso nos gera uma grande responsabilidade porque, quando tentamos fazer a cabeça das outras pessoas com aquilo que não é, seja intencionalmente, seja por inocência (eufemismo de novo), lançamos mais mentiras aos quatro ventos. Assim, nos tornamos eternamente responsáveis pelos resultados que isso venha a causar. 

 

Enfim, mesmo se você ama a espanhola e mentiu por tantas vezes por não poder vê-la chorando, isso não deixa de ser errado. Deixo aqui a fala do Ministro do STF, Luís Roberto Barroso, na última segunda-feira: “É preciso fazer com que a mentira volte a ser uma coisa errada. A mentira não é uma forma legítima de argumentar. As pessoas podem divergir quanto à interpretação dos fatos, mas elas não têm o direito de mentir quanto aos fatos”.

 

E isso vale para cada um de nós.

 

Pense nisso, se quiser, é claro! 

 

Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor, escritor e CEO do Hardcore Game Channel. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior 

 


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Coltri Junior

Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

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