O porteiro e o bom senso

Opinião
Guaíra, 27 de março de 2022 - 14h31

Certa vez, quando ainda criança, estávamos viajando de ônibus de Jaboticabal/SP para São Paulo, quando, na via Anhanguera, um carro nos ultrapassou e entrou em nossa frente de modo abrupto. Com isso, o motorista perdeu o controle e foi para fora da pista. Capotou o carro várias vezes. Era noite. Só víamos, distante, as luzes do carro acesas.

 

O motorista, então, parou o veículo e muitos passageiros saíram para prestar socorro junto com ele. Uma passageira se revoltou e brigou com todo mundo. Ela não queria que parasse, pois o marido dela estaria a esperando no posto policial próximo dali. 

 

Independente de toda confusão que ela causou, o motorista manteve a posição e o socorro foi prestado. Tempo depois trouxeram a vítima ao ônibus. Ele tinha muitas escoriações, mas não estava em estado grave. Chegou andando (mancando, claro). Para surpresa de todos, era o marido daquela senhora que não queria que o ônibus parasse para o atendimento.

 

Segundo ele, atrasou e ficou preocupado no caso de a esposa chegar primeiro. Assim, quando viu o ônibus, saiu em disparada e o ultrapassou para chegar à frente. 

 

Então, e se o motorista não parar para socorrer? O que poderia ter acontecido? Por outro lado: ele e os passageiros, ao irem prestar socorro, não deixaram o ônibus exposto?

 

Pois bem, essa foi a justificativa que a empresa do grupo IF3 usou para demitir o porteiro João da Silva que, socorrista de formação, deixou seu posto para prestar socorro em um acidente na frente do prédio em que trabalhava. Descumpriu a regra. Faltou bom senso à empresa?

 

Assim, trago aqui a reflexão sobre o perigo do bom senso. Tempos atrás, fui convidado para ministrar um curso já formatado. Nele havia uma história de um frentista de posto de combustível que, ao receber a instrução de que não poderia mais receber pagamento em cheque, assim o fez com um cliente fiel e que só pagava dessa maneira. Este, claro, foi abastecer em outro posto (ser fiel, aqui, não significa relacionamento eterno).

 

A ideia do idealizador do treinamento era de que o frentista deveria ter bom senso e receber o pagamento em cheque. Eu, então, disse: vamos provocar demissões! Se ele assim o fizer, há um grande risco de chegar com o cheque no caixa e o gerente falar: “que parte do ‘não aceitamos mais cheques, você não entendeu’?”. 

 

Foi o caso do Juliano, demitido pela empresa. Desobedeceu a uma regra, contando com o bom senso da empresa. Como ver um acidente e, ainda sendo socorrista, não prestar atendimento? Como não se pôr a salvar uma vida? Realmente, é muito inseguro contar com o bom senso!

 

Agora, ficam algumas questões: e se o acidentado fosse um morador? E se fosse o dono da empresa? O “bom senso” mudaria? Por que o prédio não rompeu o contrato com essa organização?

 

Pense nisso, se quiser, é claro!

Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor, escritor e CEO da Nova Hévila Treinamentos. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior 

 


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Coltri Junior

Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

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