Propostas para que pequenos negócios sobrevivam à pandemia

Opinião
Guaíra, 21 de abril de 2020 - 08h17

No contexto da pandemia da Covid-19, a economia mundial está chegando ao nível

sete, numa escala de um a dez, no relatório de ameaças situacionais da consultoria

norte-americanaBain& Company, uma das maiores especialistas mundiais em gestão e

negócios. É pertinente projetar o severo impacto conjuntural nos 16 milhões de

pequenos negócios do Brasil, somando microempreendedores individuais, micro e

pequenas empresas, sendo cerca de quatro milhões somente no Estado de São Paulo.

Eles geram 52% dos empregos com carteira assinada e 27% do PIB. Em 2019, criaram

mais de 700 mil novos postos de trabalho, evidenciando sua importância

socioeconômica.

Pesquisa recente do Sebrae Nacional indica que a esmagadora maioria das empresas

(90%) está sendo afetada pela pandemia e 62% relataram que a queda na receita já

atingiu mais de 50%. Revelou, ainda, os custos que mais pesam neste momento e que,

sem operação normal, tornam-se os principais gargalos para manutenção da atividade:

aluguel (46%), pessoal (45%), matéria prima (42%), impostos (41%) e empréstimos e

financiamentos (39%).

Estudo do Sebrae-SP, publicado em 19 de março, complementa o cenário: 72% dos

empresários tiveram queda de vendas e 60% do fluxo de consumidores. Um em cada

quatro delinearam as medidas a serem adotadas para se manter em atividade: redução de

mão de obra (21%); suspensão das atividades (16,4%); e diminuição de estoque. Para

reforçar, análise da JP Morgan, também de 19 de março, mostra que o caixa dos

pequenos negócios deve durar, em média, 30 dias. Lembrando que essa média é válida

se o empresário faz uma gestão administrativa e financeira bem equilibrada. Ou seja,

pode ser ainda pior.

Com base nos dados acima, nossas projeções, caso se confirme a progressão geométrica

da pandemia no Brasil, indicam que, até o final de abril, haverá aumento de demissões,

elevação da inadimplência de impostos e de financiamentos e encalhe de estoques em

fábricas e lojas dos setores não essenciais. Em maio de 2020, começará uma paralisação

geral das cadeias produtivas. Em junho, atingiremos o ponto crucial. Ou a economia

começará a se reorganizar ou explodirá a mortalidade empresarial – alguns especialistas

falam em 60% da taxa de encerramento de pequenos negócios, precarização das

relações do trabalho e empreendedores vivendo em estado de subsistência, na

informalidade. Cada um que parar, encerra, em média, quatro postos de trabalho.

As medidas anunciadas até o momento pelos governos federal e estadual são, apesar de

bem-vindas, ainda tímidas diante do cenário. Para ficar apenas nos temas mais

preocupantes para o empresariado, o volume de crédito liberado é insuficiente. Projeta-

se que seja necessária a injeção de R$ 40 bilhões/mês para amortização das contas das

micro e pequenas empresas, levando em conta que cada uma, em média, precisa de R$

20 mil/mês para continuar em operação. Isso, sem falar na demora em disponibilizar os

recursos, na burocracia e lentidão de liberação e nas informações desencontradas.

Realizamos uma série de reuniões e debates com lideranças públicas e privadas e

empresários. Chegamos juntos a propostas de medidas emergenciais, focadas nos quatro

aspectos que mais preocupam os empreendedores: pagamento de aluguel, manutenção

de pessoal, pagamento de matéria-prima, pagamento de impostos e de empréstimos

bancários. Sugerimos a postergação por seis meses da incidência de todos os impostos

(federais, estaduais e municipais), parcelamento do saldo devedor em 36 meses

realização da reforma tributária, postergada há décadas. Quanto ao financiamento,

 

facilitar ao máximo acesso às linhas de crédito emergenciais e orientar para negociação

positiva de dívidas.

Para manter o nível de emprego, devem ser flexibilizadas as relações trabalhistas no

período da crise, com autorização de livre negociação salarial, liberação dos encargos de

pagamento de férias, 13º salário. Cabe, ainda, articulação com a OAB para minimizar

processos trabalhistas, além de se realizar nova rodada de ajustes da legislação. Quanto

ao aluguel, vale intensificar negociação e acesso a linhas de crédito específicas, bem

como manter entendimento com a OAB para minimizar processos judiciais de despejo e

cobrança. Sugere-se, também, campanha que conscientize locadores a reduzirem valores

até o limite da isenção total.

Para minorar os efeitos da crise na aquisição e pagamento de matéria-prima, as

propostas são: facilitar acesso a financiamento emergencial, sensibilizar fornecedores a

postergar o prazo das dívidas, reforçando orientação para a negociação ganha-ganha, e

subsidiar segmentos industriais com alto poder de geração de empregos. "Não é o mais

forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças",

diz um ditado popular. Pois bem, construindo novos caminhos e aplicando já as

melhores práticas, numa verdadeira aliança pela sobrevivência dos pequenos negócios,

temos a real oportunidade de garantir que reorganizem suas operações, fortaleçam suas

estruturas e realizem o que fazem de melhor: gerar trabalho, renda e divisas.

Tirso de Salles Meirelles, graduado pela Faculdade de Economia São Luís (SP), tem

pós-graduação em Políticas Públicas (FAAP-SP), é presidente do SEBRAE-SP e vice-

presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (FAESP).


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Tirso de Salles Meirelles

Tirso de Salles Meirelles, graduado pela Faculdade de Economia São Luís (SP), tem MBA em Agronegócios (FGV-SP) e pós-graduação em Políticas Públicas (FAAPSP), é presidente do SEBRAE-SP e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (FAESP).

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