Guaíra, assim como toda cidade pequena, também foi povoada por “tipos folclóricos” que apareciam, deixavam a sua marca registrada e depois sumiam como por encanto! Estes “tipos” são muito mais marcantes do que muitas pessoas, pois são inesquecíveis, enquanto que alguns de nós seremos – daqui uns anos – um retrato na estante e depois… Nem isso! Passou por aqui uma pessoa íntegra chamada “Estabé” nos anos 50/60, quando se usava muito os fogões a lenha. Estabé cortava lenha como ninguém: cortava e depois alinhava os tocos no canto do quintal… Os empilhava e eram meticulosamente do mesmo tamanho e da mesma altura. Um dos mais antigos era o “Lambujinha”, que ganhou este apelido porque sempre pedia uma “lambujinha”, ou seja um pedacinho de algo para comer. Era apaixonado pelo saudoso Zé Moisés, que tinha uma alfaiataria e era ponto de encontro dos amigos. Tivemos a “Maria Roxa” e o “Pacu”… Este corria a cidade com sua caixa de engraxar e deixava os sapatos num brilho só. Seu ponto de parada era a rodoviária. Houve a “Amélia”, um tipo esguio, branquinha, usava sempre vestido ou saia rodada e como era descendente de italianos, chamava todo mundo de ‘bem’, mas não era um ‘bem’ qualquer, era cheio de sotaque e este saia fino e comprido! A “Maria do Saco” era o terror da criançada, mais pelo medo imposto pelas mães, porque como os outros, era ingênua e inofensiva. Andava sempre com duas sacolas grandes e quando ganhava alguma coisa de alguém, tirava de uma dessas sacolas um saquinho de plástico, cuidadosamente dobrado para guardar o seu presente. Suas sacolas acomodavam roupas que eram limpíssimas e dobradas cada uma no seu lugar. Mas, um dos tipos mais marcantes, até hoje, foi o “Pepino”, que ganhou até nome de praça: Agripino Cinatra. Se vestia sempre com camisa de manga comprida e gravata. Vendia picolés nas ruas da cidade e se tivesse jogos, aos domingos, nas fazendas, como a fazenda Sertãozinho por exemplo, Pepino enchia o carrinho de picolés e ia vendê-los por lá. Sua fala era meio truncada, mas todos gostavam de conversar com ele para vê-lo, na sua inocência, falar que tinha um “mião” de cabeças de gado, que tinha um “bião” de alqueires de terra… Para a época, falar em “milhões e bilhões” era uma exorbitância tão incomum que quando alguém perguntava se alguma coisa custava caro a resposta vinha imediata: “Só o Pepino para responder!!!!” Assim, uma pena que nosso Pepino já tenha partido, se não seria ele chamado e somente ele saberia dizer quanto os políticos processados pela Lava Jato desviaram de dinheiro para suas contas particulares. Por isso ele é tão lembrado nos dias de hoje!!!