
“Ah, por favor, é brincadeira. Hoje em dia não se pode falar mais nada”. Se você pensou isso, bem, tenho que informar que se a piada constrange, diminui ou ofende uma pessoa, gênero, etnia, orientação sexual ou religião, então o melhor mesmo é se calar. Pois o que para alguns é só uma brincadeira, na verdade, é uma microagressão. E elas são muitas e tão variadas que poderiam encher uma página inteira.
“Deve estar de TPM”, “Isso é falta de homem”, “Mulher no volante, perigo constante”, as clássicas sobre cartão de crédito e mulher, e por aí vai. Comentários que estão tão enraizados na nossa sociedade que, muitas vezes, quem os diz não percebe o quanto são nocivos.
Infelizmente, as microagressões não param por aí. Estão em gestos como a interrupção da mulher enquanto ela fala, na necessidade de explicar coisas óbvias referentes à área de atuação e especialidade dela, até manipulações psicológicas que fazem uma mulher duvidar de si.
Essas pequenas violências cotidianas, muitas vezes tão sutis que demoram para serem percebidas, afetam a saúde mental, minam a confiança, a autoestima, causam estresse e muitas vezes depressão. E, antes que alguém diga que isso tudo é mimimi, saiba que isso também é uma microagressão. Que diminuir e invalidar os sentimentos e as dores do outro também é uma forma de agredir.
Se você está lendo e pensando: “Certo, entendi. Mas e agora?”. Agora é hora de olhar com mais empatia para quem está ao redor. Um olhar atento e cuidadoso que capture situações como essas e não finja que nada foi visto ou percebido. Um olhar que impulsione homens a dizerem para seus amigos que aquela piada sobre mulher não tem graça. Que encoraje mulheres a não forçarem um sorriso diante de comentários “brincalhões” que a inferiorizam, a defender outras mulheres em situações de constrangimento, dar apoio.
Quem sabe assim, no futuro, nossas filhas levantem a mão em resposta à pergunta que fiz lá no começo. Quem sabe elas não ouçam nunca “que só podia ser mulher.”
*J.C. Lydes ou Jéssica Chagas tem 30 e poucos anos, é baiana, mora em São Paulo e escreveu A história de como eu morri

