”Se a tristeza e a angústia não passam, o estado é melancólico”, disse Hipócrates, o pai da medicina, em seus Aforismas.
A antiga melancolia, hoje chamada depressão, é uma condição médica cada vez mais comum, que traz inúmeros prejuízos sociais, acadêmicos, profissionais e familiares para aqueles que sofrem deste mal e para as pessoas a sua volta.
Trata-se de uma das doenças mais democráticas dentro da medicina, estando presente da infância à velhice, acometendo pessoas de todas as classes sociais em ambos os sexos.
Sua causa é multifatorial. Existe um componente genético importante, principalmente quando há um relato de quadro depressivo em familiares de primeiro grau. Além do fator genético, grandes estresses que a pessoa foi submetida podem entrar como gatilhos para o desenvolvimento do quadro (por exemplo: A perda de um ente querido, falência financeira, entre outros).
Tanto a depressão quanto as tentativas de suicídio são mais comuns em mulheres, no entanto, os homens acabam por ter uma taxa maior de óbito por usarem de métodos mais letais em suas tentativas (enforcamento e armas brancas ou de fogo).
A tristeza persistente e a falta de ânimo e prazer nas atividades que antes interessavam o indivíduo são os principais sintomas desta doença e, pelo menos, um destes deve estar presente para que se considere tal diagnóstico. Juntos destes pode haver alteração do sono e do apetite (aumento ou diminuição), pensamentos de menos valia (como culpa ou inutilidade), diminuição da atenção e concentração, choro fácil, irritabilidade e impaciência, pensamentos recorrentes de morte e ideação suicida e, por vezes, esta ideação pode ganhar forças e evoluir para uma tentativa.
Uma vez que é sabido que se trata de uma doença cada vez mais comum e com consequências potencialmente graves, é crucial entendermos que sua causa não tem relação com falta de fé, de algum trabalho para ”ocupar a cabeça” ou falta de vontade do seu portador em sair de tal situação.
O deprimido não precisa do julgamento de terceiros, mas sim de empatia e interesse dos que estão ao seu redor. Ao invés de cobrar que a pessoa se esforce para sair de tal condição, o mais prudente é mostrar que está ali para saber como a pessoa se sente, e que auxiliará a procurar ajuda especializada.
É importante, em grande parte dos casos, que a família avalie a possibilidade de vigilância do indivíduo, principalmente, em casos com ideação suicida com ou sem planejamento (exemplo: já pensar local, método ou data em que cometerá sua tentativa). Pessoas que moram sozinhas, que não têm dependentes ou com acesso a métodos letais (armas, cordas, venenos, medicações) se encontram com fatores de risco importante para tentar suicídio. Caso a vigilância deste não seja possível, é necessário muitas vezes um período de internação hospitalar para promoção mais segura de tratamento em fase inicial.
Se algum de vocês se identifica com a descrição feita há pouco, ou enxerga em algum amigo ou familiar este quadro, busque ajuda e procure atendimento especializado com psiquiatra e psicólogo. O tratamento é individualizado, tanto na escolha de qual a melhor medicação de uso quanto no método de psicoterapia a ser empregado. Importante entender que o tratamento deve ser empregado por um profissional capacitado, pois, muitas vezes, a automedicação pode gerar uma piora dos sintomas e desencadear um desfecho grave.
Apesar de serem muitas vezes tratados como tabu, é necessário falar sobre depressão e suicídio. É importante compreender que é uma doença, que o tratamento existe e que a taxa de melhora é significativa. É importante compreender que existe vida após depressão, que existe o prazer em vivê-la.