Vale a pena ler Karl Marx?

Opinião
Guaíra, 21 de junho de 2018 - 09h44

Por Dr Renato Nalini

A celebração dos duzentos anos de nascimento de Karl Marx em Trier, na Alemanha, suscita um retorno à sua obra. O fato de o comunismo haver colhido o fracasso retira do marxismo aquela aura transgressora e talvez se possa agora analisar suas propostas com serenidade. Ele esteve presente em todo o século XX como inspiração, anseio, desafio ou ameaça.

Marx era perfeccionista. Elaborou e reelaborou sua obra durante muitos anos. Em vida, só conseguiu publicar um dos volumes de “O Capital”.

No primeiro livro, ele se propôs examinar o processo de produção do capital. No livro segundo, aborda o processo de circulação do capital.

O capital pode adotar diversas modalidades de existência. Em seu trajeto, ele atravessa três fases: surge como dinheiro, adquirindo na circulação os insumos para trabalhar. Ingressa na esfera da produção, convertendo-se em capital produtivo e gera o mais valor, motor de todo o processo. Consegue em seguida incrementar-se, trasladando-se à esfera da circulação como capital mercadoria.

São sequências alternantes mas, na verdade, coexistem no tempo. A continuidade do processo exige que as três modalidades da metamorfose estejam disponíveis o tempo todo.

O capital só é benéfico no plano da produção. Quando está na circulação, é negativo. Atravessa uma fase de desvalorização. Por isso é que esta etapa deve ser acelerada para aumentar a fase da produção.

Para encurtar o tempo da improdutividade, é preciso reduzir o processo de circulação. Mediante contração do espaço, aglomerando as unidades de produção e consumo ou aumentando este consumo. Autores contemporâneos como Paul Virilio, Elmar Altvater, Zygmunt Baman e Manuel Castells enxergaram nesses processos as características da modernidade capitalista.

O relacionamento entre o capital empregado na implementação da empresa e o capital utilizado para adquirir insumos e para pagar os trabalhadores é complexo. Por isso é que, mesmo enquanto Marx era vivo, já havia marxismos miscelâneos, amiúde discordantes. Tanto que o próprio Marx teria dito “A única coisa que sei é que não sou marxista!”. É o que consta de uma sempre citada correspondência entre Engels e Konrad Schmidt.

De qualquer forma, ler hoje “O Capital”, seus três livros, é importante. Pois a obra continua a ser uma daquelas muito mencionadas, pouco realmente lidas.


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José Renato Nalini

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2019/2020

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