Colunista

Tragédia anunciada em Araçatuba: um ano depois, a história se repete

No dia 30 de julho de 2020, há pouco mais de um ano, criminosos transformaram Botucatu em um cenário de guerra, com tiroteio, armamento pesado e reféns. Na ocasião alertei que, sem empenho do Governo para equipar sua polícia investigativa, o interior paulista viveria sob risco permanente.

No dia 30 de agosto, a situação se repetiu em Araçatuba, onde criminosos dominaram a cidade e levaram terror aos seus 200 mil habitantes com rajadas de metralhadoras e explosivos. Um ano se passou e o Governo fez muito pouco para evitar essa nova ação criminosa.

Entre as ações de Botucatu e Araçatuba, o grupo criminoso agiu com mais tecnologia. Nesta madrugada, eles usaram explosivos com sensores de movimento e drones com câmeras para monitorar a movimentação da polícia.

Em um ano, o investimento na Polícia Civil se limitou, basicamente, à troca de pouquíssimas pistolas antigas por armas mais novas e a compra de algumas viaturas blindadas.

Muito pouco para o Estado mais rico do País. Ficou provado mais uma vez que a segurança pública não estava preparada para enfrentar os criminosos da forma como vieram. Ficou demonstrado que o Estado não detinha as informações necessárias para se antecipar à ação.

O governador abriu mini Deics por todo o interior, jogada de marketing que não veio acompanhada de nomeações e valorização salarial dos policiais. Uma prova de que somente a mudança de nomenclatura da estrutura organizacional não gera eficiência no combate ao crime organizado.

São Paulo não equipa e não contrata aprovados em concurso para que a Polícia Civil tenha condições de cumprir seu papel de polícia judiciária. Quando Doria assumiu como governador, faltavam de 13 mil policiais civis em São Paulo. Hoje faltam quase 15 mil.

A prevenção e repressão de crimes são tarefas do Estado. Das polícias civis e militares dos estados. Este crime é o reflexo do completo abandono da segurança pública por parte do governo paulista.

Crimes semelhantes já ocorrem em Guararema, Araraquara e Santos. Como há um ano, a resposta está em investir na estrutura de investigação da Polícia Civil e valorizar os policiais com salário justo, para antever e evitar esses crimes.

A ação precisa ser realizada com antecedência, por intermédio de investigação, para monitorar a comunicação dos integrantes do crime organizado, conhecer previamente o plano de ataque e efetuar as prisões antes do primeiro tiro.

Quando um grupo coloca nas ruas 30 criminosos com armamento pesado, explosivos e uma ação planejada, fica quase impossível que os policiais civis e militares que estão trabalhando no plantão da madrugada consigam responder à altura.

A Polícia Civil de São Paulo tem conhecimento técnico necessário para prevenir, mas sem tecnologia, recursos humanos e remuneração condizente, um trabalho de excelência é impossível.

Enquanto medidas efetivas não forem tomadas pelo governador para investir na sua polícia, fatos lamentáveis como os de hoje continuarão ocorrendo, levando medo ao coração dos paulistas.

A Polícia Civil do Estado de São Paulo sabe como prevenir e evitar. Basta agora que o Governo do Estado invista na segurança da população.

 

Raquel Kobashi Gallinati, Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo e diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil


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