Entrevista da Semana

Geral
Guaíra, 10 de setembro de 2017 - 10h59

Rosana – Paixão expressa pelas crianças, pela natação, por Jorge Domingos e Maria Rita!!!

Rosana Clemente Talarico, casada com Jorge Domingos Talarico, tem uma filha – Maria Rita – é formada no Magistério, em Pedagogia, Psicopedagogia, Educação Física e Instrumentadora Cirúrgica.

Como que a Educação Física entrou na sua vida?

Quando eu vim para Guaíra, fui convidada para trabalhar na Santa Casa, mas eu me identifiquei mais com a Educação Física, que entrou na minha vida desde a 6ª Série. Tive uma professora nesta área – a Angela – e me espelhei nela. Eu era uma ratinha das quadras. Mas, quando me formei, comecei a dar aulas em fevereiro de 1989 e nunca mais parei.

 

E a natação, com foi isso?

Eu sempre falo que Deus me predestina para a vida. Sempre quis ser professora de Educação Física, a água nunca foi meu grande interesse. No entanto, em 1993, o Dr. Orlando ganhou para prefeito de Guaíra e o Yazid Curi, foi convidado para ser o Secretário de Esportes. Eu trabalhava, nesta época, com o Prof. Yazid e com o Prof. Marco Antônio, na escola Francisco Gomes e eles conheciam o meu trabalho. Antes da natação, trabalhei com o Marco Antônio, nas quadras de esporte, como mesária de Futebol de Salão, devido a esta amizade e o conhecimento que eles tinham do meu método de trabalho, fui convidada para trabalhar na Comissão Municipal de Esportes. O Sr. Menininho, não teve tempo de colocar a piscina do  Centro de Lazer para funcionar, então coube ao Dr. Orlando dar continuidade e fui designada para dar aulas de natação para as crianças carentes. Até então quem fazia isso era o Prof. Totonho, mas ele estava parando. Naquela época não tínhamos outras opções de natação, somente na Maracá.

 

A natação no Centro de Lazer virou hidroginástica e interação social?

Comecei dar aulas de natação infantil, mas apareceram às mães, as mulheres… Elas iam levar os filhos e ficavam esperando então como eu já tinha estudado sobre esta prática, ofereci a hidroginástica para estas mulheres, coisa que não existia nesta época em Guaíra. Fico emocionada em lembrar: eu tinha dentro daquela piscina, seguramente de 60 a 70 mulheres em uma aula. Mas, aí, se elas perdiam o equilíbrio e caiam na água, eu entrava de roupa e tudo para acudir, então pensei que tinha que ensinar aquele pessoal a nadar primeiro. Então passei a dar aulas para os adultos também. Assim, apareceram os diabéticos, os hipertensos, pessoas que tomavam muito remédios, passei a fazer dietas com eles, fazia um acompanhamento, eles perdiam peso, reduziam o número de medicamentos… Minha mãe ficava toda roxa de tanto medo que tinha da piscina, então fiz um propósito, se eu conseguisse fazer minha mãe a nadar eu conseguiria fazer qualquer ser humano também. Hoje ela tem 79 anos, faz hidroginástica, nada crown, costa e peito, atravessa a piscina e tenho muito orgulho em afirmar que eu trouxe a natação, a hidroginástica para as pessoas mais carentes, com muito carinho, para nossa cidade. Até hoje tenho calo nas mãos porque eu limpava a piscina do Centro de Lazer, jogava cloro, cuidava da limpeza porque queria que as minhas alunas tivessem o mesmo direito que eu tinha. Com a proximidade com estas pessoas, iniciei uma interação social porque tinham ali algumas dessas alunas que nunca tinham viajado, só ficavam em casa cuidando de filhos, da casa, dos netos… Eu saia com três quatro ônibus para o Termas dos Laranjais, Ubatã, passávamos o dia todo, fiz isso durante 9 anos. Foi um trabalho extremamente gratificante!

 

Na academia Àgua Viva!!!

Eu e a Academia Àgua Viva começamos juntas. Isso aconteceu há 19 anos atrás.  Giovana me convidou para dar aulas de natação para bebês. No começo relutei porque tenho a voz muito forte, o timbre da minha voz pode soar de pessoa brava. Então fui fazer um curso, durante três dias por semana ia para Batatais, numa Academia, minha mãe ia comigo, fiz um aperfeiçoamento para dar aulas para bebês, posteriormente fiz também um curso com Paulo Fontenelli (Professor que introduziu a natação para bebês no Brasil), e muito preocupada com o meu timbre de voz, ele me tranquilizou dizendo que a criança percebe mais pelo tato e não pelo som da voz. O bebê percebe o amor, o carinho, a atenção, o tato e não pelo tom da voz. E assim é! Eu sei que sou rigorosa, quem ouve acha que estou matando, mas eles sentem que os amos. Corrijo quando tem que fazê-lo, mas as crianças sabem do meu carinho, Graças a Deus nunca tive um só problema dentro da piscina, sou completamente apaixonada pelo que faço, pois faço com prazer e não me canso. Falo que tenho olhos nas costas, não perco os alunos de vista. Sempre tenho uma auxiliar na Academia, se estou de costas ela está de frente, se saio, ela fica. Criança não tem noção, ela não mede as consequências, então a atenção é constante.

 

Tanto tempo trabalhando dentro da água não lhe trouxe nenhuma consequência?

Nada! Deus é maravilhoso! Não tenho alergia, não fico doente, não falto, tenho comprometimento com as crianças e com meu trabalho.

 

E o trabalho extra-classe, com quem fica?

Tenho uma amiga, professora de Educação Física também, a Marlene, que trabalha hoje na escola Mario Lano, que parece ser minha irmã. Gosta, como eu, da coreografia. Não medimos esforços para ensaiar uma apresentação seja para o desfile, seja para dentro da escola. Gosto do que faço, tenho prazer de ir para a rua e apresentar meus alunos.

 

É a vez de falarmos sobre a Maria Rita.

A Maria Rita chegou a minha vida e na do Jorge (falo sempre que o Jorge é o meu companheiro, uma pessoa  muito amorosa, compreensiva), para realizar o meu sonho de ser mãe. Acho que toda mulher tem o sonho de ter barriga, de gestar, um sonho que durou 10 anos. Deus uniu duas pessoas incompatíveis neste aspecto. Se eu me casasse com outra pessoa e o Jorge também com outra, talvez tivéssemos filhos biológicos. Fiz 9 inseminações, na última, estava eu numa cama e o Jorge na outra.  Chegamos ao fim do fim que a medicina poderia oferecer, precisou fazer uma pequena cirurgia nele para retirar o material, um procedimento doloroso e difícil e o médico me confidenciou que aquele homem me amava muito. Nesta hora, Jorge me pediu, que se aquela inseminação não desse certo, que fosse a última. Aí caiu minha ficha! E me lembrei do meu pai dizendo que eu tinha tanto amor para dar, que eu amava as crianças, gostava de cachorros, decidi então esperar pela Maria Rita. Hoje a adoção é feita num sistema de cadastro nacional. Mas, antes, fiz minha inscrição aqui e na cidade onde Maria Rita nasceu. Um dia estava em casa e recebi uma ligação onde me informavam que o cadastro passaria a valer nacionalmente, mas que a Juíza poderia manter aqueles que quisessem naquela comarca. Eu estava preparando o aniversário de 70 anos surpresa para minha mãe que seria no domingo e a pessoa me avisou que eu teria que entregar os papéis no outro dia, sexta-feira, até a uma e meia da tarde. Saímos de madrugada e conseguimos entregar com a papelada. O Jorge e eu temos a tradição de visitar as Igrejas que não conhecemos. Fomos para a Igreja e me deparei com a imagem da Santa Rita itinerante, de quase dois metros, que estava passando por aquela cidade. Me joguei aos pés dela, chorando, e pedi que se ela me desse o meu bebê eu voltaria para agradecê-la. Quando íamos saindo um Padre estava aspergindo água benta nos fiéis porque era dia de Santa Ana, a mãe de Nossa Senhora, ele então nos benzeu e ofereceu a paróquia para dormirmos porque já estávamos saindo de volta sem dormir.

 

Finalmente a Maria Rita chega!

Um dia, em Agosto, estava dando aula, deu-me um aperto no coração, uma angústia, então resolvi ligar para o Paraná, encostei-me à quadra e liguei! A pessoa do outro lado, assim que me identifiquei falou: “Não estou entendendo, é a senhora Rosana que está me ligando?” Como assim, acabei de pedir uma ligação para o seu número, porque tem uma criança apta para adoção, à senhora se interessa?” Fiquei tão eufórica que pedi para ela repetir. Não me lembro, mas as pessoas à minha volta dizem que eu chorei, que gritei, ajoelhei, ri, com a notícia. Mas, tudo na minha vida é meio sofrido, isso já era mais ou menos umas quatro e meia da tarde, eu tinha que estar lá, no outro dia, até às três horas, acompanhada por um advogado, tinha que ir até a delegacia, tinha que ir ao Fórum e no banco. Tudo fechado aquela hora. A juíza me deu um prazo e quando estava para desligar eu perguntei “O que é o bebê?” Ela me respondeu que era uma menina! Pedi para a atendente não mais se dirigir a ela como uma criança apta, agora ela tinha nome, era Maria Rita! A minha Maria Rita! Meu Deus, era a Maria Rita que eu esperava desde quando tinha 20 anos de idade! Telefonei para o Jorge e ele não me entendia, porque eu gritava muito: “Branco, chegou o nosso bebê”. Nisto o Dr. Tristão me atendeu 10 horas da noite,  porque eu tinha que saber como alimentar a Maria Rita, o Mamed, do Cantinho da Criança, me atendeu de portas fechadas, eu não tinha roupas, eu não tinha nada. Fui conhecer minha filha cinco horas da tarde, através da Vara da Infância, já com toda papelada pronta, aí nesta hora,  chorando, com olheiras, como se eu tivesse o parto normal mais difícil do mundo, me apresentei a ela e eu disse: “Maria Rita, sou sua mãe, este é o seu pai, esta é a sua avó, você foi esperada, você é amada, você é o maior presente que Deus me deu, que é o que sempre quis na vida!” Jorge chorou como criança, não foi fácil, mas ele foi forte, companheiro, suportou comigo tudo o que suportamos, porque quando se parte para a doção. Pode passar o tempo que passar, sempre que eu tocar neste assunto vou me emocionar… Maria Rita e eu temos um laço muito forte, sou brava, corrijo, beijo,  abraço, nem me lembro que ela não saiu da barriga, que  saiu do coração, respondo quando ela pergunta, se ela não pergunta não falo nada, mas não omito, não minto, falo sempre  que ela saiu do meu coração de das minhas orações. Ela é meiga, tem um gênio parecido com o meu, fala alto, e sabe que temos uma relação verdadeira, com um amor intenso.

 

Jorge Domingos, o companheiro!

Jorge é meu amigo, companheiro, marido, minha outra paixão, sou apaixonada por ele desde sempre.  Nós somos muito “família”. Só vamos onde cabe a Maria Rita e minha mãe, que mora comigo. Não queria que ele voltasse para a política, mas ele tem objetivos lindos para esta cidade. Gosto da política, mas ele ficou 24 anos afastado, e eu não queria barrar o sonho dele de trabalhar por nossa cidade. As pessoas falavam: agora o partido ganhou, Jorge está empregado, agora o partido perdeu, Jorge está sem emprego! Eu não queria que ele passasse mais por isso. Fizemos uma campanha “família” e ele voltou para fazer o que gosta.

 

Quem você gostaria de abraçar, mais uma vez, que já está no plano espiritual?

Meu pai, meu ídolo, meu primeiro amor! Euclides era o nome dele, trabalhou durante 25 anos na empresa que asfaltou Guaíra. Emociono-me ao falar dele, somos quatro filhos, o Marcos, Marcio, que são gêmeos, Ronaldo e eu. Sempre fui ligada a ele. Eu saía, não tinha chave, eu chegava ele abria porta para mim e íamos conversar. Foi ele que soube do meu primeiro beijo… Teve câncer e estava sofrendo demais, eu dava banho nele, fazia com que comesse, fazia curativo e via a doença transformar aquele homem tão amado em um menino sofrido. Ele não pode estudar todos nós, mas me formei graças ao esforço dele, sou grata por isso. Ele falava que queria me dar uma formatura, para eu sobreviver dela! E assim fez! Mas, o câncer é traiçoeiro, meu pai piorou e foi para o hospital da Rua 20, aí eu tive uma conversa com Deus. Fui á Igreja, deitei no chão e implorei para acabar com o sofrimento do meu pai! Sempre pedia para deixá-lo comigo, mas diante do sofrimento dele, pedi com todas as minhas forças, para o Pai Maior levar o meu pai; fui a casa dele, peguei uma estatuazinha que ele tinha achado na enxurrada e também pedi para que acabasse com o sofrimento dele. Fui para Barretos, pedi para a médica não deixá-lo sentir dor e ele me falou que tinha pessoas, ali, com ele naquele momento, então eu disse, da forma como sempre o tratava: “meu bem, vai com Deus, vai embora,  eu vou continuar aqui, te amando, te lembrando, falando o seu nome, vou sempre lembrar do meu ídolo, do meu bem, do meu pai”!


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