André Luiz de Oliveira, casado com Rosana Matos de Oliveira é pai de Gabriela, 9 anos; Rafael, de 16; e Ana Laura, com 22. André, mais conhecido como “Zanga”, é funcionário público e atua como mecânico. A pedido do prefeito, está trabalhando no Parque Maracá, junto ao Everton. Mesmo tendo o apelido de “Zanga” ou “Sargento”, que ganhou na adolescência, é gentil, simpático e, com um amplo vocabulário, se expressa com facilidade.
Sabe-se que você tem o hobby de fazer grandes viagens de moto, quando começou esta vontade?
Na verdade, começou desde minha adolescência, quando tinha aquela vontade de ter uma moto, viajar e conhecer o país. Agora, estou tendo essa oportunidade graças a Deus, com o apoio da família e dos amigos. Já fiz algumas viagens com a moto e mochilão nas costas, que é para desligar de tudo. Em cima de uma moto você fica o dia inteiro viajando, falando consigo mesmo, porque não tem ninguém ali… A cada momento uma nova paisagem. O pensamento fica na pista e na estrada e aí se tem tempo para fazer uma reflexão total da sua vida, se tornando uma pessoa melhor.
Como é isso?
Na estrada, se enfrenta calor e frio, porque as baixadas são frias, nos topos quentes, então é algo diferente e hoje é minha paixão. Fiz uma das minhas maiores viagens, que aliás foi preparatória para a viagem que estou planejando.
Qual foi a sua primeira “trip sob rodas”?
Minha primeira viagem de moto foi para São Paulo em cima de uma CB 400. Depois fui para Belém, onde conheci alguns mochileiros, me apaixonei e fiz meu primeiro mochilão… Fui até Belém e de lá para Manaus tive que deixar minha moto em Belém, porque era natal e fui de barco. Ali fiquei cinco dias e cinco noites. Foi aí surgiu o desejo de conhecer Manaus de moto.
Essa foi a sua grande viagem?
Antes dessa viagem, conheci o Rio de Janeiro, fui no “Rock’n Rio” e enfrentei todo aquele problema lá na favela da Rocinha, tudo interditado. Fui de moto pela estrada Rio-Santos, que é maravilhosa, linda! Foi tudo bem fui e voltei, passei pela Aparecida do Norte, e assim nasceu o projeto de conhecer o Amazonas. Por ser distante, coloquei alguns pontos de paradas, cidades turísticas, que eu poderia passar na ida, por estar no meio do caminho, e na volta também. No total, andei 7.188 km de moto e 36 horas de barco. Depois desci de Manaus até Santarém, lugares que indico para todos conhecerem; esse passeio de barco descendo o Rio Amazonas, porque chegando em Manaus se contempla o Alter do Chão que é banhado pelo Rio dos Tapajós.
O que é viajar de moto, principalmente tão longe?
O passeio de moto foi uma aventura, porque eu percorri a estrada 319, é uma BR fantasma que liga Porto Velho a Manaus; ela fica dentro da mata Amazonas, dentro da floresta. Sem apoio nenhum, durante uns 600 km você não tem um posto, nem nada por perto. É bem no meio da floresta. Fui até Realidade, lá é a última vila, depois até Igapó-Açu, o caminho mais crítico, que é 500 a 600 km sem nada, sem asfalto, nem nada, tinha buracos e poucos veículos, uma mata densa. O único apoio que se tem são as torres da Embratel, pois elas levam Internet para Manaus. E de 30 em 30 km tinha uma torre passando para outra. Nessas torres, pode-se entrar; aí, tem o pessoal que faz manutenção de área e deixa você se hospedar caso aconteça alguma coisa; eles ainda te dão um apoio, mas fora isso, não tem mais nada.
Qual seu roteiro para chegar tão longe?
Quando sai daqui, o primeiro local que quis passar foi o Chapadão do Céu, onde tem o Parque Nacional das Emas, depois, fui para a Chapada dos Guimarães, que fica no centro Geodésico da América do Sul. De lá, fui para a cidade de Nobres, parecida com Bonito, porém, ainda está sendo descoberta pelos turistas, tem um aquário azul lindo. Depois, toquei direto para Porto Velho e Manaus; lá fiz alguns passeios, nadei com os botos, fui em tribo indígena. Subi de barco para Santarém, depois de um tempo fiquei com vontade de vir embora, faltavam dois passeios, mas vim embora e no meio do caminho me encontrei com alguns amigos que estavam indo para o “Moto Capital”, em Brasília e eu queria muito ir. Assim, fomos e passamos na capital Palmas e entramos em Brasília pela chapada dos Veadeiros. Minha última parada foi em Brasília, que é o maior encontro de motociclista da América do Sul. Fiquei uma noite lá e pela manhã fui embora. Depois que eu for a Ushuaia (Argentina) vou escrever um livro.
Há muita camaradagem entre os motociclistas, não é?
Os grupos de motociclistas dão muito apoio uns aos outros nas viagens, até mesmo para aqueles que não fazem parte do grupo. Aqui em Guaíra nós temos apenas um grupo e, se não me engano, é de Franca, que se chama os Zangados, ainda tem outro que é o moto clube Rota do Céu. Hoje faço muita trilha. Os motociclistas se tratam por “irmãos”, a palavra motoqueiro não é usada porque remete a bagunceiros. Hoje se usa motociclistas.
O que você leva na mochila?
Da última vez, levei: cozinha, barraca, colchão para dormir e um pouco de roupa. Poucas coisas, pois na viagem não tem como você levar muito, tem que levar ferramentas e coisas que irá realmente precisar no caso de atravessar floresta, mas, fora isso, não há necessidade, porque a comida regional é barata, a hospedagem não costuma ser cara. E estando com a moto pode se programar: “vou rodar daqui até tal lugar”… Aí, você chega, se hospeda em um hotelzinho, janta, toma seu café-da-manhã e no outro dia sai, outra coisa que o viajante não tem é almoço.
Já passou algum perrengue?
O meu maior perrengue foi na transamazônica, quando fui de Rurópolis até Marabá, que é dentro da transamazônica. Passei medo, porque não se sabe as distâncias, são apenas cidades pequenas, com muitas motos, muito aglomerado de pessoas naquela região. Por exemplo: Altamira, na Usina de Belo Monte, são muitas pessoas, chega até a incomodar, mas, como viajante você respeita, o pessoal conversa, dá dicas e fala com a gente. Entretanto, no último posto que tinha antes de chegar em Marabá, eu já não tinha dinheiro em espécie, estava só com o cartão e o rapaz disse que lá não passavam cartão, então procurei nos bolsos e encontrei R$12 reais, assim, coloquei esse valor em gasolina, foi o que me levou até Marabá. Normalmente, levo gasolina reserva, mas nesse dia eu errei e esqueci.
Qual será sua grande viagem?
A minha grande viagem será para o meu aniversário de 59 anos que será em 2020. Quero ir para o “Fim do Mundo” – Ushuaia – na Argentina. O roteiro já está planejado, vou sair daqui e descer para o Sul, atravessar o Uruguai, depois pego o “Ferry Boat” (que transporta veículos), entro na Argentina, desço o extremo sul da América do Sul – é de lá que saem os barcos para Antártica e aquele submarino que afundou. Vou atravessar o “Cabo Roners”, que é o Cabo do Mar, lá é bem gelado, por isso digo que é o Fim do Mundo. Vou em setembro, porque esse mês já não está tão gelado, depois, vou subir pela Carreteira Austral, do Chile até aqui em cima novamente… Vou levar, em média, uns 35 dias para concluir essa rota.
Viaja sempre sozinho?
Vou sozinho, inclusive, a todos que falo da viagem me perguntam: “Mas você vai sozinho?”. Mas, depois que atravessei a transamazônica e chegando em casa percebi que em momento nenhum nessa viagem eu estive só. Deus esteve sempre comigo. Não tive um problema com pneu furado, nem com a moto. Agora, para Ushuaia é difícil de encontrar amigos que queiram ir, porque hoje a vida é muito corrida e toda viagem nós temos que nos preparar para que ela seja um sucesso.
Você se orienta com mapas?
Levo um mapa, temos hoje também o GPS, mas na estrada é tranquilo, na estrada as placas e as sinalizações estão bem feitas. Nós temos o equipamento para levar o celular na moto, os equipamentos, como máquina fotográfica. Minha vigem foi toda documentada com filmagens e fotos.
Você tem apoio da família?
A minha esposa me apoia, sabe que antes de viajar eu traço minha rota, me planejo e vou. Ela tem vontade de viajar comigo, mas não muito longe, porque acha cansativo.
Quer agradecer?
Primeiramente, quero agradecer a Deus, que em momento nenhum dessas viagens me deixou; também meus familiares, minha mãe, porque o primeiro lugar que fui, quando cheguei foi à casa da minha mãe, quando ela me viu me abraçou, chorando e foi uma emoção muito grande. Agradeço à minha esposa, meus familiares e amigos. Agradecer a oportunidade que o jornal está me dando de expor a minha história aqui.