Esperançar

Opinião
Guaíra, 26 de março de 2020 - 00h13

Beto Guedes e Márcio Borges compuseram uma obra prima, dentre tantas, intitulada Contos da Lua Vaga. Ela fala da esperança de um mundo melhor. E eles desenham essa esperança na imagem de um rosto de criança, com ações assertivas, permeadas pelo amor verdadeiro, o amor infantil (esperança viva / que a mão alcança / vem com teu passo firme / e rosto de criança). Aliás, infantil vem do radical fari (latim), falar, com o prefixo in, que aqui significa negativo. Infantil é o que não fala.

É claro que o não falar pode assumir diversos significados, desde não ter voz, como o soldado (da infantaria), que, via de regra, deve obedecer ordens, assim como a pureza de apenas não usar a voz. Os bebês, por exemplo, não falam a linguagem oficial, mas mandam sinais, falam por outras vias. É essa a feição da esperança viva. Ela é ativa, mas simples, da alma, do sentimento, de quem vive dentro da verdade, portanto, intuitiva.

É um pensamento utópico? Talvez, mas é exatamente aí que mora o segredo: é preciso sentir o que deve ser feito, sem racionalizar; esse é o comportamento da criança (as iluminadas crianças / herdeiras do chão / solo plantado, não as ruínas de um caos – Contos da Lua Vaga). Renato Russo reforça essa ideia em Quase Sem Querer: :”mas, não sou mais tão criança / a ponto de saber tudo”.

O filósofo Mário Sérgio Cortella, por sua vez, trata a esperança por meio de dois verbos: esperar e esperançar. Esperar vem daqueles que tem sonhos, desejos, mas que não fazem por acontecer, portanto, nem por merecer. Esperançar é diferente, vem da ação calorosa, consistente. É fazer e dar tempo para a natureza, por meio de suas leis e agenda, agir (olha, sempre poderemos viver em paz / em tempo: tanto a fazer pelo nosso bem – Contos da Lua Vaga). Portanto, exige sabedoria.

Por isso (e para que isso aconteça), é preciso estar em vigília, sem perder as forças nem a vontade (intuitiva, inconsciente, no bom sentido) de fazer o que necessita ser feito (que será de nós se estiver cansados da verdade, do amor?). É falar menos e agir mais.

Assim, precisamos de ação consistente, sabendo o que queremos de nosso futuro, o que queremos deixar para os nossos filhos e netos, ou seja, praticar o verbo esperançar, e não o esperar. Necessitamos, como diz a canção Contos da Lua Vaga, da “esperança viva / que a mão alcança, / vem com teu passo firme / e rosto de criança / a maldade já vimos demais!!!!!”

Pense nisso, se quiser, é claro!


TAGS:

Coltri Junior

Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

Ver mais publicações >

OUTRAS PUBLICAÇÕES
Ver mais >

RECEBA A NOSSA VERSÃO DIGITAL!

As notícias e informações de Guaíra em seu e-mail
Ao se cadastrar você receberá a versão digital automaticamente