Feliz ano novo coisa nenhuma

Opinião
Guaíra, 4 de fevereiro de 2016 - 10h01

Todo final e começo de ano é a mesma história. Todas as pessoas se enchem de bondade, se tornam fraternais, solidárias e carinhosas e saem por aí a distribuir mensagens de feliz ano novo. Os mais otimistas passam a nos desejar um ano repleto de alegrias, saúde, dinheiro e grandes realizações. E existem aqueles mais exaltados que, além de nos desejar isso tudo, incentivam-nos a mudar de vida, nossos costumes e nossa alimentação. Induzem-nos a comer menos, emagrecer, nos tornarmos atletas, e nos prepararmos para a corrida de São Silvestre do próximo ano. O mundo está desmoronando e a as mensagens exageradamente otimistas nos chegam aos borbotões. Quase automaticamente nós agradecemos e mandamos mensagens com o mesmo teor. Acontece que depois do dia primeiro de ano, nós continuamos sendo as mesmas pessoas que antes. A vida continua com sua rotina habitual e suas surpresas esporádicas. E sem perceber nós nos esquecemos de que mais um ano se passou e estamos envelhecendo. O que em minha opinião, não é algo muito agradável. Por causa disso, resolvi adotar uma tática diferente. Comecei a deixar claro que não queria votos de feliz ano novo não. Já em fins de novembro comecei minha campanha. Para os que quisessem me desejar boa saúde, sugeri que pagassem a minha conta de farmácia durante todo o ano vindouro. Eu pago um absurdo de farmácia, pois faço uso de inúmeros medicamentos tais como antidepressivos, ansiolíticos, comprimidos contra pressão alta, complementos vitamínicos, relaxantes musculares, protetores solares e até “engoves”. Isso pra não falar dos planos de saúde e das consultas com médicos particulares. Nada mais justo que, aqueles que querem me ver com boa saúde, arquem com essas despesas. E aos que querem que eu emagreça, eu diria que comendo e bebendo bem, a coisa é já difícil, imagine se levarmos uma vida franciscana com alimentação à base de pão e água. Ninguém merece! Já para aqueles que insistem em cantar aquela musiquinha irritante: “Muito dinheiro no bolso…”, deixei claro que queria o dinheiro no meu bolso mesmo, de verdade, de preferência em dólar. Preciso mudar de casa, quero trocar de carro, tenho filhos na faculdade e os gastos são exorbitantes. Logo, me deem logo de uma vez a por…caria do dinheiro. Sem dúvida alguma, isso me deixaria mais entusiasmado. Aos que costumam propalar nesses tempos: “que todos os sonhos se realizem”, resolvi lhes dizer o seguinte: “Escute aqui o meu chapa. Eu sonho em conhecer o mundo inteiro, em viajar de cruzeiro, me hospedar em grandes hotéis, jantar nos melhores restaurantes, etc. Que tal você me dar um belo cartão de crédito sem limites. Somente assim resolveríamos essa situação embaraçosa. Não acha”? Muitos acharam graça, me disseram que iriam pensar e depois me dariam a resposta. Como eu disse, alguns querem me transformar numa pessoa otimista, alegre, esperançosa… A esses eu disse que, eu só seria assim e agiria dessa forma se esses meus singelos pedidos solicitados acima me fossem concedidos. Ainda outro dia um amigo ao me encontrar, me cumprimentou perguntando: “E aí, tudo sob controle?” Eu respondi absolutamente incrédulo. “Quem me dera ter alguma coisa sob controle”! Com o preço do combustível subindo, mensalidade da escola dos filhos subindo, plano de saúde, aluguel de casa, inflação, energia, IPVA, ISS, IPTU, IR, tudo subindo, vou eu ter lá alguma coisa sob controle? E o pior é que à medida que tudo isso sobe, meu entusiasmo despenca. Essa é a verdade. Enfim, usando as redes sociais deixei claro para amigos, parentes e familiares que se fosse pra só desejar coisas boas, não precisariam perder tempo comigo não. Nada de tapinhas nas costas, sorrisos amarelos e boas intenções. Agora se quisessem mesmo realizar, concretizar, tornar reais os meus pequenos e singelos sonhos, teriam que providenciar as coisas solicitadas acima. Sentei e aguardei. Pois é! Veio o Natal, a passagem do Ano Novo, o carnaval está chegando e até agora nada. Não recebi uma visita sequer, nem de mendigos, nem de carteiros, nem de vendedoras de produtos de beleza, nem da vigilância sanitária combatendo a dengue e muito menos de religiosos radicais querendo fazer minha cabeça. Ninguém me mandou nem mesmo um cartão que fosse. Acabei constatando que, quando a coisa é pra valer, o espírito otimista das festas de final de ano não aparece nem com reza brava. O que eu vou fazer? Retroceder. “Vem cá pessoal… Eu estava brincando, eu… Oh! Adeus ano velho… Feliz ano novo pra todos vocês… Voltem aqui… Muito dinheiro no… Pô! Não façam isso… Não vão embora… Apareçam. Foi uma brincadeirinha”.


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Camilo Geraldo Garcia Prado

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