Incoerência, a coerência enrustida

Opinião
Guaíra, 23 de junho de 2019 - 08h30

Uma frase que me acompanha já há muito tempo é a do escritor Ralph Waldo Emerson, que diz ”o que você é fala tão alto aos meus ouvidos, que eu não consigo escutar o que você diz”. Isso mostra um distanciamento entre o discurso e a prática, a ideia explicitada e a ação, o que chamamos de incoerência (in=não; coerência, do latim cohaerentia = ligação ou harmonia entre situações, acontecimentos ou ideias). Portanto, e obviamente, o incoerente é o que fala em desacordo com o quepensa e/ou comoage.

Ambas, coerência e incoerência, estão pautadas na janela de Johari, junção do nome de seus idealizadores Joseph Luft e Harrington Ingham (Joseph e Harrington = Johari), que é uma representação das dinâmicas das relações pessoais.

Segundo os autores, temos quatro tipos de áreas (janelas), que são: A aberta, conhecida por mim e pelos outros; a encoberta ou cega, conhecida pelos outros, mas não por mim; a área fechada ou secreta, conhecida por mim, mas não pelos outros; e a área desconhecida, como o próprio nome diz, não conhecida nem por mim, nem pelos outros.

Por outro lado, para externalizarmos uma ideia, ou mesmo para agirmos, é preciso que haja uma referência em nosso cérebro sobre aquilo. Essas referências estão distribuídas nas quatros janelas. Existem coisas que sou, que sei e que outros sabem; existem coisas que sou, não sei, mas os outros sabem; existem coisas que sou, que sei, mas que os outros não sabem; e existem coisas que sou, mas que nem eu sei, nem os outros sabem.

Portanto, em termos de percepção, o discurso dito coerente é aquele que tem como base a janela aberta, já que há uma união entre os interlocutores (é a parte do que sou, que sei que sou e que deixo transparecer, portanto, o outro também sabe). Já o discurso dito incoerente navega por todas as outras três janelas. Dessa forma, como sempre há referência, na verdade, todo discurso é coerente. A questão é descobrir onde está pautada a coerência, ou seja, onde se quer chegar com o discurso. Quando eu, orador, sei, uso uma forma manipuladora de comunicação. Quando a coerência está nas minhas áreas obscuras, é preciso humildade, paz de espírito e capacidade de ouvir, aprender, desaprender e reaprender.

Em suma, sempre que um discurso se apresentar como incoerente, lembre-se que ele não o é. Está enrustido, ou seja, você apenas não enxergou onde ele está pautado. E isso pode ser sem querer ou proposital, por parte do orador. Pense nisso, se quiser, é claro.


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Coltri Junior

Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

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