Independência plumada: a volta dos sabiás

Opinião
Guaíra, 7 de setembro de 2017 - 09h47

Até parece que os pássaros contrariaram o poeta quando este falou que os sabiás cantavam no campo, nas palmeiras. Hoje, os sabiás cantam em nossos quintais, logo de manhã.

E não chegam sós. Acompanham orquestra de outros plumados e enfeitam feriados nacionais como o desta semana, pois estão presentes nas praças e encantam. Por isso, essa ave canora recebeu homenagem cívica.

O sabiá é referido como ave símbolo do Brasil. Mereceu até um decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002.

Juntou-se oficialmente aos outros quatro símbolos nacionais – a bandeira, o hino, o brasão de armas e o selo, passando a ter a mesma importância deles na representação do Brasil.

Segundo o ornitólogo Johan Dalgas Frisch (mentor do decreto presidencial), são 12 as espécies de sabiás no Brasil, sendo que o pássaro assume outras denominações em regiões diferentes.

Assim, ele tanto pode ser caraxué (Amazonas), sabiá-coca (Bahia), sabiá-laranja (Rio Grande do Sul) e ainda sabiá-de-barriga-vermelha, sabiá-ponga e sabiá-piranga em lugares diferentes.

É ave de canto muito apreciado, que se assemelha ao som de uma flauta. Canta principalmente ao alvorecer e à tarde. O canto serve para demarcar território e, no caso dos machos, para atrair a fêmea. A fêmea também canta, mas numa frequência bem menor que o macho.

Enquanto a fêmea choca no ninho o macho canta distante, noutro galho ou árvore. Isso desvia os predadores da prole e a protege. Dizem os entendidos que o canto do macho é captado pelo embrião ainda dentro do ovo, o que garante o aprendizado precoce da pureza melódica desses pássaros canoros e, também, sua independência.

Essa riqueza nossa encanta e foi imortalizada na “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias (Maranhão, 1823 – 1864, morto em naufrágio diante do litoral brasileiro):

“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.”

O passarinho, cantando, mantém sua independência, o poeta, sonhando, viu o Brasil afundar à sua frente…

 


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Francisco Habermann

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