O homem ludens e o jogo

Opinião
Guaíra, 11 de julho de 2021 - 11h45

Por Coltri Junior

Vai ano e passa ano, mudam as gerações, mas, cada vez mais os jogos tomam conta do nosso dia a dia. E isso tem um porquê.

Como diz Jeferson Retondar, o homem, claro, é sapiens, pois é dotado de razão. Também produz cultura, já que se relaciona com a natureza e tem o poder de transformá-la. Manoel de Barros reafirma isso, ao dizer que o homem deve ser artista: “O olho vê / a lembrança revê / a imaginação transvê / É preciso transver o mundo / Isto seja: Deus deu a forma / os artistas desformam / É preciso desformar o mundo / tirar da natureza as naturalidades / fazer cavalo verde, por exemplo.”

Portanto, a imaginação é força motriz da criação. A educação, por exemplo, deve ser pautada por esse princípio. Quando vejo alguém vangloriar a educação escolar dos anos de 1970, lembro que, na primeira série, tirei nota B na prova porque pintei o lábio do desenho de uma menina de uma cor diferente da vermelha (azul ou verde, não me lembro).

De qualquer maneira, é um podar da criatividade, do diferente. Se perdermos essa condição de pensar além, perderemos a essência humana. Só nós, humanos, podemos construir casas diferentes (o João de Barro também constrói, mas tem um modelo predefinido). A razão sozinha não é humana, é robótica (e sem inteligência artificial, porque nada cria). Portanto, desumaniza.

Assim, além de sapiens, o homem é faber, pois é fabricador de cultura. Porém, o que faz a ligação entre um e outro é exatamente a capacidade de transver. Huizinga, um dos maiores estudiosos da teoria dos jogos, diz que o homem é também, por excelência, ludens, pois necessita estabelecer uma relação direta entre a realidade e a imaginação.

Sabemos que nossa estrutura cerebral não nos permite ver a realidade em sua forma nua e crua. Cada um, por seus paradigmas e crenças, vê as coisas, os fatos, com seu jeito peculiar. Portanto, o ludens é essencial à nossa existência e ao nosso desenvolvimento.

Uma das maneiras de se estimular essa nossa potencialidade é o uso de jogos, já que ele é universal, haja vista estar presente em todas os povos, todas as culturas, em suas diferentes formas. Ele nos coloca em uma nova dimensão, em um mundo à parte, com novas regras, novos conceitos, novas estruturas. Mantida a lealdade arbitral, promove disciplina, respeito e capacidade de relacionamento, dentre tantos outros.

Além de tudo isso, quando bem utilizado, desde que não de modo enganoso, pode ter uma outra característica: a de suavizar a visão da realidade (que pode ser deturpada por nossos paradigmas e crenças) e dar leveza ao nosso dia a dia.

Pense nisso, se quiser, é claro!

 

Prof. Ms. Coltri Junior é estrategista organizacional e de carreira, palestrante, adm. de empresas, especialista em gestão de pessoas e EaD, mestre em educação, professor, escritor e CEO da Nova Hévila Treinamentos. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior 

 


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Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

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