Pneumologista fala sobre a Covid-19 e detalha sobre tratamentos e procedimentos utilizados

O médico, com clínica em Barretos, tem sido procurado por guairenses para o tratamento contra a doença e obtido grande êxito

Cidade
Guaíra, 24 de março de 2021 - 12h49

O pneumologista, Dr. José Luiz Iunes Filho, que tem atendido diversos casos do novo coronavírus em Barretos, inclusive atendeu um grande número de pessoas de Guaíra,  concedeu entrevista ao Jornal O Guaíra e detalhou sobre os procedimentos que tem utilizado e que estão salvando a vida de muitos pacientes. Ele ainda alertou para que as pessoas não se automediquem e que precisam procurar um médico quando apresentarem os sintomas da covid-19, o quanto antes.

Confira:

Explique o que é a doença Covid-19?

A doença da Covid-19 é causada por um vírus, mas o resultado dela é mais uma inflamação que ela gera no organismo. Então, a doença, apesar de ser infecciosa, é de caráter mais inflamatório e essa inflamação é individual, pois tem pessoas que têm uma inflamação mais intensa e tem outras que tem inflamação em menor intensidade.  E o ponto maior de inflamação ocorre no tecido respiratório, no tecido pulmonar. Então, para podermos ter um domínio desse processo, temos que ter um conhecimento de doenças respiratórias, principalmente de características inflamatórias que algumas doenças respiratórias têm, para sabermos lidar com essa questão.

 

Você é pneumologista, certo?

Isso. A minha formação é uma formação especializada em doença respiratória e eu também tenho uma formação em clínica médica, que também auxilia muito, porque muitos pacientes apresentam comorbidades compensadas por essa doença, por exemplo: alterações cardíacas, alterações de diabetes e da própria tireoide. Então, como Clínico, tenho que saber também lidar com essas descompensações e perceber que isso está alterando o paciente. Então, você tem que ter um conjunto de habilidades e ferramentas para poder saber lidar com essa doença.

  

Como é feita a sua abordagem em pacientes com Covid-19? Existe um remédio que elimina o vírus?

A abordagem é bastante complexa. O vírus em si não tem um tratamento. Não existe um remédio que elimina o vírus. O que a gente faz é um trabalho para conter o processo inflamatório que é gerado pelo vírus e que a resposta é de cada paciente. O primeiro ponto que a gente tem que ressaltar é a questão do atendimento precoce do paciente. Ele deve procurar um médico o quanto antes, porque existem medicamentos que a gente pode usar no início que realmente fazem diferença na questão da evolução do paciente. Então, quanto mais cedo ele é atendido, melhor a nossa chance de reversão. Esse é um dos pontos principais: a identificação rápida do problema, a busca pela resolução e a diminuição do impacto.

 

Qual sua opinião sobre a automedicação?

Deve-se evitar ao máximo a automedicação o a medicação por pessoas que não têm conhecimento e domínio da doença, porque, muitas vezes, as pessoas usam protocolos e seguem medicamentos, mas eles funcionam para alguns, mas não para todos. E isso pode até atrapalhar evolução do paciente. Então, automedicação é algo que a gente tem que tirar totalmente em qualquer doença, mas principalmente na covid-19, para evitar qualquer complicação.

 

Qual a importância do acompanhamento feito pelo mesmo profissional?

A gente deve ter um mesmo olhar de um profissional ao longo do acompanhamento desse paciente, porque o que acontece é que muitas vezes o paciente tem um atendimento, ou às vezes ele faz automedicação, ele busca fazer um tratamento por conta, ou ele passa em farmácias, compra o famoso kit de tratamento e começa a ter uma piora. Ele procura o pronto-socorro, tem uma orientação e depois ele piora, volta no pronto-socorro e é atendido por outro profissional e este faz outra orientação. Então, esse paciente, em nenhum momento foi visto sobre a mesma ótica e isso atrapalha demais também a questão da evolução da covid-19. É importante o mesmo médico estar acompanhando esse paciente durante todo o processo de evolução da doença para poder saber exatamente com que velocidade esse paciente está progredindo, qual deve ser a conduta correta, como ele estava “ontem” e como ele estará daqui dois, três dias. Essa questão é muito importante também para poder ter um bom resultado com os pacientes.

Soubemos que sua clínica tenta evitar que o quadro chegue à hospitalização. Por que?

A gente faz um uma abordagem para tentar, ao máximo, evitar a hospitalização, porque a hospitalização atrapalha e muito o sistema emocional desses pacientes, pois eles entram num processo de sensação de angústia e de morte; eles não têm contato com familiares e não têm assim o acolhimento que a gente deve fazer em um paciente com uma situação de medo.  Na minha abordagem, a gente tenta evitar a hospitalização a qualquer custo. Lógico que os casos aos quais precisamos internar, que não temos opção de tratar de outra forma. Então, quando possível, a gente faz de tudo para o paciente tratar em casa usando várias medicações, inclusive medicamentos na endovenosa, que a gente montou uma estrutura dentro da clínica para poder abordar esses pacientes com medicamentos que tem resultados mais rápidos. Às vezes a gente orienta que os pacientes voltem diariamente na clínica para repetir essas medicações. Utilizamos várias estratégias de acompanhamento por mensagem (WhatsApp) para poder monitorar o paciente e saber certinho se ele tem alguma necessidade de fazer alguns exame, de fazer alguma reavaliação e se tem ou não indicação de uma hospitalização. Com isso, ele se sente mais seguro, mais acolhido, a gente consegue de uma maneira mais precisa medicar esse paciente para ter uma menor complicação. Esses são pontos que considero importantes no tratamento da covid.

  

O tratamento é feito com o mesmo medicamento para todos?

Fazemos a medicação correta para o momento correto do paciente. Então, cada paciente tem um perfil de medicamento pelas suas características. Cada um tem um perfil de medicamento pelo momento da doença. A gente vai identificar o medicamento certo para o paciente certo e ele segue aquela orientação, se adere ao tratamento. Outro ponto importante é o repouso absoluto, que faz parte do tratamento. Nesse momento, a pessoa tem que se desligar, se desligar de informações externas, se desligar de pensamentos negativos. A pessoa tem que realizar um período mesmo de concentração para eliminar aquela enfermidade que está atrapalhando. Então, para isso é necessário repousar o físico e a mente, para que a pessoa realmente possa conseguir o êxito e se curar dessa doença.

Outro ponto é a comunicação com o profissional que está acompanhando o caso, mantê-lo sempre informado sobre o que está acontecendo, como tá sendo a evolução, tirar as dúvidas, reavaliar, fazer uma nova avaliação física, fazer alguns exames quando necessário, para que a gente possa ter um mínimo de erro e ser o mais preciso possível. Então, essas são as orientações que tenho feito ao longo de um ano de pandemia.

 

Você chegou a ser contaminado pela Covid-19. Como foi passar por tudo isso?

Fui acometido pela doença e eu mesmo consegui identificar o meu problema. Consegui me tratar, segui todos esses passos de equilíbrio, de sensação de positividade… Seguindo os medicamentos. Tive complicações, tive embolia pulmonar, tive lesão de mais de 70% dos meus pulmões. Tive que usar o oxigênio e tudo isso eu consegui fazer graças a Deus e também a essa disciplina de estar seguindo o tratamento correto, com as formas corretas de agir, esperando, respeitando o repouso, a positividade dos pensamentos, o acolhimento da minha família, que esteve comigo o tempo todo para eu poder vencer essa doença e ficar sem nenhum problema, já que depois da covid-19 também existem algumas fases chamadas síndrome pós-covid, que são algumas alterações que o organismo sofre depois do acometimento do vírus, principalmente nos pacientes mais graves.

 Como é essa fase pós-covid?

Alguns pacientes passam por algumas situações que tem que ser acompanhadas por profissionais que estão acostumados a lidar com esse tipo de situação, para fazer algumas correções, alguns reparos, principalmente no pulmão, que é o órgão mais afetado pela doença. Muitas vezes, a pessoa fica com sequelas pulmonares e isso pode trazer uma série de complicações, então, é necessário fazer realmente um reparo no sistema respiratório. Existem ainda sintomas e lesões que ficam permanentes se não fizer uma boa reparação. De um modo geral, é essa forma que eu tenho visto. A gente tem tido hoje algumas formas mais adaptativas da doença. É uma doença que vem apresentando uma maneira mais rápida de atingir as pessoas, e às vezes consegue driblar melhor o sistema imunológico, atingindo uma pessoa de uma maneira mais grave. Então, essas variações do vírus estão deixando-o mais forte para driblar o sistema e atingir mais pessoas.


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