Neste dia do agricultor, a homenagem é estendida a todos os homens e mulheres do campo, que contribuem para o avanço do agro brasileiro e não medem esforços para manter o alimento e muitos outros insumos à população.
Em Guaíra, um dos principais produtores de grãos do estado, o trabalho dos agricultores colocou o município entre os primeiros do país com crescimento nominal superior à taxa anual do PIB nos últimos anos. O agronegócio fomenta e gera emprego e renda, o que faz a economia de Guaíra movimentar diversos outros setores. Por isso e por muitos outros motivos, as homenagens deste dia devem atingir a cada produtor guairense, seja ele pequeno, médio ou grande, que continua no seu caminho de crescer e levar o município junto com ele.
Indicados pelas empresas locais como representantes da classe, o Jornal O Guaíra entrevistou essas duas importantes personalidades: o atual presidente do sindicato rural de Guaíra, Mário Sérgio Silvério e o presidente afastado (por exercer o cargo no legislativo municipal), Francisco Muraishi.
Mário Sérgio Silvério, com 59 anos, é nascido em Guaíra, casado com Maria das Graças Sanches, com quem tem dois filhos, Sérgio Luiz e André Luiz. O atual presidente do sindicato possui, juntamente com sua família, algumas propriedades no município e também em Ipuã, as quais cuida há mais de 20 anos. “Minha primeira fazenda irrigada foi a Mangues, mas tive outras de sequeiro. Depois, fomos expandindo, como na fazenda Brejão, onde colocamos vários pivôs e, recentemente, a fazenda Santa Helena, onde fizemos uma parceria com os proprietários e levamos irrigação para lá também. Após a perda do meu sogro, tive que entrar no ramo da agricultura e já são 22 anos de trabalho voltados à produção rural. Começamos devagarzinho, com uma área pequena e fomos crescendo, pedacinho por pedacinho. Atualmente, temos uma área até razoável, com cerca de 1000 hectares plantados”, revela.
O produtor não deixa de se atualizar com o que há de novo no mercado, através das empresas onde adquire sementes, adubos e produtos. “Faço sempre uma cotação de preços e tento repartir entre as revendas e a cooperativa os insumos que preciso em minhas lavouras. O apoio técnico de nossos parceiros são sempre bem-vindos e essa diversidade sempre nos ajuda a prevenir eventuais riscos e nos deixa atualizados sobre novas tecnologias aplicadas no campo”, conta. “A tecnologia no campo é essencial… O plantio direto, o uso do glifosato no milho e na soja, e muitas outras. Acompanhar todas as tecnologias que estão disponíveis no mercado não é tarefa fácil, mas necessária, para que você diminua perdas e consiga trazer sustentabilidade ao seu negócio. Hoje, produtores que não investem em novas tecnologias, correm o risco de sair do mercado.”
Para ele, a maior conquista do agronegócio brasileiro, nos últimos anos, foi o aumento da produtividade e a abertura de novas fronteiras agrícolas, com o aumento de áreas irrigadas, trazendo segurança e tranquilidade para o produtor. “Apesar de alguns problemas, como falta de chuvas e geadas, estamos conseguindo, com muito trabalho, levar a segurança e alimentar um número cada vez maior de pessoas”, expõe.
Sobre as necessidades da porteira para dentro, o agricultor diz que não falta muito, já que conta com o apoio da família, “que é de extrema importância”. “As coisas andam meio caras, mas ainda dá para levar assim. Agora, da porteira para fora, já tivemos dias piores que os atuais, contamos sim com o apoio que está melhorando a cada dia, tanto do governo como de instituições financeiras. O que ainda atrapalha, apesar de ter melhorado, é o sistema burocrático.”
Quanto ao futuro do agronegócio, Mário Sérgio espera maior reconhecimento ao setor. “Espero que as autoridades continuem procurando uma política agrícola mais assertiva para um setor que é estratégico para o país, o nosso agronegócio. Minimizar os riscos do setor com um seguro rural mais adequado, pois essas nossas perdas são grandes – quem planta em sequeiro não vai colher bem pela falta de chuva e quem tem área irrigada também não, por conta das geadas. Investir em seguro rural bem equalizado, a exemplo de outros países, é sem dúvida o que esperamos que esteja no topo das discussões em um futuro próximo.”
Para encerrar a entrevista, o presidente do sindicato deixa os seus agradecimentos. “Quero agradecer à família, aos nossos parceiros comerciais e, se Deus assim permitir, continuaremos lutando, colaborando, produzindo alimentos. Obrigado!”
Francisco Massayoshi Muraishi, 77 anos, natural de Igarapava, casado com Antônia, com quem teve quatro filhos, Cláudia, Fernando, Fábio e Flávia, é proprietário de algumas áreas no município guairense, como a Fazenda Cambaúba – onde planta cana em área sequeiro – e a Fazenda Matinha, onde produz soja, milho e outras culturas.
“Há muitos anos, viemos de Igarapava para trabalhar como diaristas na fazenda Coqueiro. Mais tarde, arrendamos a fazenda Santa Terezinha e conseguimos, mais tarde, comprar uma área na região de Morro Agudo. Assim fomos crescendo, arrendando algumas áreas. Morei muito tempo na fazenda Matinha, minha primeira aquisição e onde mantenho minha moradia”, relembra.
De acordo com o vereador, eleito em 2020 para o mandato de 2021 a 2024, o interessante é manter contato com todas as empresas locais, para estar sempre antenado às novidades do mercado. “Compro nas cooperativas e empresas. Como todo mundo é amigo, eu faço o dia de campo na minha área. Compro um pouco de cada uma, mas atualmente estou passando este trabalho para meu filho Fernando, que também faz esta diversificação. Inclusive, ele também tem uma revenda. Contamos com o apoio muito importante de técnicos de referência. Devido à nossa proximidade também com o sindicato rural, e o Renato Massaro, sempre conseguimos informações e vários exemplos de como tocar uma área agrícola, as dificuldades e tudo mais. Nos dias de campo realizados nas fazendas conseguimos analisar as pesquisas e informações importantes aos nossos produtores; assim, sigo estes exemplos ali apresentados.”
Segundo Muraishi, atualmente, não há como produzir bem sem tecnologia. “Com chegada do plantio direto, o uso da biotecnologia é um dos vários aspectos positivos na produção, como o uso de herbicidas,onde podemos colher com maior facilidade numa área maior e menos mão de obra. Por outro lado, temos que nos atentar com a ‘bio-pirataria’, pois até hoje tenho dúvidas de como surgiu a ferrugem asiática, o capim amargoso. Isso me causa certa estranheza quando dizem que estas pragas criaram resistência, aumentando nossos custos para combatê-las. Na minha opinião, isto precisa ser melhor apurado, porque é gravíssimo”, ressalta.
Ao relembrar das maiores conquistas do agro brasileiro, Sr. Francisco destaca a participação da família no campo. “Eu formei uma família focada no agro e hoje, com a idade que tenho, cada filho já dirige sua própria e assim posso cuidar de outras áreas onde planto cana, soja e milho. Nossa família plantou muito algodão e antigamente todos ganhavam dinheiro com esta cultura. Hoje, está muito difícil para quem planta em sequeiro, por falta de chuva e de pesquisas também. A produtividade aqui está muito baixa quando comparada com outras regiões – enquanto umas colhem 80 sacas por hectare, aqui estamos na média de 40 sacas. Isso, para mim, é falta de pesquisas mais pontuais que atendam nossas demandas.”
Quando às necessidades da “porteira para dentro”, o produtor aponta o clima como um dos principais protagonistas para o sucesso ou não de uma lavoura. Já além das propriedades, ele demonstra a necessidade de políticas públicas voltadas ao agro. “Da porteira para dentro, dependemos do ‘Senhor lá de cima’ e que Ele nos traga as condições ideais para podermos administrar bem aquilo que sabemos fazer, que é produzir. Da porteira para fora, demos o primeiro passo neste sentido, com a reativação do Conselho de Desenvolvimento Rural de Guaíra, inclusive sendo uma indicação minha como vereador, acatada pelo executivo. Com certeza, trará ao município uma visão mais estratégica e assertiva de suas políticas públicas para o setor, com a busca descentralizada de pesquisas, infraestrutura, fiscalização, meio ambiente, assistência técnica, entre outras coisas importantes para o desenvolvimento sustentável da agricultura local. Afinal, são nas cidades que as coisas acontecem e elas precisam priorizar e tratar com mais responsabilidade um setor que traz grande parte dos recursos que compõem o orçamento do município.”
Para o futuro, Francisco confirma que a agricultura avança a passos largos. “Mudanças estão acontecendo muito rápido, promovidas pela tecnologia e novas formas de manejo. A minha preocupação é com a participação mais efetiva da família, precisamos de forma urgente deixar de ser ‘apenas herdeiros do que construímos’ e focar em formar sucessores daquilo que trabalhamos uma vida inteira para construir. Outra coisa são as pesquisas realizadas pelo setor público, para o aumento de produtividade por um menor custo. Estamos à mercê de informações privadas cada vez mais atreladas à venda de insumos, que estão a cada dia mais caros, e isso precisa mudar”, finaliza.