A cidade e suas necessidades

“Sem compreender as necessidades de uma cidade e, principalmente sem compreender as funções das áreas verdes, o paisagista não poderá realizar jardins.”

(Roberto Burle Marx)

Cidade
Guaíra, 30 de julho de 2021 - 13h32

O PAISAGISTA E O POLÍTICO

Inicio com a frase do renomado paisagista Roberto Burle Marx, responsável pelo projeto paisagístico do Parque Ecológico Maracá e que também recebe o nome de um ex-prefeito, o médico, também artista plástico, Dr. Waldemar Chubaci. A frase está impressa em um dos totens na extensão do calçadão do Parque. Fico imaginando aqui um diálogo entre as duas personalidades e qual a visão teriam de como hoje está nosso parque e os últimos passos de um governo que sempre está com pressa.

A frase de Burle Marx reflete muito bem o que tenho dialogado na página “Guaíra em Pauta”, no Facebook, nestes quase três meses de atividade. Como um paisagista, o administrador público precisa compreender e entender as necessidades da sua população e, assim, definir o norte de seu governo. Sem compreender o seu povo, o governante não constrói a cidade que todos minimamente necessitam. Promover ações, a bel prazer e movidas por vaidade política, leva-o a incorrer em erros administrativos que acabam refletindo no bem-estar do coletivo. Nem sempre a prioridade de um governo é a prioridade do seu povo.

 

VACINAS E OUTRAS MEDIDAS

Na última semana, o que mais frisamos no “Guaíra em Pauta” foi sobre as necessidades, as prioridades e um olhar mais profundo para os anseios coletivos. É a busca constante por mais doses da vacina e uma melhor organização na aplicação das mesmas. É uma realidade que está aos olhos de todos, que muito poderia ter sido feito na prevenção, combate e tratamento da COVID-19 no município, cujo objetivo principal seria evitar mortes e a dor de quem hoje chora a ausência de um ente querido.  

Sugestões de medidas para enfrentamento da pandemia não faltaram, seja da sociedade civil e do Legislativo. Ignoradas e esquecidas em um algum armário do Paço Municipal poderiam ter ajudado a salvar vidas. Aqui fica uma ressalva de uma ação do Ministério Público do Estado que cobrou do Poder Executivo Municipal medidas preventivas e de fiscalização. Como a palavra do MP quase sempre causa calafrios em homens públicos, esta não foi engavetada e surtiu, durante um tempo, certa movimentação dos agentes públicos. Sem esquecer os 10 leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) inaugurados na Santa Casa, considerado por muitos como um feito histórico e que, mesmo que tardio, tem contribuído para salvar vidas em nossa cidade.

 

BARRETOS E O PROTAGONISMO REGIONAL

Falando do combate aos efeitos da pandemia, não podemos ignorar o protagonismo que Barretos conquistou no cenário regional. Além de ser um pólo na área de Saúde com vários investimentos, percebemos que do lado de lá – na outra margem do Rio Pardo – as ações de enfrentamento serviram de exemplo para muitos administradores. Não só na fiscalização e prevenção, mas na organização e aplicação acelerada de vacinas que colocou aquele município como um dos que mais imunizam contra a COVID-19 em nossa região, estendo horários e dias (sábados e feriados) de aplicação da vacina. Além disso, durante a visita do Vice-Governador do Estado à cidade, percebeu-se que política é feita de influência, aquela que na prática traz resultados e não que provoca apenas jogada de marketing.

 

A OLIMPÍADA: BRANCO ZANOL E RAYSSA LEAL

Quando o mundo começa a ver uma luz no fim do túnel nesta pandemia, o Japão iniciou a sua Olimpíada, na cidade de Tóquio. Destacando a fala dos narradores da TV Globo, este tipo de evento sempre “desperta o melhor de nós”. Emoções, sentimentos positivos e a esperança de que dias melhores virão. 

Para celebrar esta competição, relembramos o nosso atleta olímpico, Branco Zanol, seu projeto social e mais uma vez percebemos que nossa cidade carece de ídolos que possam inspirar novas gerações e uma atuação mais planejada do setor de Esportes, que tenha como foco não só formar atletas, mas cidadãos. Para que isto ocorra com bases sólidas, temos que corrigir os erros do passado e, como acontece em todas as áreas, um planejamento de olho no futuro e próximas gerações. Só assim poderemos ver, por aqui, exemplos como  da skatista Rayssa Leal, a Fadinha, que aos 13 anos, tornou-se a atleta mais jovem a conquistar uma medalha olímpica. É muito orgulho!

Se Rayssa fosse uma guairense, a cidade estaria em festa. Assim também ficou quando Branco Zanol participou de uma Olimpíada. É um orgulho natural, um tanto bairrista dirão alguns, mas é um sentimento – também do universo da necessidade – que revela quem somos e nos faz defender o que é nosso. 

 

CONHECENDO NOSSO MUNICÍPIO?

O guairense pode questionar, criticar e sugerir, mas quando ouve alguém de outra cidade falar da sua terra natal, sempre torce o nariz. Como tenho sempre procurado valorizar o nosso patrimônio na página “Guaíra em Pauta”, valorizando seja nosso parque, nossas riquezas e o potencial turístico, como a Pousada Estrela da Manhã, da família Landim,  recebi com alegria a notícia que a administração municipal irá realizar o projeto “Conhecendo nosso município” com alunos de escolas para redescobrir o município. É uma oportunidade dos nossos alunos falarem e conhecerem mais o  Parque Maracá, o Museu Municipal, o bairro rural de São José do Albertópolis (Guaritá), as Capelas do Pindoba, de Santa Luzia e o  nosso potencial agrícola.

Como não me importo de ser acusado de bairrismo, lamento que neste projeto perderam a oportunidade de valorizar o que é nosso, de criar um roteiro turístico com as várias potencialidades do município e levar estes alunos para conhecer o “interior de Guaíra”. Preferiram dar como prêmio uma viagem para uma fazenda de um cantor sertanejo, sendo que aqui possuímos vários atrativos como, por exemplo, a Pousada Estrela da Manhã, que está localizada em território de Miguelópolis, mas cujas ações estão concentradas em  nossa cidade. Neste projeto, os alunos irão escrever sobre Guaíra, mas não terão a oportunidade de vivenciar esta realidade. Ainda existe tempo para ajustar o projeto. Fica a sugestão que nada mais é do que uma evidência: como vou escrever sobre o nascer do sol, se nunca contemplei um amanhecer?

 

RETORNO AO DIÁLOGO

Voltando ao diálogo entre Burle Marx e Chubaci, imagino os dois sentados em um banco do Parque Ecológico Maracá. De um lado, o paisagista vendo quantas alterações foram feitas no projeto original assinado por ele e notando que, mesmo que as mudas de plantas que ele recomendou se transformaram em árvores que fazem sombra para seus visitantes, os cuidados e as intervenções ocorreram sem planejamento. Do outro lado do banco, o político, o administrador, que entenderia como é visionária a necessidade de elaboração de um Plano Diretor ao Parque para impedir que “prefeitos apressados” tomem decisões e executem projetos que vão contra os anseios coletivos por pura vaidade.

Certa vez  Burle Marx disse: “Gostaria que os que viessem depois de mim pudessem, pelo menos, ver alguma coisa que ainda lembrasse o país fabuloso que é o Brasil do ponto de vista botânico, dono da flora mais rica do Globo”. Da minha parte, penso que os administradores deveriam pensar sim nas futuras gerações de guairenses e que os mesmos poderiam adotar uma visão do nosso município de um ponto de vista orgulhoso, com a certeza de que os que antecederam cuidaram bem da cidade. Ótima sexta-feira e excelente final de semana. 

 

CAMILO JUNQUEIRA PRATA, 38, é psicólogo social, criador e mantenedor da página Guaíra em Pauta no Facebook. 


TAGS:

OUTRAS NOTÍCIAS EM Cidade
Ver mais >

RECEBA A NOSSA VERSÃO DIGITAL!

As notícias e informações de Guaíra em seu e-mail
Ao se cadastrar você receberá a versão digital automaticamente