O Delegado da Polícia Civil de Guaíra, Dr. Evandro Abrão Nacle, concedeu entrevista ao Jornal O Guaíra para esclarecer alguns pontos levantados pela população guairense; um deles, os índices criminais nesse período de isolamento social, devido à pandemia do coronavírus.
Dr. Evandro explicou que os número diminuíram significativamente. Segundo ele, apesar de alguns vídeos de furtos do comércio terem percorrido as redes sociais, são números menores em comparação ao mesmo período no ano passado.
Confira entrevista.
Qual índice de ocorrências policiais durante a quarentena, em comparação com o mesmo período do ano passado?
Não tenho os números exatos, porem, é notório que houve uma diminuição dos registros de ocorrência. Acredito que, automaticamente, com a população mais tempo dentro de casa, também houve uma queda de ocorrências, da consumação de alguns delitos, principalmente os furtos; embora tenham sido registrados uns três ou quatro no comércio, na madrugada, por entender que as ruas estão mais vazias a facilitar esse tipo de crime.
Diminuíram os números de estelionatos, de homicídios, de estupro, de perturbação, de uma maneira geral ficou bom para a sociedade. O que escapa dessa amenização seria a briga de marido e mulher. Ameaças, violência doméstica, violência corporal. Não vou dizer que aumentou, mas é o que temos visto mais. Infelizmente, é porque o casal tem que ficar em casa, não tem pra onde sair e acaba havendo discussões que podem acabar em crimes.
Comerciantes têm relatado que furtos de seus estabelecimentos têm aumentado com a paralisação do comércio. Isso é verdade? Se sim, como os empresários devem proceder para evitar isso?
Tenho certeza absoluta que houve uma diminuição de registro e de ocorrências também. Outras ocorrências mais graves também não temos tido, como roubo, na via pública, quando a pessoa vai chegar dentro de casa para abrir o portão.
A Polícia Militar também tem abordado muitas pessoas e tem localizado armas de brinquedo na posse de indivíduos que não trabalham e que, possivelmente, poderiam ser autores desses tipos de crimes. Porém, até o momento, não temos provas ou evidências ou filmagens, só suspeitas em relação a essas pessoas, já conhecidas por crimes contra o patrimônio.
Na última semana, um indivíduo entrou em uma casa, pulando o muro de cerca elétrica e virando a câmera, porém, acabou não levando nada. Os proprietários mostraram-se inseguros, mesmo com equipamentos de segurança na residência, que de nada serviram. Qual a orientação que a polícia pode dar para esses cidadãos?
Mais uma vez, reitero que provavelmente ele ouviu algum barulho ou dos vizinhos, ou até mesmo dentro da própria casa que ele invadia e resolveu abandonar aquele endereço. O que a gente pede sempre é que quanto mais empecilhos se puder colocar no imóvel, melhor.
Se puder colocar cerca elétrica, bom, se puder colocar concertina, melhor ainda. Se ela pode colocar um circuito de imagens, sensores no interior da residência, esse tipo de coisa passou a baratear muito. Não está fora do padrão da classe média, hoje é para classe que não tem tanto dinheiro para investir.
Parte da população guairense tem reclamado por não entender essa questão de registro de ocorrência. Gostaríamos que explicasse essa situação.
Gostaria de fazer um alongamento dessa interpretação, que não é só o munícipe, o cidadão comum. Às vezes, advogados comparecem aqui [na delegacia], insistem, discutem nesse sentido de querer o registro de uma ocorrência. Porém, o que a gente deixa bem claro, independente de ser ou não viável, de ser imprescindível, de se tratar ou não de urgência, sempre tivemos um único plantonista. Talvez sejam pessoas que nunca ocuparam a delegacia ou o plantão. Primeiro: nunca foram feitas diligências fora da delegacia. Imediatas e após o registro, nada é feito. Um registro de ocorrência, a simples formalização, a notícia do crime não vai trazer segurança para a população. Ela teria que ter algo a mais, alguma diligência da delegacia da polícia civil, o início de uma investigação; o que não acontece! Sempre aconteceu somente no primeiro dia útil.
Naquele momento, não vai se pedir nenhuma cautelar, nenhum pedido de prisão, não vai ser nada que vai acalmar os ânimos. Esse tipo de ocorrência não vai trazer nenhum beneficio. Ou seja, da mesma forma que a pessoa foi ameaçada numa sexta-feira, após às 18h, ela pode registrar na segunda, às 8h, que não vai ter nada que prejudique o andamento da investigação e de qualquer forma que tivesse feito o registro antes das 18h, na sexta, não teria nenhuma diligência a mais investigativa, uma vez que a gente tem que fazer todo um trâmite de formalização até chegar na investigação.
A única diferença são os flagrantes?
Sim, quanto a flagrantes, está 100% normal. O que a gente deixa claro é que em casos que se tratam de ações penais públicas incondicionadas, por exemplo roubo ou furto, a pessoa não precisa ir até o plantão de Barretos. Ela vai se quiser. Nós podemos ouvi-la no primeiro dia útil aqui em Guaíra. Tanto é que fizemos flagrantes aqui no município dessa forma, sem ouvir a vítima, que foi notificada a comparecer no dia útil a dar suas declarações.
Pelas redes sociais, uma pessoa postou se sentindo vitimada pelo crime de feminicídio. Na circunstância, ela disse estar sendo ameaçada e que tentou falar com a polícia, sem conseguir. Como seria esse trâmite?
No caso, se ela não for morta, ela faria só o registro. Se é um caso de ameaça, ela faria só o registro. Só o caso de ameaça em si trata-se de ocorrência de violência doméstica, que terá um trâmite mais rápido. Ela pode ser registrada na delegacia todos os dias, em dias normais. Mas isso é fora da lei Maria da penha, lei Maria da Penha pode registrar. Se o caso aconteceu no final de semana, ela vem normalmente na segunda para registrar na delegacia da mulher. Dificilmente ela encontrará um plantão que faça um pedido, por exemplo, de medida protetiva, a favor da vítima, porque os plantões estão tão ocupados em registrar os flagrantes, em fazer papeladas que demoram horas, que, o que se ocupa o tempo são os flagrantes. Ou seja, isso seria o urgente. Um simples relato e registro teria que fazer no dia útil. Ela até tem o direito de fazer o pedido dessa forma, mas acho que seria mais rápido ela fazer pela delegacia, que vai apurar o caso, até porque alguns juízes negam apreciar esse tipo de pedido pela autoridade policial.
Outra situação que ajuda a comunidade, de uma maneira geral, é que a Guarda Civil Municipal está registrando essas ocorrências?
Sim, após o fechamento do plantão em Guaíra, foi combinado entre o chefe do executivo e o delegado seccional de que a GCM faria o registro dos delitos que possibilitam ser registrados eletronicamente, que está lá disposto. Sempre após as 18h ou sábado e domingo.