Nesta última semana, assistimos as milhões de manifestações trazidas à tona com a revelação da CIA sobre a ditadura no Brasil.
Para variar, os extremos se atacando com gosto e vontade. A ponto da extrema esquerda não se tocar que estava enaltecendo a CIA – que sempre foi considerada por eles mentirosa e golpista – enquanto a extrema direita não se tocava que defendia um sistema em uma plataforma impensável em qualquer ditadura.
As revelações da CIA são chocantes por, pela primeira vez oficialmente, se ter a confirmação que Ernesto Geisel sabia sobre as torturas e assassinatos e de como autorizava ou não sua execução de acordo com a “necessidade do Estado”.
O significado disso é nefasto. Oficialmente tínhamos um Estado que matava e torturava pessoas. Estamos falando aqui do uso da violência pela máquina do Estado contra pessoas apenas por expressar sua contradição de pensamento.
A democracia é algo difícil de se viver. Costumamos falar que democracia não é falar o que quiser, é ouvir o que não quer. É ouvir barbaridades, discurso do ódio e ter que escutar formas de pensar que te tiram da zona do conforto.
E se esse é o preço que temos que pagar pela liberdade, convenhamos que está saindo quase de graça.
O uso da força para tentar se calar um pensamento é o que temos de mais primitivo. Multiplica-se por milhões quando se usa a máquina estatal para tal. Daí o asco que se tem por ditaduras no mundo moderno, sejam elas de direita, de esquerda, de cima ou de baixo. Todas são faces opostas da mesma moeda.
Pode tentar-se amenizar dizendo que eram terroristas, muitos deles dispostos a implantar uma ditadura comunista. O problema disso é que para alguns pode até ser verdade, mas para outros não. Quantos foram presos e torturados apenas por participarem de manifestações, levantarem cartazes e escreverem sobre o que pensam? Além disso, tortura e assassinato não estão na constituição brasileira como armas que o Estado pode se valer para combater o que quer que seja. Nunca esteve e nunca estará.
Nos casos dos atos terroristas, especialmente com vítimas, é dever do Estado usar toda a força da lei. Mas no momento em que se oficializa a tortura e assassinatos de suspeitos – como foi o caso revelado pela CIA – o Estado automaticamente passa a também ser transgressor da lei.
E dois errados não fazem um certo.