O fantasma do Sarriá

Opinião
Guaíra, 10 de julho de 2022 - 11h18

Na última terça, 5 de julho, a trágica derrota da seleção de 1982 para a Itália completou 40 anos. Por todas as expectativas criadas, o ambiente de vitória instalado, parecia que o tetra viria de forma simplesmente natural. Não foi assim.

 

Embora ainda tenha muito carinho por aquela seleção, tenho, também, um olhar mais pragmático e não creio que tenha sido um acidente.

 

Claro, o time jogava um futebol esteticamente bonito (no ataque). Mas a atmosfera criada pelos meios de comunicação, e alguns dos adversários enfrentados, supervalorizou uma equipe que também tinha suas deficiências. E isso trouxe sérios efeitos colaterais, desvalorizando outros feitos, como a campanha da seleção atual nas eliminatórias – invicta, com 17 jogos, sendo 14 vitórias e 3 empates, e a de 1994. Virou um fantasma.

 

A coisa é tão grave que Vicente Barreto e Celso Viáfora, chamam, na canção A Cara do Brasil, o time de 1994 de lixo: “O Brasil é o lixo que consome / Ou tem nele o maná da criação? /Brasil Mauro Silva, Dunga e Zinho /Que é o Brasil zero a zero e campeão, /Ou o Brasil que parou pelo caminho: / Zico, Sócrates, Júnior e Falcão?”. Só para efeito de lembrança, o time do 0x0 fez, não na ordem, 2×0 na Rússia (que acabara de deixar de ser a URSS), 3×0 em Camarões, 3×2 na Holanda, 1×0 nos EUA, empatou em 1×1 com a Suécia na fase de grupos e venceu, na semifinal, por 1×0. Zero a zero só na final. É preciso deixar a emoção de lado. Não era lixo. Muito pelo contrário.

 

Voltando ao time de 1982, disputamos uma fase eliminatória extremamente fraca (Brasil, Bolívia e Venezuela – de longe, as duas seleções mais frágeis do continente, naquele momento). Na Copa, nosso grupo era composto pela URSS (2×1 muito sofrido), Escócia (4×1) e Nova Zelândia (4×0). Na fase seguinte, grupos de 3 equipes, o Brasil enfrentou a Argentina (3×1 – talvez o melhor jogo brasileiro na Copa) e a Itália (a tragédia: 3×2 para os futuros “campeones del mondo”). 

 

Como a Itália havia vencido os argentinos por 2×1, o Brasil, pelo saldo, jogava pelo empate para ir às semifinais. Teve esse resultado nas mãos em 3 oportunidades: o 0x0 inicial nos classificaria; aí, tomamos o primeiro gol e conseguimos empatar (bastaria terminar 1×1); levamos o segundo e empatamos (2×2 era nosso!); mas, sofremos o terceiro.

 

Assim, ao menos para mim, fica claro que não foi um acidente de percurso. Tínhamos uma seleção com um futebol bonito no ataque, mas descompensado na defesa. Jogo é tudo, é o todo. 

 

O fato é que, agora, temos um time equilibrado, mas não valorizado. E, talvez, o grande problema seja a falta identificação com nossos jogadores (por jogarem fora) e as lembranças poetizadas do passado. Assim, o hexa, se vier, ainda será emocionalmente menor do que a seleção de 1982. Mas, pragmaticamente, será que, como diz Belchior, em Como Nossos Pais, “depois deles não apareceu mais ninguém”? 

 

Pense nisso, se quiser, é claro!

 

Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor, escritor e CEO do Hardcore Game Channel. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior 

 


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Coltri Junior

Professor Coltri Junior é palestrante, consultor organizacional e educacional, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos

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