Os Carnavais de Guaíra

Opinião
Guaíra, 27 de fevereiro de 2020 - 15h29

Os carnavais de nossa querida Guaíra eram mais ou menos assim… Não tem como não misturar as fases. Passei carnavais em Guaíra na minha infância, adolescência e fase adulta. Lembro de todas estas fases da Coca-Cola a menta com vodka, cerveja, whiskey, da paquerinha à paquera, do menino ao homem, sempre acompanhado por as marchinhas de carnaval composta pelos grandes mestres do samba.

Os momentos que não são poucos, marcas que ficaram no coração e na mente que nunca saem.

Até hoje, quando ouço as marchinhas que entendo como as verdadeiras músicas de carnaval a coisa mexe e bagunça meus sentimentos, entro em uma sintonia de algo que mistura totalmente meus mais de 20 anos de carnaval em Guaíra, sentimentos de sei lá o que, as pernas e o corpo mexem sem comando; o coração acelera e dá uma vontade de Carnaval em Guaíra, no que era o nosso, o Grêmio Literário e recreativo XVIII de maio.

Acabou, não o que passei lá. Isso nunca vai acabar, carnaval, bailes, namorar encostado no carros na porta do Grêmio; quantos amores, quantas paixões, só quem viveu sabe o que é.

Por um bom tempo, vivi a organização do carnaval do Grêmio. Meu pai, que quando a medicina e a política o estressava, utilizava a arte para aliviar. Por muitos carnavais ele fazia as pinturas; como era maravilha aquilo! Pessoas e mais pessoas preenchendo painéis enormes onde o artista já tinha deixado o seu sentimento, sua arte, seus riscos, seus traços, sua expressão. Em um deles foi feito painéis simbolizando os carnavais de várias cidades do Brasil, o que mais me marcou foi o painel da Bahia, onde tinha várias pessoas jogando capoeira em cima de um prédio, no pelourinho. O painel/quadro, quando ascendia a luz negra, também ascendia às luzes dos postes do quadro dando realidade de noite com jogo de sombras parecendo real, era o início da tinta fluorescente.

Todos os anos, toda a noite tinha a saideira nas casas de amigos; já preparávamos o espírito para o que ia ser uma longa noite de alegrias. Mas sempre era muito parecido, ficávamos na frente do Grêmio esperando a grande hora, inclusive nos tempos de matinês, quando abriam as portas, lá íamos nós.

Em cima do palco, a banda já tocando as marchinhas. Quando criança ficávamos em grupinhos dançando nos cantos do salão esperando o amor passar, jogávamos com muito carinho confete nas meninas como uma saudação, um elogio de “ó quanto amor, quanta alegria” deste palhaço que ficava tonto ao ver esta maravilha passar. Aí entrávamos também no carnaval que rodava; como era gostoso o pessoal rodar, conseguíamos ver todos que estavam no baile!

No baile, à noite, quase tudo repetia o carnaval; rodava e várias gerações dançando iam passando, noite a dentro, nas quatro noites. Após o carnaval, serviam no primeiro andar do clube a canja para alguns refazerem as energias, outros, como eu, iam na Padaria Pão Gostoso pelo fundo e pegavam pão francês quentinho para comer, normalmente puro, ou as vezes com manteiga; até que os donos da padaria acharam tão interessante que começaram abrir para servir os foliões famintos no pós-baile e ainda marcávamos o pão com presunto e queijo, a Coca litro, o pudim de farinha de pão, ou a brevidade na caderneta de nossos pais.

Eram quatro noites até o sol raiar e quatro dias sem parar, até a quarta-feira de cinzas chegar. Restava a nós esperar mais um ano o carnaval chegar.

Marcos Chubaci


TAGS:

Marcos Chubaci

Marcos Chubaci

Ver mais publicações >

OUTRAS PUBLICAÇÕES
Ver mais >

RECEBA A NOSSA VERSÃO DIGITAL!

As notícias e informações de Guaíra em seu e-mail
Ao se cadastrar você receberá a versão digital automaticamente