Você aguenta outra crise?

Opinião
Guaíra, 16 de janeiro de 2020 - 16h08

O Brasil é o lugar onde tudo se desmistifica e tudo se desmente. Crise, por exemplo: é algo transitório. Sintoma de algo. Tende a cessar. Aqui, as crises são crônicas. E crise crônica não é crise. É doença muito grave.

Quem se detiver a ler o livro “Quebrados: como uma década de crises financeiras mudou o mundo”, de Adam Tooze, professor de história da Universidade Colúmbia, ficará mais assustado ainda do que já está.

Segundo o autor, a recuperação da crise de 2008 foi desigual. Isso prenuncia um debacle econômico global muito mais grave. Os países ainda não se safaram dos efeitos de 2008. Há países em situação frágil, principalmente na Europa. Os emergentes não souberam administrar os efeitos colaterais das medidas tomadas pelos bancos centrais.

O choque brasileiro em 2014 foi sério. As minorias sofreram perdas que levarão décadas para serem superadas. Os Bancos Centrais já gastaram toda a sua munição. Não se sabe o que terão para oferecer em resposta ao que virá. Mas que virá é inevitável. Os Estados Unidos vão desacelerar sua economia. Isso afetará todo o planeta.

O Brasil precisa resolver com urgência o problema da reforma previdenciária, uma âncora que leva o país para a escuridão mais profunda. Mas também precisa criar postos de trabalho para a legião crescente de desempregados. Precisa fazer as profundas reformas estruturais sem as quais o capital externo deixará de voltar seus olhos para esta que já foi uma das maiores economias do planeta.

Ajudaria também uma reforma política séria, que enxugasse os esquemas partidários, tão debilitados nessa espécie de Democracia Direta que as redes sociais permitiram e que se mostrou eficiente.

Tudo ficaria melhor se o Estado encolhesse. Este mastodonte ineficiente e dispendioso não permite que o brasileiro encare a iniciativa privada, se acostume a enxergar deveres, obrigações e responsabilidades além de direitos e sustenta uma ociosidade hipócrita que só tem feito o Brasil andar para trás.

Parece que o povo já disse que não aguentará outra crise. Será que isso foi ouvido por todos?


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José Renato Nalini

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2019/2020

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