Testes com a pílula do câncer é economia para o Estado, diz Icesp

Agora
Guaíra, 3 de agosto de 2016 - 09h05

“Queremos determinar se o que está sendo demandado por milhares de brasileiros faz sentido”, afirmar diretor do Instituto do Câncer de São Paulo

Os testes com a fosfoetanolamina sintética em humanos, iniciados no último dia 25 de julho, pelo Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), do governo estadual, podem definir o futuro de milhares de liminares que obrigam o poder público a fornecer a substância para pacientes com câncer.

Em entrevista ao Estado, o diretor do Icesp, Paulo Hoff, afirmou que os testes são necessários para definir se a substância é segura e eficaz, na forma como foi distribuída ao longo de anos, sem qualquer fundamento científico. Segundo ele, o estudo não arriscará a vida dos voluntários.

Ao ser indagado sobre os estudos do Ministério da Saúde, que ainda estão sendo feitos em células e camundongos, e os testes que o Icesp já está realizando diretamente em humanos, Paulo Hoff diz que é necessário determinar a toxidade no ser humano. “A única diferença do nosso estudo é que ele foi desenhado para avaliar a eficácia de um produto que já está sendo usado pela população. Não há necessidade de fazer escalonamento da dose em animais, pois queremos estudar a dose que as pessoas já vêm tomando”, disse.

“Não foram feitos estudos com animais de grande porte. Mas não se pode ignorar que milhares de pessoas já tomaram o produto. Antes dos testes em humanos, os produtos são testados em 40 animais de grande porte. Temos milhares de seres humanos em todo o Brasil dizendo que tomaram o produto. Não podemos ignorar isso”, completou Hoff.

Quando questionado sobre ser seguro o teste em humanos, o diretor do Icesp declarou que: “Um estudo clínico de fase 1 serve exatamente para isso. Esse protocolo de pesquisa passou por todos os comitês de ética. Há sempre um risco, mas é assim que funciona. Alguém tem de ser o primeiro ser humano a receber o produto. Aqui nem é o caso, porque dezenas de milhares de pessoas já o receberam. Os pacientes serão acompanhados com todo o cuidado necessário. Tivemos a precaução de somente aceitar aqueles pacientes que não teriam impacto negativo na expectativa de vida caso recebessem dois meses de uma terapia não efetiva.”

Sobre os maus resultados obtidos com os teste federais, Hoff pontuou: “Nosso objetivo é outro. O projeto federal é de desenvolvimento de produto. A missão que recebemos é determinar se o produto que já está sendo utilizado pela população tem benefício ou não, na dose que vem sendo distribuída. O fornecimento dessa dose específica é que está sendo exigido em quase 20 mil liminares concedidas pela Justiça.”

Paulo ainda explicou que a indústria não continuaria o estudo porque ela tem expectativa de retorno financeiro. “Mas o Estado não tem interesse financeiro. Nosso estudo não é de desenvolvimento do produto nem é um estudo de registro (de patente). Queremos determinar se o que está sendo demandado por milhares de brasileiros faz sentido”, expôs.

Há quem conteste os recursos investidos pelo Estado para estes testes. Hoff afirmou que é pouco o investimento perto do que os resultados podem dizer. “Os recursos de menos de R$ 1 milhão resolverão um grande problema. Quanto custa para a sociedade brasileira os 18 mil processos que estão tramitando na Justiça? O custo para o Estado seria muito maior se o estudo não fosse feito. Se o produto for bom, não haverá necessidade de ir à Justiça, porque todos vamos querer desenvolvê-lo. Se o resultado for negativo, teremos embasamento para suspender algo que pode custar uma fortuna para o contribuinte”, concluiu.
TESTES

O início dos testes em humanos foi possível após aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, do Ministério da Saúde. A Fundação para o Remédio Popular (Furp), laboratório oficial da Secretaria de Saúde do estado, fornece as cápsulas suficientes da substância para realização da pesquisa.

Segundo a Secretaria de Saúde, o pesquisador aposentado da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos Gilberto Chierice tem acompanhado todo o processo. A fosfoetanolamina sintética foi estudada por Chierice, enquanto ele ainda estava ligado ao Grupo de Química Analítica e Tecnologia de Polímeros da universidade. Algumas pessoas tiveram acesso às cápsulas contendo a substância, produzidas pelo professor, que usaram como medicamento contra o câncer.

Após a primeira etapa, caso a droga não apresente efeitos colaterais graves, a pesquisa prosseguirá. No chamado Estágio 1, está prevista a inclusão de mais 21 pacientes para cada um dos 10 grupos de tumor: cabeça e pescoço, pulmão, mama, cólon e reto (intestino), colo uterino, próstata, melanoma, pâncreas, estômago e fígado.

Se o Icesp observar sinais de atividade da substância nessa fase, o Estágio 2 começa com mais 20 participantes em cada grupo. Progressivamente, desde que se comprove atividade relevante, a inclusão de novos pacientes continuará até atingir o máximo de mil pessoas, ou seja, 100 para cada tipo de câncer.

 


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