Você já construiu, reformou ou ampliou alguma edificação? Se não, pelo menos conhece alguém que já o fez? Agora imagine apenas por um instante que você vá se aventurar na realização de construir sua própria casa e espera estar usufruindo dela depois de alguns meses. Mas, por uma série de motivos e justificativas alheias à sua vontade, como abandono da mão de obra, furtos, projetos deficientes, burocracia e etc., se passaram anos e você nem sequer tem uma previsão de quando poderá finalmente usufruir daquele bem. Temos certeza que a frustração viria acompanhada de um grande desespero.
Em 2019, o TCU (Tribunal de Contas da União) escancarou em uma auditoria, sob a relatoria do ministro Vital do Rêgo, um Brasil inacabado. Um levantamento feito em 38.412 obras financiadas com recursos da União, incluindo escolas, creches, postos de saúde, edifícios administrativos, instalações esportivas, rodovias, ferrovias, portos e usinas, entre outros, mostra que consumiram R$ 10,8 bilhões dos cofres públicos e ainda não geraram nenhum benefício à população, pois estão inacabadas. Faltam também aquelas que foram inauguradas, mas que meses depois começaram a apresentar problemas.
Segundo o relatório, os principais motivos para esse “fenômeno”, são: técnico com 47%, e em segundo com 27% o abandono pela empresa. Muitas vezes estes fatores são gerados pelos poucos recursos de administrações municipais, que não têm verbas para uma estrutura bem preparada – muitas delas nem tem um engenheiro ou arquiteto no seu quadro de funcionários -, como também,a busca pelo preço mais vantajoso para a municipalidade,(lei 8666),não quer dizer contratar sempre o mais barato,que em grande parte pode justificar o abandono das empresas.
A sociedade mais esclarecida sente no bolso o peso dos impostos para sustentar a máquina estatal, não aceita mais a malversação do dinheiro público e quer de volta e de forma eficaz que esse dinheiro retorne à sociedade de forma satisfatória. Pois aquele conformismo, depois de tantas frustrações e decepções, não existe mais em grande parcela da população.
Diversas iniciativas vem sendo trabalhadas no sentido de minimizar os impactos desse problema, ainda que descoordenadas, tímidas e insipientes. Resta saber se as instâncias da Administração têm interesse na adoção de práticas pragmáticas de mitigação dos impactos do problema. O Brasil, diante de suas mazelas, precisa e pode conferir maior agilidade e racionalidade às suas obras públicas, minimizando os atrasos, paralisações e sobrecustos sistêmicos e significativos, sob pena de, em não o fazendo, comprometer o seu futuro.