No palco da nossa memória, o 15 de novembro emerge, carregado de significados e memórias, como um elo que nos liga ao passado. Contudo, ao contemplar a Proclamação da República e fazer um paralelo com o presente, somos compelidos a questionar se a chama da república continua a iluminar nossos caminhos ou se, de alguma forma, se perdeu nas sombras da contemporaneidade.
Nossos dias atuais, marcados pela tecnologia e pela velocidade dos acontecimentos, parecem distantes da narrativa densa que culminou na instauração da república em 1889. Enquanto celebramos o feriado, é inevitável questionar se essa república, que foi proclamada com esperanças de justiça e participação coletiva, mantém-se fiel à sua essência.
A insatisfação que permeou o cenário pré-1889, evidenciada pela Guerra do Paraguai, parece, de alguma forma, ecoar em nossos tempos. Os anseios por melhorias salariais e participação política, que motivaram a ação militar da época, encontram eco nas demandas contemporâneas por transparência, equidade e participação efetiva da sociedade.
No entanto, a política atual parece muitas vezes ser conduzida por interesses que destoam da visão republicana. O cenário econômico, em vez de ser um vetor de prosperidade compartilhada, muitas vezes amplifica as desigualdades sociais. A polarização política, longe de unir em prol do bem comum, fragmenta a sociedade em facções ideológicas.
O paralelo com o passado torna-se mais evidente quando observamos o papel da sociedade na construção da república. Se, por um lado, a Proclamação da República foi um movimento liderado por figuras públicas, o povo, em um plebiscito de 1993, reafirmou seu compromisso com a república. Hoje, porém, a participação popular muitas vezes se resume a desencanto e desconfiança nas instituições.
A Constituição de 1988, como uma partitura magnífica, delineou os princípios de uma república democrática. No entanto, ao olharmos para a execução desses princípios, nos deparamos com desafios, desvios e um fosso entre a teoria e a prática.
Enquanto o 15 de novembro nos convida a recordar, também nos instiga a questionar. A república, com seus ideais de cidadania ativa e governança coletiva, não pode ser apenas um capítulo de nossa história, mas um compromisso diário. O desafio reside em transformar o lamento pela insatisfação em ações concretas, em canalizar o descontentamento para construir, hoje, a república que desejamos para o amanhã.
Assim, o 15 de novembro não é apenas um feriado, mas um convite a olhar de frente para o espelho do tempo e questionar: nossa república atual reflete verdadeiramente os anseios daqueles que, um dia, ousaram proclamá-la?