Já se vão 32 anos, mais precisamente no amanhecer de 7 fevereiro de 1989, que Joãozinho Trinta colocou na Avenida Sapucaí, no Rio de Janeiro, o “O Luxo e o Lixo”, um desfile realizado pela escola Beija Flor de Nilópolis, que o lixo venceu o luxo mas não levou, mas que com certeza ficou marcado no inconsciente coletivo, pela grandeza de sua mensagem. E parece que muito daquele enredo ainda persiste nos dias atuais.
Recentemente, conversando com um vizinho, coletor de recicláveis, um senhor que mesmo tendo enfrentado um AVC continua tirando seu sustento de recicláveis, me fez perceber o quanto essas pessoas passam despercebidas aos olhos do setor público e, o pior, praticamente invisíveis aos vizinhos próximos.
Ele me relatou que, atualmente, temos em Guaíra aproximadamente 300 pessoas que buscam nesse material seu sustento e/ou mesmo complementar sua renda, materiais estes vendidos à vista para as 5 ou 6 empresas que estão há anos comprando esse material, gerando emprego e renda a muitas pessoas; e com certeza fazem parte de um sistema bem equalizado de coleta seletiva.
São plásticos, papelão, papel, latinhas, garrafas pets, dentre outros detritos retirados, na maioria das vezes, das sacolinhas à espera da coleta, que terão destino a um aterro sanitário.
Causa estranheza, quando escutamos: “cadê a coleta seletiva?” ou “a prefeitura precisa implantar uma coleta seletiva na cidade?” ou outras coisas do gênero; o que reforça mais ainda a invisibilidade daqueles que trabalham há anos neste setor, sem ajuda, reconhecimento, nem mesmo uma educação que incentive a separação para auxiliar este trabalho. Ao invés disso, volta e meia o setor público, de forma equivocada, prefere intervir onde deveriam apenas incentivar, tentando engessar essas pessoas em cooperativas ou associações, que se tornam deficitárias e dependentes, pois são muitos o que já trabalham no setor de forma autônoma e eficaz, sem nenhum recurso público, contribuindo assim para um desequilíbrio no setor, pois estas entidades custeadas com dinheiro público criam uma concorrência desleal com aqueles que aprenderam a trabalhar de forma privada.
Bastaria um empurrãozinho para que a sociedade enxergasse o trabalho desses coletores com outros olhos, para valorizar uma coleta seletiva que já existe.
Que tal ser um “fornecedor” desse material que é descartado todos os dias como lixo, mas que para uma parcela da população tem muita importância? Portanto, quando for descartar este material, dê uma olhada a sua volta, talvez você passe a enxergar uma pessoa próxima e perceberá que poderia estar contribuindo um pouquinho, sem muito esforço, para que este cidadão, de forma digna, possa gerar uma renda que contribua para levar o sustento a sua família.
Se aquele carnaval tivesse uma ala de coletores de recicláveis talvez teria uma mensagem em seu abre alas com a frase: “mesmo invisíveis, olhai para nós”.