Um comovente depoimento do cinegrafista que trabalhou anos com William Waack, contado por Gil Moura:
“Eu sou preto. Já trabalhei com ele na França, em Portugal, na Espanha, na Índia e em São Paulo. Ele fez piada idiota de preto, ele faz dele próprio, de suas olheiras, da velhice, etc. O que a Globo mais tem são mocinhos e mocinhas de cabelos arrumadinhos, vindos da PUC ou da USP, que são moldados ao jeito da casa. Posso dar o exemplo de quando estávamos gravando uma passagem no meio da rua e sugeri a uma patricinha repórter que prendesse o cabelo devido ao vento. Ela o fez. No dia seguinte, na redação, que aparece no cenário do JN, e comenta: ‘Você viu a matéria ontem?’ e respondi ‘Não’. E então disse: ‘Sobrou uma ponta do cabelo, fiquei parecendo uma empregada doméstica’.
Ao que respondi: ‘Eu sou repórter cinematográfico, cabeleireiro não havia na equipe’. Isto faz parte do cotidiano. Os verdadeiros racistas estão por todas as partes, mas são discretos.
Também tem a famosa, que chegou ao prédio onde vive e uma moradora (namorada de um amigo) segurou o elevador. A famosa negra não agradeceu, e ficou de braços cruzados. O elevador começou a subir. A Jornalista Famosa diz: ‘Você não sabe qual é o meu andar?’ e então a outra responde ‘Sei, mas não sou sua empregada’.
No vídeo, ela é uma ‘querida’, jamais trata mal o entrevistado, se estiver gravando… Voltando ao racista William Waack. Quando íamos para a Índia – eu vivia em Lisboa – fui 3 dias antes para Londres, de onde partiríamos para Dheli.
Eu ia ficar em um hotel, mas o ‘racista’ que havia trabalhado comigo até então somente uma vez em Cannes, convidou-me para ficar em sua casa, onde vivia com esposa e dois filhos, esposa essa a quem ele, preconceituosamente, chamava de ‘flaca’ devido à sua magreza. Eu via isso como uma forma de carinho.
Comemos, bebemos bom vinho e, em nenhum momento, alguém quis se mostrar mais erudito que eu…”