Quem passeia pelo Lago Maracá, nosso cartão postal, muitas vezes não percebe um exemplar arquitetônico que apresenta características preconizadas a 83 anos pelo arquiteto Le Corbusier. Foi em 1929, que ele formulou cinco pontos que se tornariam os fundamentos para a arquitetura moderna.
O prédio da prefeitura de Guaíra, é um desses exemplares arquitetônicos, construídos há décadas, mas que trazem no seu projeto características da herança do movimento modernista, como a independência entre estrutura e vedação, comum nas plantas modernas, permitindo a chamada planta livre, em que os espaços internos do edifício se tornem mais flexíveis e articulados entre si. Uma característica que tem ligação direta com a previsão de mudanças futuras no layout interno da edificação, como ampliações, mudanças de posicionamento de elementos divisores de ambientes, entre outros.
A separação entre estrutura e vedação possibilita, além da planta livre, uma fachada com maior liberdade para posicionamento das esquadrias, onde as paredes não desempenham função estrutural, permitindo também a instalação das janelas em fita, aberturas generosas que ocupam boa parte da fachada do edifício, proporcionando, assim, mais iluminação nos ambientes internos e vistas panorâmicas do exterior.
Um prédio realmente magnífico, um belo equilíbrio entre a arquitetura (racionalidade, funcionalidade e beleza) e a boa engenharia (estrutura). Uma obra digna de ser admirada, mas que infelizmente não tem recebido a devida atenção.
Um patrimônio que sofre de várias patologias a muito tempo, passíveis de serem remediadas, obedecendo critérios técnicos, bem planejados, que aumentem sua vida útil, mas que também resguardem seu valor histórico. O que é mais difícil de tratar, remediar e mesmo aceitar, é a indiferença com que este patrimônio vem sendo tratado ao longo do tempo.
Nesta edição trazemos uma matéria, onde a atual administração pediu ao seu corpo técnico de engenharia, para fazer um relatório da atual situação que se encontra o prédio da prefeitura e das obras que serão necessárias para devolver sua plena funcionalidade.
Assim esperamos. Que ele receba a atenção merecida e assim a expressão “ sem eira e nem beira”, passe a significar apenas a falta de alguns elementos físicos de uma construção e não a falta de renda e posses para se fazer algo.
Diz um ditado popular antigo “quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada”.